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Feminicídio: 40% das mulheres assassinadas no RJ foram atacadas a golpes de faca

Pesquisa aponta que em 70% dos feminicídios ocorridos no estado houve “nítida crueldade do autor ao infligir um sofrimento maior à vítima”

atualizado

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1 de 1 Agressão - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Rio de Janeiro – Levantamento feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) indica que quatro em cada 10 vítimas de feminicídio no estado do Rio de Janeiro foram mortas por golpes de faca, facão ou canivete em 2020. Ao todo, das 78 vítimas, 52 mães, sendo 34 delas com filhos menores de idade, o que equivale a 43,6%.

O autor do crime, em 61 dos 78 registros, foi o próprio companheiro (53,8%) ou o ex-companheiro (24,4%), segundo os dados divulgados na segunda-feira (18/10). Casos semelhantes  de feminicídio seguem sendo notificados este ano, como ocorreu em 11 maio com Cátia da Silva Rosa, de 52 anos, na comunidade Carobinha, em Campo Grande, zona oeste do Rio.

Ela foi morta a facadas pelo companheiro Luciano dos Santos Rodrigues, de 39 anos. O instrumento usado para este tipo de crime não surpreende a presidente da OAB Mulher RJ, Rebeca Servaes. Em entrevista ao Metrópoles, ela destaca que a arma para o feminicídio costuma ser algo acessível e que encontra-se dentro da casa da vítima.

“Muitas vezes, a pessoa não tem arma de fogo, então, como é um crime que ocorre em grande parte dentro do ambiente doméstico, acabam utilizando uma faca ou facão. A gente diz que a rua é perigosa para todos, mas a casa é perigosa para a mulher”, diz Servaes.

Segundo o relatório feito pelo IPS, as modalidades utilizadas para o feminicídio – faca, facão ou canivete, asfixia, paulada, pedrada ou martelada e outros tipos de objeto, fogo, socos e pontapés -, somadas revelam que, em 70,4% dos feminicídios ocorridos no estado em 2020, houve a “nítida crueldade do autor ao infligir um sofrimento maior à vítima”.

Fim do relacionamento

Diretora de Mulheres da OAB-RJ, Marisa Gaudio acrescenta que a motivação para crimes contra a mulher se dá, na maioria das vezes, por uma relação de poder.

“Acontece quando o homem não aceita o fim de uma relação, acha que ela [a mulher] é propriedade dele, ou não aceita que ela tenha uma ascensão profissional, entre outros motivos”, destaca.

O caso de Nádja Trindade, que morava no bairro do bairro Anil, zona oeste do Rio, é um exemplo de feminicídio que ocorreu porque o ex-companheiro não aceitou o fim do relacionamento. Inconformado com o término, o ex-marido Humberto Gonçalves Trindade, 47 anos, foi à casa da vítima e a matou com golpes de faca. Ele foi detido por policiais enquanto tentava fugir e confessou o crime.

Em Três Rios, interior do Rio de Janeiro, uma mulher, de 35 anos, também foi morta a golpes de faca. Cristiane da Silva foi encontrada morta, dentro de casa e com a arma do crime sobre seu peito. O companheiro, de 41 anos, deu 61 facadas na mulher e, em seguida, tentou fugir. O homem foi preso na Rodoviária Novo Rio, na capital do estado.

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Catia foi assassinada pelo ex-companheiro a facadas dentro de casa, no Anil
Cristina foi executa pelo namorado
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Nadja Trindade foi morta a facadas na zona oeste do Rio

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Catia foi assassinada pelo ex-companheiro a facadas dentro de casa, no Anil

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Cristina foi executa pelo namorado

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Convívio intenso

De acordo com a advogada criminalista Luiza Duarte, a convivência contínua imposta pela pandemia da Covid-19 resultou em uma alta no número de casos de violência contra a mulher. Os números, no entanto, não refletem esse aumento.

“O fato de os números serem menores do que o registrado em 2019 é muito doido. Provavelmente, o que aconteceu foi uma dificuldade em se deslocar até uma delegacia ou conseguir denunciar por outros meios. Houve uma subnotificação”, afirma.

O feminicídio é classificado, genericamente, como o ato de matar uma mulher apenas pelo fato de ser mulher. Desde 2015, com a lei nº 13.104, é qualificado como homicídio doloso.

Conscientização

A zona oeste do Rio foi apontada pelo levantamento como a região que mais concentra vítimas de crimes sob a Lei Maria da Penha. Para a delegada Giselle do Espírito Santo, da Delegacia de Atendimento à Mulher – Jacarepaguá (Deam/Jpa), isso se explica pela maior conscientização de mulheres nestas regiões.

“A violência contra a mulher é algo enraizado em nossa sociedade estando presente em todas as camadas sociais. Por isso, é muito importante esse trabalho de conscientização para que as mulheres conheçam seus direitos, assim como reforçar a importância da denúncia para que as vítimas tenham coragem e se sintam seguras em denunciar os agressores”, afirma.

Em relação à violência, a delegada assegura que a crueldade empregada nos atos revela que um sentimento de posse agregado à perda do controle. “Geralmente isso ocorre pelo rompimento do relacionamento ou pelo fato da vítima não se submeter mais aos comandos do autor – denota a perda de domínio sobre a vítima -, acarretando em uma necessidade de infligir mais crueldade como forma de reafirmar sua dominação.”

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