Família em Goiás constrói vida de luxo vendendo notas frias de bebidas
Nove firmas de fachada faturaram R$ 360 milhões com venda de notas falsas para esquentar bebidas roubadas. Sonegação chega a R$ 100 milhões
atualizado
Compartilhar notícia
Goiânia – Em pouco mais de um ano, o estilo de vida de uma família em Goiânia mudou drasticamente. Carrões, casas de luxo em condomínios fechados e saldos milionários no banco passaram, de repente, a fazer parte da rotina de um grupo familiar investigado pela Polícia Civil.
A suspeita é de que tudo foi financiado por um esquema de venda de notas frias para comércios de bebidas que sonegou mais de R$ 100 milhões em impostos aos cofres públicos. A diferença no estilo de vida da família mudou tanto que motivou denúncia anônima ao Fisco estadual, vinculado à Secretaria da Economia de Goiás.
E na manhã desta terça-feira (23/2), após investigação conjunta, a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Ordem Tributária (DOT) deflagrou a operação Último Drink, que cumpriu 20 mandados de busca e apreensão e 12 mandados de prisão temporária para desbaratar o esquema.
Entraram no radar da apuração da polícia nove empresas que foram abertas em Goiânia com registro de distribuidoras de bebidas. Todas, segundo a investigação, são vinculadas ao mesmo grupo familiar e tinham arrecadação incompatível com a dimensão do negócio. Elas faturaram, juntas, desde o início das atividades, R$ 360 milhões.
A suspeita surgiu, a princípio, em razão dessa incompatibilidade. Descobriu-se, depois, que, na verdade, as empresas não vendiam bebidas, mas notas frias para empresas de outros estados, com o intuito de “esquentar” ou legalizar cargas de bebidas roubadas e até de bebidas destiladas falsificadas. Tudo, com o auxílio de escritórios de contabilidade, também investigados.
Esquema nacional
As notas frias chegaram a empresas revendedoras de bebidas de estados, como Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e São Paulo. Era feita a simulação da venda das bebidas em outros estados, aproveitando-se de alíquotas de impostos menores que as de Goiás, e as empresas de fachada criadas em Goiânia cobravam em torno de 5% do valor informado em cada nota emitida.
O patrimônio da família cresceu rapidamente, segundo o delegado da DOT, Rodrigo Mendes. Nas buscas realizadas nesta manhã, a polícia apreendeu nas residências dos suspeitos uma Dodge RAM, uma BMW, uma Toyota Hilux e um Honda Civic. Encontraram, ainda, mais de R$ 40 mil em espécie, quatro armas de fogo, também em situação ilegal, e mais de 100 munições.
Sangria
A sonegação de impostos é um fantasma que assola o Brasil. Levantamento feito no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) aponta que o País deixa de arrecadar mais de R$ 417 bilhões por ano com tributos, devido às sonegações de empresas.
Ações e denúncias contra empresas e grupos dos mais diferentes portes são realizadas constantemente pelos governos com o objetivo de cessar tamanha sangria de recursos de deixam de entrar nos cofres públicos. O foco é tanto na fiscalização interna dos estados quanto nas rodovias, divisas e fronteiras.