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Fogo destrói Museu Nacional, o mais antigo centro de ciência do país

Inaugurado em 1818, o museu completou 200 anos em junho em meio a uma situação de abandono

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Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte da capital fluminense
1 de 1 Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte da capital fluminense - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Um incêndio de grandes proporções destruiu o acervo do Museu Nacional, na Zona Norte do Rio, na noite desse domingo (2/9). Especializado em história natural e o mais antigo centro de ciência do país, o Museu Nacional completou 200 anos em junho de 2018 em meio a uma situação de abandono.

O Corpo de Bombeiros foi acionado às 19h30 e rapidamente chegou ao local, mas, na madrugada de segunda-feira (3), o fogo permanecia fora de controle. Não houve vítimas. Dois andares foram bastante destruídos, e parte do teto, de madeira, caiu. Segundo o comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio, coronel Roberto Robadey, o prédio não corre risco de desabar. As paredes externas são bastante grossas, diz ele, e, embora antigas, resistiram ao fogo. “Algumas partes internas desabaram”, afirmou.

Segundo informações do canal GloboNews, às 3h da madrigada desta segunda-feira (3), já havia sido iniciado pelos bombeiros o trabalho de rescaldo após apagar os últimos focos do incêndio. A equipe que trabalha no local está resfriando os escombros para, em seguida, fazer uma avaliação do estado do edifício e, finalmente, adentrar o museu.

O comandante dos bombeiros contou também que os dois hidrantes existentes ao redor do imóvel não funcionaram. Por isso, o combate ao fogo começou com atraso. “Tivemos de acionar a Cedae –Companhia Estadual de Água e Esgoto do Rio de Janeiro, que nos forneceu água. Agora, tenho a certeza de que não faltará, mas no início realmente tivemos problema”, afirmou.

Segundo Robadey, o prédio não tinha um sistema adequado de proteção contra incêndios. A legislação que exige esse tipo de estrutura é de 1976, quando o prédio tinha mais de cem anos. Conforme o comandante dos bombeiros, há cerca de um mês representantes do museu procuraram a corporação para conversar sobre a instalação de um sistema de proteção contra incêndios.

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Centenas de bombeiros foram deslocados para tentar controlar as chamas
Colunas de fumaça e fogo eram vistas a distância
O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, ressaltou que é uma “negligência absurda” o ocorrido em 2 de setembro
Questionado sobre a responsabilidade do Ministério na Cultura, Leitão explicou que o órgão fez um levantamento de tudo o que era necessário para a revitalização do espaço
Representantes do museu destacaram que a tragédia serve de alerta para que outras não ocorram
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Intensa fumaça pôde ser vista em todo o complexo do Museu Nacional do Rio de Janeiro

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Centenas de bombeiros foram deslocados para tentar controlar as chamas

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Colunas de fumaça e fogo eram vistas a distância

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O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, ressaltou que é uma “negligência absurda” o ocorrido em 2 de setembro

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Questionado sobre a responsabilidade do Ministério na Cultura, Leitão explicou que o órgão fez um levantamento de tudo o que era necessário para a revitalização do espaço

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Representantes do museu destacaram que a tragédia serve de alerta para que outras não ocorram

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Um dos elementos mais valiosos é o mais antigo fóssil humano encontrado no país, batizado de Luzia, parte da coleção Antropologia Biológica

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Patrimônio perdido é incalculável

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“Não vai sobrar praticamente nada. Todo o prédio foi atingido. Um absurdo o descaso e o abandono que estava esse museu icônico. É como se queimassem o Louvre ou o Museu de História Natural de Londres”, lamentou o vice-diretor do Museu Nacional, Luiz Fernando Dias Duarte. Ele disse acreditar que restarão apenas a biblioteca central e as coleções de botânica e zoologia vertebrada, que estavam em prédio anexo. Bombeiros informaram que uma parte do acervo chegou a ser retirada antes de ser atingida pelo fogo.

“Uma catástrofe. São 200 anos de patrimônio desse país, são 200 anos de memória, tudo se perdendo em fogo por falta de suporte dos governos brasileiros e de consciência da classe política”, afirmou Duarte.

Quando o fogo começou, a visitação ao museu já havia sido encerrada e estavam no prédio quatro vigilantes, que não se feriram. Ainda não se sabe a causa do incêndio.

“Começou por volta das 19h30. Eu moro pertinho e, assim que soube, vim pra cá. É uma pena, acho que não vai sobrar nada”, afirmou o advogado Marcos Antônio Pereira, de 39 anos, enquanto acompanhava o combate ao fogo na noite de domingo. Entre os funcionários do Museu Nacional, o clima era de desespero. “Queimou tudo, perdemos tudo”, repetia uma mulher, aos prantos. Ela não quis se identificar.

Entre os funcionários que, sob lágrimas, acompanhavam o incêndio, estava o bibliotecário Edson Vargas da Silva, de 61 anos, que trabalha há 43 anos no museu. “Tem muito papel, o assoalho de madeira, muita coisa que queima rápido. Uma tragédia. Minha vida toda estava aí dentro”, afirmou. O Zoológico do Rio de Janeiro fica bem próximo do Museu Nacional, mas não foi atingido.

O Museu Nacional, fundado por D. João VI, chegou ao bicentenário com goteiras, infiltrações, salas vazias e problemas nas instalações elétricas. Várias salas estavam fechadas por total incapacidade de funcionar. O espaço que abrigava uma das maiores atrações, a primeira réplica de um dinossauro de grande porte encontrada no país, fechou por causa de uma infestação de cupim.

Para chamar atenção para o problema, o paleontólogo Alexander Kellner, que assumiu a direção do museu em 2018, transformou o antigo quarto de D. Pedro II – fechado havia 20 anos – em escritório. No cômodo antes majestoso, como mostrou o Estado de S. Paulo em abril, havia um lustre quebrado, móveis sem restauração, tábuas de madeira soltas no chão e infiltrações.

Em janeiro, professores de pós-graduação se uniram para pagar a passagem de ônibus da equipe de limpeza. Eles temiam que a sujeira afetasse o acervo, composto de material orgânico, sensível a micro-organismos.

Entre 2013 e 2018, o orçamento do Museu despencou de R$ 500 mil para R$ 54 mil. Segundo Duarte, o museu lutava há anos para obter recursos. Ele lembra que desde 2000, era pleiteado dinheiro para construir anexos que abrigassem as pesquisas que necessitam de preservação em álcool e formol, materiais inflamáveis. Só um anexo foi erguido com verba da Petrobrás.

Por ocasião dos 200 anos, o museu assinou com o BNDES contrato de patrocínio de R$ 21,7 milhões. A verba seria usada para restaurar o prédio.

Museu abriga esqueleto mais antigo das Américas
O Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, reunia algumas das mais importantes peças da história natural do Brasil, como Luzia, o esqueleto mais antigo encontrado nas Américas. Com cerca de 12 mil anos de idade, foi achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974. Trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos e foi uma das primeiras habitantes do país. A descoberta de Luzia mudou as teorias sobre o povoamento das Américas.

Outra peça marcante do Museu Nacional é o meteorito Bendegó, o maior já encontrado no Brasil e que tinha destaque no saguão do prédio. Com 5,36 toneladas, a rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no sertão da Bahia. Está na coleção desde 1888.

Em janeiro de 2018, professores dos cursos de pós-graduação que trabalham no Museu Nacional se uniram para pagar a passagem de ônibus da equipe de limpeza. Eles temiam que a sujeira afetasse o acervo, composto de muito material orgânico, sensível a micro-organismos.

Falta de manutenção
Frequentadora do prédio histórico do Museu Nacional há 21 anos, como estudante, pesquisadora e professora, a antropóloga Adriana Facina disse que desde que lá chegou os funcionários relatam a falta da manutenção que a construção merece. “É um descaso total com a pesquisa, o conhecimento e a cultura. É muito triste ver o prédio em chamas”, disse aos prantos, ao ver as imagens do incêndio.

No prédio há atividades de pós-graduação, pesquisa e extensão da universidade. A biblioteca da área de antropologia social é uma das mais importantes da América Latina, e provavelmente todo o seu conteúdo se perdeu, lamentou Adriana. “Muitas pessoas do Rio têm o museu como única referência, é muito popular, sempre com fila na porta aos fins de semana”, lembrou.

“Para além de toda a pesquisa de ponta realizada, é um grande centro de cultura. Os professores vêm denunciando as péssimas condições, são anos e anos de desinvestimento. Uma falta de responsabilidade do governo com a cultura e a educação. As administrações se esforçam para lidar com aportes sempre menores do que um museu como esse merece. São verbas ocasionais que eles conseguem.”

Temer: “Incalculável perda para o Brasil”
O presidente Michel Temer, em nota divulgada na noite desse domingo (2), lamentou o incêndio no Museu Nacional, destacando o episódio como “incalculável” perda para o Brasil. “Hoje, é um dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos os brasileiros.”

Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão disse que “certamente a tragédia poderia ter sido evitada”. Afirmou ainda que vai começar hoje a fazer o projeto de reconstrução e um levantamento das condições de proteção contra incêndio de todos os museus federais.

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