Família de Marielle pede condenação de réus como “resposta ao mundo”
Nesta quarta, está na pauta do 4º Tribunal do Júri do RJ a análise das condutas dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz
atualizado
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Horas antes de o 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro julgar, nesta quarta-feira (30/10), os assassinos confessos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, familiares das vítimas, entre eles a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, fizeram um protesto na porta do fórum.
“A dor que nós sentimos não terminou em 2018 (ano do duplo homicídio). A gente sente essa dor até hoje, e não vai passar com a condenação deles, sempre vai ter esse espaço. Mas hoje eu espero que eles paguem pelo que fizeram com a gente, espero que a condenação deles seja exemplar, que seja à altura do que fizeram, porque não termina hoje, a gente ainda tem muita coisa a fazer, a caminhar e ainda tem mandantes, tem muita coisa ainda”, afirmou Agatha Arnaus, viúva de Anderson.
Durante o julgamento, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) vai pedir ao Conselho de Sentença do 4º Tribunal do Júri a condenação máxima para os executores do crime. O Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado argumentará para que a pena dos réus Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz chegue a 84 anos de prisão. Para o Tribunal do Júri, foram selecionadas 21 pessoas comuns. Deste grupo, sete serão sorteadas na hora para compor, de fato, o júri.
O julgamento dos assassinos ocorre mais de seis anos após os assassinatos que chocaram o país. A data foi definida pelo juiz Gustavo Kalil, titular do 4º Tribunal do Júri, durante reunião especial, no Fórum Central do Rio, com representantes do Ministério Público, os assistentes de acusação e a defesa dos réus.
“Ontem, perguntaram para a gente como conseguimos chegar até aqui, e eu lembrei da minha mãe falando que parece que chegamos de novo ao velório. São quase 7 anos de muita dor, de um vazio de uma mulher que lutava justamente contra isso e que foi assassinada justamente como foi. Também perguntaram qual foi o legado que a Marielle teve, e acho que o maior legado dela é isso aqui, são as pessoas que têm lutado lado a lado conosco”, destacou Anielle.
A mãe de Marielle, Marinete da Silva, agradeceu o apoio e disse que fazer justiça pela filha e por Anderson é fazer para todas as famílias que perderam alguém pela certeza da imunidade.
“Eu estou aqui com outras mães, outras pessoas que também passam pela mesma dor, e vamos estar juntos e dizer que é importante, sim, essa caminhada, esse apoio que nós estamos recebendo hoje. Vamos para cima com toda garra e toda força. Eles precisam ser condenados e dar uma resposta a esse Rio de Janeiro, ao Brasil e ao mundo em relação à Marielle e ao Anderson”, defendeu.
Antônio Francisco da Silva Neto, pai de Marielle, ressaltada que os “réus confessos precisam ter uma condenação exemplar para que passem a mensagem que eles não podem tirar a vida de nenhum ser humano e saírem impunes, porque o que eles fizeram, fizeram pensando na impunidade. Hoje, nós daremos uma resposta por meio da Justiça. A palavra tão falada por nós, justiça, hoje nós queremos essa palavra, queremos essa justiça hoje”.
A filha de Marielle Fanco, Luyara Santos, destacou que “a justiça para a gente seria se minha mãe estivesse aqui, se o Anderson estivesse aqui. Minha mãe foi uma parlamentar eleita com mais de 46 mil votos. Então, o júri de hoje é o primeiro passo dessa justiça, porque a gente não pode normalizar que nenhuma vida seja ceifada da forma que tiraram eles da gente”.
Mandantes
Em maio, a Procuradoria-Geral da República (PGR) concluiu que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão mandaram matar a vereadora Marielle Franco, em fevereiro de 2018, para impedir que ela seguisse prejudicando os interesses dos agora réus, desde nomeações para o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) até a regularização de loteamentos irregulares em áreas dominadas por milícias na zona oeste do Rio de Janeiro.
A PGR denunciou Domingos, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e Chiquinho, deputado federal (sem partido), e mais três pessoas: dois policiais que atuavam para a dupla e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa.