Família de SP desviou remédios para câncer e revendeu à ONG no ES
Os remédios de alto custo, comprados com dinheiro público, eram revendidos pela quadrilha para uma ONG em Belo Horizonte
atualizado
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Uma família é investigada pelo comércio ilegal de remédios de alto custo furtados de hospitais e centros de distribuição, no interior de São Paulo. Os medicamentos desviados eram revendidos a uma ONG no Espírito Santo.
O Fantástico deste domingo (21/1) revelou que os remédios de alto custo desviados eram comprados com dinheiro público. Os medicamentos alvo da quadrilha eram para tratamento de pacientes com doenças graves, como o câncer.
“Constatou-se que 79 caixas de um medicamento destinado principalmente ao tratamento de câncer havia sido retirado do estoque”, disse Fernando Bardi, diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo interior 2, à reportagem da TV Globo.
A polícia descobriu que a quadrilha atuava havia pelo menos um ano no furto de medicamentos. Os investigadores sabem que 12 pacotes partiram do aeroporto de Viracopos, em Campinas. Como os remédios não tinham nota, as encomendas eram declaradas como doação.
Gleidson e Julianna dirigem uma ONG de apoio a pessoas com dificuldade de locomoção na cidade de Serra, no Espírito Santo. Ela, que é assessora parlamentar, aparece como sócia da Saúde e Vida Comércio e Representações, uma empresa de produtos hospitalares.
Funcionário suspeito
Em 4 de janeiro, início da investigação, surgiu o primeiro suspeito: o funcionário José Carlos dos Santos. “Ele saiu naquele dia com a nossa presença. E, mesmo assim, ele teve a ousadia de sair dali com os remédios, mesmo a polícia estando no local”, contou Elton Costa, delegado da Polícia Civil.
Logo depois que ele saiu, Gabriela Carvalho, enteada de José Carlos, postou em redes sociais que estava no aeroporto de Viracopos, em Campinas, despachando uma encomenda.
“Nós fomos na casa dessa moça. E encontramos inclusive alguns dos remédios, um deles na geladeira, que o remédio tinha mesmo de ser mantido sobre refrigeração, e alguns guardados lá pela casa. Tornou-se inequívoca a participação”, completou o delegado.
Imagens exclusivas exibidas pela TV Globo mostram Gabriela e o marido, Michael Carvalho, num escritório de despacho de mercadoria de uma companhia aérea. O casal carregava medicamentos que José Carlos tinha retirado do depósito do posto de distribuição. Na embalagem dos remédios, a indicação: “proibida a venda”.
José Carlos; a mulher dele, Maria do Socorro; e Gabriela Carvalho acabaram presos. Michael não foi encontrado pela polícia. No depoimento, Maria do Socorro, que dizia trabalhar fazendo faxinas, confessou a participação no crime.
As investigações apontaram que Michael controlava a venda dos medicamentos furtados. O Fantástico teve acesso à troca de mensagens dele mandando pedidos para Maria do Socorro. Ela repassava para José Carlos.
Com o dinheiro, os dois casais mudaram o padrão de vida. José Carlos e Maria do Socorro gostavam de postar nas redes sociais as viagens. “O Michael, acreditamos que seja o cabeça do esquema, que foi ele que possibilitou a criação do mercado ilegal”, detalhou o delegado.
No celular Maria do Socorro, foram encontrados comprovantes de depósito feitos na conta da Saúde e Vida e na conta da própria Julianna.
“Existe um liame entre todos, que liga todos. Seja por troca mensagem por celular, seja por transação financeira”, destacou o delegado.
A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo suspendeu o pagamento de José Carlos e abriu processo para repor o estoque de medicamentos. Além disso, o departamento regional de Campinas, onde ficavam os remédios, mudou os protocolos de segurança e acesso.