FI-FGTS elege presidente citado em delações da Odebrecht e JBS
O fundo usa parte do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço para aplicar em projetos de infraestrutura
atualizado
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O comitê de investimento do FI-FGTS (fundo que usa parte do FGTS para aplicar em projetos de infraestrutura) elegeu nesta quarta-feira (31/5), para presidente, o jornalista Luiz Fernando Emediato, ligado à Força Sindical. Ele chega ao cargo, porém, com uma polêmica no currículo: foi citado em delações da Odebrecht e da JBS.
Emediato é acusado de receber propina para liberar recursos do FI-FGTS para o braço de transportes do grupo Odebrecht e para beneficiar o grupo J&F no período em que trabalhou no Ministério do Trabalho.
Depois de registrar prejuízo histórico em 2015, o FI-FGTS passa por reformulação para melhorar os processos de escolha dos projetos que recebem dinheiro do fundo, formado com recursos dos trabalhadores. O balanço de 2016 ainda não foi publicado. No ano anterior, o fundo fechou com a menor rentabilidade da história, negativa de 3%, com perda de R$ 900 milhões no patrimônio.
O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Junior, conhecido como BJ, e o ex-presidente da Odebrecht Transport Paulo Cesena disseram, em delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato, que houve pagamento de propina para que o braço de transportes do grupo baiano fosse capitalizado pelo fundo.
O intermediário para a liberação dos recursos do FI-FGTS foi o ex-deputado federal Eduardo Cunha, que teria cobrado propina de 1% do valor da operação, segundo os delatores.
O ex-deputado justificou o valor do suborno de R$ 4 milhões dizendo que teria de repassar dinheiro a Fábio Cleto, na ocasião vice-presidente de Loterias da Caixa, e para três conselheiros do FI-FGTS, entre eles o jornalista Emediato. Após o pagamento do suborno, o aporte de R$ 429 milhões foi liberado.
Procurado, Emediato disse que nunca votou a favor ou contra nenhum projeto da Odebrecht no fundo de investimento. “Logo, não tenho nada a ver com isso”, afirmou.
Esquema
Ligado ao ex-presidente da Câmara, Cleto apontou, na delação premiada, um esquema de corrupção para que as empresas conseguissem recursos do FI-FGTS. Com o depoimento dele, o fundo, criado no governo Lula, entrou de vez na mira da Lava Jato.
O banco estatal, responsável pela gestão do fundo, abriu uma sindicância para apurar aportes de R$ 4,2 bilhões às empresas citadas na delação premiada de Cleto. Por meio do FI-FGTS, foram desembolsados R$ 3,2 bilhões em sete operações de financiamento ou participação societária.
Além da Odebrecht, o FI-FGTS também foi alvo de denúncias do empresário Joesley Batista, dono da JBS. Em sua delação, ele disse que pagou R$ 90 milhões a Cunha para liberar recursos do fundo. O ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F Ricardo Saud disse, na sua delação premiada, que Emediato recebeu R$ 2,8 milhões para influenciar favoravelmente a empresa enquanto membro do conselho deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Emediato disse que Saud o procurou enquanto ele trabalhava no Ministério do Trabalho. “Incomodado com a fiscalização dos frigoríficos da JBS, ele realmente pediu ao MTE uma fiscalização ‘rigorosa’ dos demais frigoríficos e em seus delírios propôs ‘pagar’ aos fiscais por isso. Ninguém o levou a sério”, afirmou, completando que não era prioridade, naquele momento, fiscalizar o setor.
“Nós mudamos a gestão do fundo e considero que, a partir de agora, será difícil políticos usarem nossos nomes para assustar empresários. Assim espero”, completou.Procurada, a Caixa esclareceu que não participa do processo de escolha do presidente, que compete aos membros do comitê. Eles, por sua vez, são designados pelo conselho curador do FGTS.