“Foi falta de vacina”, diz mãe que perdeu filha de 8 anos para a Covid
Criança faria aniversário nesta quinta-feira (20/1); mãe lembra dos sonhos da pequena Ana Luísa: “Queria ser policial ou confeiteira”
atualizado
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Rio de Janeiro – O dia 20 de janeiro seria de festa pelo 9° aniversário de Ana Luísa. A comemoração, no entanto, deu lugar ao luto depois que a menina morreu de Covid-19. Mãe da menina, a vendedora Valkíria Alice dos Santos ainda não se acostumou coma falta da filha, que perdeu a luta para o coronavírus em dezembro. Para a mãe, ela morreu por falta de vacina.
“Tenho certeza de que se a minha filha tivesse tomado a vacina, a doença não teria sido tão agressiva”, diz a mãe.
Em depoimento à revista Marie Claire, Valkíria contou que a filha faria 9 anos nesta semana, dia 20. “Ela era tudo para mim: além de única filha e neta, minha companheira, melhor amiga e um amor de criança. Uma menina cheia de sonhos, que se divertia fazendo dancinhas no TikTok, dizia querer ser policial ou confeiteira e amava preparar bolo de fubá comigo. Como o pai dela e eu nos separamos há dois anos, nós dormíamos juntas e ela gostava de orar ou cantar em louvor a Deus antes de dormir. Agora, só me resta chorar.”
A infecção atingiu Ana Luísa em novembro, mesmo tendo sido a mais cuidadosa integrante da família: ela tinha uma bolsinha, sempre com máscara e álcool em gel e lavava as mãos o tempo todo. “Não saía de casa sem máscara jamais e tomava banho assim que chegava da escola”, lembra.
No dia 8 de novembro, no entanto, Ana Luísa teve febre e recebeu diagnóstico de dengue. No dia seguinte, mais sintomas, novos exames e a confirmação: testou positivo para Covid-19.
“Depois disso, Ana Luísa fez um raio-X e o exame mostrou que o pulmão dela já estava todo comprometido e a saturação, muito baixa. Foi inacreditável como a doença foi silenciosa. Aconteceu tudo muito rápido. Ana Luísa ficou 15 dias intubada e outros 15 respirando por meio de uma traqueostomia. Enquanto estava intubada, eu conversava com ela, colocava músicas para ela ouvir”, conta a mãe.
Segundo Valkíria, a esperança foi a melhor companhia para enfrentar todos os obstáculos, mesmo nos momentos em que ia chorar no banheiro para que a filha não visse. “Sem vacina, minha única filha, de 8 anos, morreu por covid-19 em dezembro”, diz.
“Os médicos disseram que ela teria de ser intubada. Conversei muito com ela no dia anterior e expliquei tudo o que estava acontecendo. Em nenhum momento ela chorou. Já eu, chorava escondido no banheiro. Antes do procedimento, falei baixinho no ouvido dela que a amava muito e que iria ficar ao seu lado o tempo todo. Ela estava serena e tranquila. Eu, desesperada”, recorda.
“Sempre tive a convicção de que ela ficaria bem e acreditei o tempo todo em sua recuperação. A loja onde trabalho como vendedora, no Guarujá [litoral de São Paulo], me deu todo o suporte para eu poder ficar com ela, já que menores de idade podem estar acompanhados dos pais. Passei 30 dias na Unidade de Terapia Intensiva ao lado de Ana Luísa. Não sai de perto da minha menina nenhum minuto”, completa.
Às vésperas do aniversário, Valkíria conta que a família tenta se reerguer: “Desde então, minha família está destruída. Assim como eu, o pai de Ana Luísa está devastado. Muita gente foi ao enterro, e ali entendi que não tem nada mais devastador do que enterrar uma criança. Foi uma dor indescritível”, revela a mãe, que tatuou o nome da filha em homenagem.