“Filme de terror”: pai de criança morta em toboágua clama por justiça
Família de Davi Lucas, de 8 anos, aponta negligência do parque aquático em Caldas Novas. “Tão simples interditar! Por quê?”, questionou pai
atualizado
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Goiânia – Amigos e parentes do estudante Davi Lucas de Miranda, de 8 anos, estão revoltados com a morte dele. O garoto caiu de um toboágua em manutenção em Caldas Novas (GO), na tarde do último domingo (13/2), e não resistiu aos ferimentos.
“Parece um filme de terror. Tão simples interditar! Por quê? Qual o público-alvo do parque? Criança e adolescente. O parque tem de garantir a segurança”, lamentou, aos prantos, o técnico de redes Luciano Miranda, de 43 anos, pai de Davi. Ele conversou com o Metrópoles por telefone.
A criança conseguiu subir em uma atração do Di Roma Acqua Park conhecida como “Vulcão”, porque o local não estava totalmente isolado. Era possível ter acesso ao brinquedo passando apenas por uma fita zebrada, segundo a perícia. A entrada não estava bloqueada.
O brinquedo é composto por quatro toboáguas, mas três deles estavam desmontados para manutenção. Davi escorregou por um dos toboáguas incompletos e caiu de uma altura de 13,8 metros. O menino chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital poucas horas depois.
Foi muito rápido
Ainda muito emocionado com a perda do filho, Luciano, que é morador de Conselheiro Lafaiete (MG), relatou ao Metrópoles como foi o momento do acidente.
Por volta das 16h, Davi se afastou dizendo que ia usar o banheiro, enquanto seu pai ficou aguardando com o outro filho, de 1 ano. A família sempre visitava Caldas Novas nas férias, por isso o menino conhecia o parque “como a palma da mão”, conforme narrou Luciano.
“Quando eu vi que estava demorando, fui procurar ele. Aí foi anunciado pelo microfone. ‘Pai da criança com roupa tal, de aproximadamente 8 a 9 anos, ir urgente na pastelaria’. Eu pensei: ‘Meu filho. Aconteceu alguma coisa’.”
Foi aí que Luciano se deparou com uma cena desesperadora: uma grande quantidade de pessoas, uma ambulância do Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) e o filho sendo socorrido por uma equipe médica.
“Foi muito rápido. Eu aflito com o bebê no carrinho, várias pessoas me consolando, me explicando o que estava acontecendo, que não tinha bloqueio nesse ‘Vulcão’. Minha esposa chegou e entrou em pânico. Fiquei exclusivamente do lado do meu filho”, contou o técnico de redes.
Veja fotos do parque e de Davi:
Viagem dos sonhos
A mãe de Davi, a autônoma Jaqueline Rosa, de 38 anos, também estava no clube. A família tinha chegado de Conselheiro Lafaiete, a 800 km de distância, no dia anterior.
Caldas era um destino bastante conhecido. Davi visitou a cidade turística em todos os seus 8 anos de existência. Ele dizia que, quando fosse adulto, iria morar ali.
“Ele sabia nadar como nunca. Ele era louco por água. Ele tinha um carinho muito especial por essa cidade. De agosto para cá, ele só falava dessa viagem. Eu perguntei: ‘Quer ir para onde meu filho?’. Ele falou: ‘Caldas Novas, papai’”, relembra Luciano.
Davi era conhecido por ser comunicativo e obediente. Era fã de super-heróis e a última festa de aniversário dele foi temática do Homem-Aranha.
Justiça
O Grupo Di Roma, responsável pelo parque, chegou a divulgar que a atração em obras era completamente fechada com tapume e sinalizada para reformas e melhorias.
No entanto, a perícia realizada no parque após o acidente mostrou que parte do isolamento era feito apenas com fita zebrada. Além disso, não havia placas de sinalização.
“Quero justiça! Vou até a última instância. Quero punição, quero o certo. Não vou deixar barato. Não quero que outros pais sofram o que estou sofrendo aqui. A gente está sofrendo demais”, defendeu Luciano Miranda.
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. Dois funcionários do Di Roma prestaram esclarecimentos na Delegacia de Polícia na segunda. Para esta terça, estão previstos quatro depoimentos de testemunhas. A corporação também requisitou imagens do circuito de câmeras de monitoramento.
Silêncio
O Metrópoles questionou o Grupo Di Roma sobre a falta de sinalização e bloqueio na área em manutenção do parque, mas a empresa informou que “irá se abster de novos pronunciamentos até a conclusão das investigações”.
Ainda na segunda, o grupo divulgou uma nota na qual lamenta e presta profunda solidariedade à família da criança que faleceu.
No comunicado, consta a informação de que o complexo é vistoriado com rigor pelo Corpo de Bombeiros e possui todos os alvarás e licenças necessários.
“Em 50 anos de história e tradição, nunca o Grupo Di Roma sofreu uma tragédia dessa magnitude. (…) Estamos consternados, colaborando com as autoridades, oferecendo total suporte à família nesse momento de luto”, escreveu a empresa na nota.