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FBI teve acesso a fotos e mensagens de espião russo preso no Brasil

Informações coletadas pela polícia dos EUA constam em denúncia contra suposto espião russo Sergey Vladimirovich Cherkasov

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Sergey Cherkasov
1 de 1 Sergey Cherkasov - Foto: Reprodução

O FBI (Departamento Federal de Investigação, em português), equivalente à Polícia Federal dos Estados Unidos, descobriu novas evidências de que Sergey Vladimirovich Cherkasov, 37 anos, de fato trabalhava como espião para o governo russo. O estrangeiro se passava por brasileiro e se apresentava como Viktor Muller Ferreira, mas foi preso em abril de 2022 depois de o serviço de inteligência da Holanda passar informações ao governo brasileiro sobre a identidade falsa do russo.

Após ser pego no Brasil, a Polícia Federal apreendeu equipamentos eletrônicos de Cherkasov, incluindo o celular, um computador e vários pen-drives. Nos dispositivos, além de mensagens e documentos, havia fotos e um mapa que apontavam a localização de outros equipamentos eletrônicos escondidos em um parque no município de Cotia (SP), nos arredores da cidade de São Paulo, onde morava Cherkasov.

As autoridades brasileiras recuperaram o equipamento escondido e o enviaram aos EUA. A partir dos arquivos do suposto espião, o FBI descobriu fotos dele com roupas militares na Rússia, troca de e-mails em que ele passa informações a superiores e documentos que comprovam sua identidade falsa de brasileiro. As evidências constam em denúncia apresentada pelo Departamento de Justiça dos EUA em 24 de março.

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Foto mostra entrada de um parque
Foto mostra estrutura
Visão de dentro de local onde estava escondido esquipamento
Rachadura onde estava escondido equipamento de russo, este seria o "dead drop"
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Mapa que estava em equipamento apreendido de Sergey

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Foto mostra entrada de um parque

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Visão de dentro de local onde estava escondido esquipamento

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Rachadura onde estava escondido equipamento de russo, este seria o "dead drop"

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“Com base em meu treinamento e experiência, aprendi que espiões usam sofisticados equipamentos de comunicação secreta para esconder sua identidade e comunicação”, explicou o agente do FBI no documento que detalha as investigações, “eles também evitam viajar com esses equipamentos, para evitar que sejam apreendidos”. Todas as citações ao documento do órgão americano na reportagem estão em tradução livre.

O agente do FBI, que teve o nome tarjado no documento publicado no site do Departamento de Justiça dos EUA, detalha que espiões usam locais denominados “dead drops” para trocar equipamentos. Trata-se de passar um determinado item sem que haja comunicações entre duas pessoas, basta deixar o objeto em um local ermo determinado que apenas as duas pessoas conhecem.

“Quem nós fomos e onde estávamos”

No Samsung Galaxy Note 20 de Cherkasov, o FBI notou que o russo fez mais de 90 ligações com um contato específico que estava na Rússia. Os investigadores, então, descobriram um perfil desse interlocutor em uma rede social russa chamada Vkontakte, semelhante ao Facebook.

Nesse perfil, há um álbum de fotos cujo título — traduzido do russo para o português — é “Quem nós fomos e onde estávamos”. Nele, Sergey Cherkasov aparece em algumas fotos usando trajes militares, indicando que ele tem ligações com as forças armadas do país europeu. Uma outra foto, postada em 2008, mostra um grupo de amigos. Entre os perfis marcados consta o nome “Sergey Cherkasov”, em cirílico.

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Sergey com roupas militares em foto de rede social russa
Sergey foi marcado em foto com amigos
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FBI encontrou fotos de Sergey com roupas militares

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Sergey com roupas militares em foto de rede social russa

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Sergey foi marcado em foto com amigos

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As autoridades dos Estados Unidos ainda descobriram, em um processo judicial, um vídeo em que Cherkasov aparece com sua mãe no aeroporto de Moscou. No vídeo, Sergey fala russo e uma mulher o descreve como “seu filho amado”.

três fotos lado a lado de homem branco com camiseta branca
FBI conseguiu vídeo que mostra Sergey em restaurante no aeroporto de Moscou com a mãe

Mensagens com superior

O FBI ainda recuperou, em um dos pen-drives, mensagens do suposto espião com o que seria seu superior hierárquico. Em uma delas, Sergey descreve o plano de pagar alguém que pudesse fornecer um comprovante de residência falso para que conseguisse cidadania de Portugal. Ter a cidadania europeia era um dos requisitos para, naquele momento, conseguir um estagio no Tribunal Penal Internacional.

“Passei nas verificações de segurança do TPI [Tribunal Penal Internacional] e fui aceito para o cargo de analista júnior […]. Os documentos para a cidadania estão 80% concluídos e prontos para aplicação Instituto de Naturalização de Portugal. A única coisa que falta é o comprovante de residência. Consegui encontrar um vendedor que aceitou receber o pagamento em dólar”, afirmou o russo.

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Em outra mensagem, Cherkasov afirma que conseguiu um contato no Brasil que o ajudou a falsificar os documentos para conseguir a cidadania brasileira e esconder a origem do dinheiro que usou para comprar o apartamento no Brasil, o que poderia ser enquadrado como lavagem de dinheiro. Ele informa que esse contato pode ajudar outros agentes da Rússia e que pagou a falsificadora com um colar de 400 dólares da Swarovsky, conhecida marca de joias de luxo.

Em outros e-mails, o homem suspeito de atuar como espião teria acertado como receber pagamentos, como fraudar o visto para entrar nos Estados Unidos, e transmite informações sobre o posicionamento de “contatos” dos EUA sobre a Guerra da Ucrânia, da qual a Rússia é um dos países em confronto.

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“Usei meus contatos […] para descobrir o que a comunidade acadêmica, assessores políticos e analistas pensam sobre o recente reforço militar russo perto da fronteira ucraniana”, reportou Sergey. Depois disso, o russo passa a detalhar informações específicas sobre movimentações militares. O Departamento de Justiça o acusa por fraudar o visto de entrada nos EUA, documentos entregues em bancos nos EUA, bem como em universidades, empresas de seguro e por falsidade ideológica contra o estado americano de Virgínia.

Atualmente, Sergey está detido no Presídio Federal de Brasília.

Linha do tempo de Sergey Cherkasov:

  • Nasceu em Kaliningrado, na Rússia, provavelmente em 11 de setembro de 1985
  • Em 13 de junho de 2010, veio para o Brasil pela primeira vez
  • Em 30 de setembro de 2010, obteve documentos falsos no Brasil, incluindo certidão de nascimento, carteira de identidade e carteira de motorista no nome de Viktor Muller Ferreira; ele usou esses documentos para conseguir a cidadania no país e passaporte brasileiro
  • Em 16 de abril de 2011, veio para o Brasil pela segunda vez
  • Em outubro de 2017, conseguiu, como brasileiro, um intercâmbio para os EUA
  • Entre 2018 e 2020, fez mestrado na Universidade John Hopkins, em Washington
  • Em 31 de maio de 2022, viajou para Haia, na Holanda, usando o passaporte brasileiro, para estagiar no Tribunal Penal Internacional, onde foi preso e deportado de volta ao Brasil
  • Em 3 de abril de 2022, é preso em São Paulo por falsidade ideológica, e terminou condenado a 15 anos de prisão na Justiça Federal
  • Em setembro de 2022, o Governo da Rússia pede extradição, sob a alegação de que ele é procurado no país por tráfico de drogas
  • Em janeiro de 2023, é transferido para o Presídio Federal de Brasília, de segurança máxima
  • Em 17 de março de 2023, o STF autoriza a extradição para a Rússia, mas apenas depois do fim das investigações que ainda responde no Brasil, por espionagem, lavagem de dinheiro e corrupção
  • Em 24 de março de 2023, é denunciado nos EUA

A reportagem entrou em contato com a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil e com a Embaixada da Rússia no Brasil para comentar o caso de Sergey. O espaço segue aberto para manifestações futuras.

A Defensoria Pública da União (DPU), que representou Cherkasov no processo de extradição aprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que não pode comentar no nome dele em outros processos em que é acusado.

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