Fim do horário de verão é aceno de Bolsonaro à bancada evangélica
Depois de 54 decretos que tentaram regularizar a medida, a norma, em vigor desde 1931, deixará de existir devido a “transtornos” à população
atualizado
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Queridinho por uns e detestado por outros, o horário de verão chegará ao fim ainda este ano. O projeto que encerra o horário diferenciado foi apresentado em março pelo deputado federal João Campos (PRB-GO) ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), que aceitou a proposta do parlamentar. Desde então, com o enfraquecimento do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), Campos vem sendo cotado como possível substituto.
Com as ameaças públicas lançadas pelos parlamentares de parar de apoiar o governo, Bolsonaro viu na possibilidade uma forma de fazer um aceno ao grupo, no qual Campos tem bastante influência. Paralelamente, fez um esforço em dar tom técnico para a medida.
De acordo com João Campos, é necessário acabar com essa norma devido aos “problemas de saúde”, “transtornos” e “desconfortos” que o horário pode causar à população. Para ele, os brasileiros se incomodam com o decreto em razão de terem de acordar mais cedo e conviverem com a “sonolência, a fadiga e a irritabilidade por quatro meses”.
Ao anunciar pela rede social Twitter o fim do horário do verão, Bolsonaro afirmou que tomou a decisão baseado em análises de profissionais. “Após estudos técnicos que apontam para a eliminação dos benefícios por conta de fatores como iluminação mais eficiente, evolução das posses, aumento do consumo de energia e mudança de hábitos da população, decidimos que não haverá Horário de Verão na temporada 2019/2020”, decretou.
Segundo levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o ato economiza de 4% a 5% de energia no período em vigor. Campos, no entanto, avalia que isso não é o suficiente. “Os transtornos causados são muito maiores do que a energia economizada“, comentou.
Para o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Manoel Rangel, “não há ciência” sobre o horário de verão para os estudos da meteorologia. O especialista acredita que a medida não tinha “razão racional nenhuma” e que era uma “bobagem”.
“Outra reclamação recorrente da população diz respeito à falta de segurança durante a madrugada, quando muitos já estão a caminho do trabalho ou da escola”, salientou. O parlamentar alega que o decreto “aumenta a vulnerabilidade das pessoas” que transitam sem a luz solar.
Esta não foi a primeira vez que João Campos apresentou a ideia. Em 2011, o parlamentar levou o projeto ao Congresso Nacional, mas a proposta não prosperou no legislativo.
A popularidade
De acordo com recente pesquisa do ministério de Minas e Energia, 53% dos brasileiros são contra a existência do horário de verão. Segundo a pasta, desde 2010, a medida já economizou R$ 1,4 bilhão aos cofres públicos. De 2010 a 2014, foram poupados R$ 835 milhões nas contas de luz dos contribuintes.
Em nota, o ministério de Minas e Energia afirmou que, devido a mudanças de hábitos de consumo e da configuração sistêmica do setor elétrico brasileiro, foi solicitado pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) um novo estudo sobre o caso.
“Esses estudos indicaram que o horário de verão deixou de produzir os resultados para os quais essa política pública foi formulada, perdendo sua razão de ser aplicado sob o ponto de vista do setor elétrico”, explicou a pasta, em nota.
Um estudo realizado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) registrou a queda no valor economizado entre os anos de 2013 e 2016, caindo de 405 milhões para R$ 147 milhões, reduzindo a 63%.