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Falta da 2ª dose de vacina contra Covid preocupa Ministério da Saúde

Técnicos observam com cautela o risco de o país não ter imunizantes para o reforço e temem paralisação da campanha

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Vacinação de idosos contra a Covid-19
1 de 1 Vacinação de idosos contra a Covid-19 - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Mesmo com as recentes articulações para compra de insumos para produção e de vacinas prontas contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, integrantes do Ministério da Saúde observam com cautela o risco de o país não ter vacinas para a aplicação da 2ª dose e para a continuidade da campanha.

Nos debates mais recentes entres os técnicos da pasta está a estratégia de imunizar o maior número de pessoas possível com as doses disponíveis, sem reservar insumo para a aplicação do reforço. Ao todo, o governo quer vacinar 77,2 milhões de brasileiros num primeiro momento.

Nesse sentido, existe uma dúvida que ainda não tem resposta da ciência: apenas uma dose é capaz de proteger o vacinado contra a doença? O tempo para a aplicação da segunda dose varia entre 28 dias e três meses, a depender do fabricante.

Um ponto é crucial: como a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso das vacinas é emergencial, seguir o protocolo definido pelo órgão regulador é fundamental.

A autarquia recomendou a aplicação de duas doses, obedecendo o tempo determinado pelo fabricante. Além disso, é preciso monitorar e acompanhar se as pessoas perderam a imunidade.

“O governo tem trabalhado para ter vacinas em número suficiente para continuar a campanha como foi planejada, mas essa é realmente uma dúvida que temos. Será possível ter os insumos e as vacinas na ponta em tempo hábil”, questiona um técnico da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde.

Com a escassez de doses, cidades já mudam o planejamento. No Rio de Janeiro, por exemplo, Niterói e São Gonçalo suspenderam a vacinação por falta de vacina.

O Ministério da Saúde cobrou os secretários estaduais da área que sigam as recomendações de público prioritário. No ofício, obtido pelo Metrópoles, a pasta ressalta que o calendário a ser seguido deve priorizar os profissionais da saúde, as populações de maior vulnerabilidade e, no futuro, trabalhadores dos serviços essenciais.

Chegada de insumos

Nas últimas semanas, o governo federal confirmou que o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), principal componente farmacológico do imunobiológico, chegou ao país para a produção das vacinas de Oxford/AstraZeneca — pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — e pelo Instituto Butantan, responsável pelas doses da Coronavac.

Mesmo com a chegada dos produtos, a perspectiva é pessimista. “Existe um prazo para a produção e entrega. Não sabemos se será possível as doses estarem onde elas precisam estar no tempo correto”, explica outra fonte da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde.

O técnico ainda afirma. “Optar por vacinar o maior número de pessoas com as vacinas disponíveis foi uma tentativa de gerar maior imunidade. Porém, as recomendações técnicas das vacinas devem ser respeitadas”, conclui.

Riscos

Em entrevista publicada pelo Metrópoles na última segunda-feira (1/1), a epidemiologista Carla Domingues, que entre 2011 e 2019 coordenou o Programa Nacional de Imunizações (PNI), afirmou que o país pode ficar sem vacina.

“Se a gente tem 6 milhões de doses, temos de aplicar 3 milhões e guardar 3 milhões para a segunda dose. Dessa forma, caso não se tenha vacina e a campanha pare, não há risco, porque a segunda dose estará garantida. Agora, vacinar 6 milhões de pessoas com uma dose e falhar [com a segunda dose]? Pode ser que elas estejam vacinadas e não tenham imunidade”, aponta.

Ela completa. “Da forma que está acontecendo, o país corre o risco de ficar sem vacina para continuar a campanha de imunização”.

Versão oficial

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que tem orientado gestores estaduais sobre a vacinação. A pasta visa alcançar o maior número possível de pessoas vacinadas.

“Recomenda inicialmente a estratégia de vacinação com perda operacional de 5%, conforme cada vacina. Sinovac/Butantan com intervalo de duas a quatro semanas entre as doses — com entrega simultânea das duas doses; e AstraZeneca com um intervalo de oito a 12 semanas entre as doses — posteriormente, será encaminhada segunda dose para completar o esquema com esta vacina”, destaca o texto.

Por meio de ofício, encaminhado em 19 de janeiro, o ministério alertou o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) que é imprescindível que todas as unidades de saúde da Federação cumpram as diretrizes para que o país tenha doses suficiente para imunizar, com as duas doses previstas, este primeiro ciclo da campanha de vacinação.

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