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“Fiquei sete dias sem dormir”, diz professora acusada injustamente de roubo

Acusada injustamente por um segurança de roubar bandeja de carne em hortifrúti, Francisca Silvana ainda sente medo e insegurança

atualizado

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1 de 1 racismo-hortimais - Foto: Divulgação

Dezoito dias após ser perseguida e acusada injustamente de ter roubado uma bandeja de carne pelo segurança de um hortifrúti na zona sul de São Paulo, a professora Francisca Silvana, 44 anos, ainda sente os impactos do racismo estrutural e torce para que a justiça seja feita no caso.

“Depois que fiz a ocorrência, ainda tinha medo que ele [o segurança] me seguisse, mas consegui sair do estacionamento em segurança. Cheguei ao ponto de ônibus em frente, sentei no meio-fio e chorei por 30, 40 minutos. Liguei para o meu marido e disse que não tinha como voltar para casa. […] Fiquei sete dias sem conseguir dormir, não conseguia comer. A minha geladeira ainda está cheia de verduras e legumes deste lugar que eu não consigo consumir. Eu tentava amenizar pelo meu filho, mas foi muito doído”, relembra, em entrevista ao Metrópoles.

No último dia 7, a professora entrou no estabelecimento, olhou preços de carnes e foi embora sem levar nada, como mostram imagens de câmeras de segurança. Porém, ela foi seguida por um funcionário, que, em depoimento, disse que a viu colocando e retirando produtos da bolsa, o que não aconteceu. O caso é investigado pela Polícia Civil de São Paulo.

 

Natural de Codó, no Maranhão, Francisca é casada, mãe de dois filhos e reside em São Paulo há 12 anos. Ela diz que frequenta o estabelecimento desde que mora na cidade e nunca havia passado por algo semelhante.

“Eu voltava de uma loja onde comprei o presente [de Dia dos Pais] do meu marido, mas, por causa da demora do transporte público para eu voltar para casa, entrei lá para ver os preços. É praxe deles fazer promoção de carne nos fins de semana. Quando entrei, ele [o segurança] estava lá fora, depois ele entrou e organizou coisas perto de mim. Eu fico pensando: por que ele me escolheu? Eu não estava em outro estado, em outro bairro, e sim, em um lugar que frequento há 12 anos”, explica.

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A professora olha as carnes e analisa os preços
Depois, sai sem levar nada, mas é seguida por um segurança até a porta do estabelecimento
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Francisca entra no supermercado, pega uma cesta e vai até a seção de carnes

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A professora olha as carnes e analisa os preços

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Depois, sai sem levar nada, mas é seguida por um segurança até a porta do estabelecimento

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Ao ser acusada, Francisca começou a filmar o que o segurança falava, quando ele colocou a mão para não ser gravado e chamou a polícia.

“Não satisfeito, ele chamou a polícia para mim. Qual o limite de uma pessoa dessas? E eu não podia sair dali, pois não poderia dar margem de que eu tinha de fato levado algo. Precisava me manter ali, mesmo com muito medo”, disse Francisca.

A professora rememora os momentos que passou depois do ocorrido no hortifrúti, inclusive o fato de ter conversado com a mãe e o filho dias depois do que aconteceu. Ela receia que o episódio se repita em outras situações e pontua a violência mais acentuada em abordagens a homens.

“É um marco, não tem como esquecer. Ainda estou processando tudo que me aconteceu. Penso se tive coragem ou sobrevivência. Passado esse momento, vem o medo, o desespero, mas isso tudo é um pedaço. Fico pensando que estarei muito vulnerável se ocorrer de novo. […] Meu filho tem 12 anos e decidiu que quer usar o cabelo ‘black’. Com isso, lembro que as abordagens com homens são muito piores”, teme.

A pedagoga agradeceu às pessoas que tomaram conhecimento do caso e prestaram apoio a ela, ressaltando a coragem que lhe foi atribuída.

“A rede de apoio que estou tendo é muito grande, e as pessoas falam primeiramente na minha coragem. Para me defender na hora e ir para a mídia. Brinco que sou dos bastidores, mas pela função social que tem o meu trabalho, vejo esse movimento e a urgência de se tratar essas questões”, declara.

Investigação

O caso é investigado pelo 16º DP (Vila Clementino). A advogada que representa Francisca, Renata Melocchi Alves, afirmou que entrará com um pedido de indenização por danos morais contra o segurança. A defesa também espera que o homem responda por, pelo menos, três crimes.

“Esperamos que ele responda por calúnia, injúria racial e constrangimento ilegal, mas será a autoridade policial quem definirá quais os tipos penais que constarão no inquérito policial, após análise das provas lá inseridas. Juntamos no pedido de abertura de inquérito policial todas as imagens das câmeras de segurança do HortiMais, que foram fornecidas pelo estabelecimento após liminar concedida na Justiça”, diz.

Ainda de acordo com a defesa de Francisca, na esfera cível será ajuizada uma ação de indenização por danos morais contra o estabelecimento. O objetivo é que a condenação tenha tripla função: punitiva; reparatória, uma espécie de compensação pelo que a professora sofreu; e preventiva, para coibir a prática de outros atos ilícitos dessa natureza com quaisquer outras pessoas.

No perfil no Instagram, a Rede HortiMais publicou uma nota de repúdio e informou que o segurança foi desligado da empresa.

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