Falso médico de UPA no RJ é identificado por erro de grafia: “potaciu”
Em receita, falsário queria indicar potássio para paciente. Outros doentes não conseguiram medicamentos por erro no registro dele
atualizado
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Rio de Janeiro – Em uma semana, o Rio registrou dois casos graves de falsos médicos atendendo a população em unidades da rede pública de saúde.
No último sábado (22/5), funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Engenho Novo, que é estadual, notaram que o homem, identificado como Aleksandro Gueivara e que foi contratado como plantonista pela Organização Social Viva Rio, gestora da UPA, não conhecia os procedimentos de rotina da unidade.
Os erros de português nas prescrições também chamaram a atenção. Por exemplo, a recomendação de potássio para um paciente, escrita como “potaciu”. O caso foi descoberto uma semana depois de Itamberg Saldanha ter sido visto no plantão na UPA de Realengo usando o carimbo de outro médico.
“No sábado, uma farmacêutica achou estranho porque ele não sabia usar o sistema, estava prescrevendo manualmente os medicamentos. Mesmo dos pacientes internados ou que fossem fazer venoso. E na escrita dele havia muitos erros de português, erros bizarros e uma caligrafia péssima”, disse uma funcionária, sem se identificar.
No domingo (23/5), a direção da UPA decidiu investigar o caso e percebeu que o CRM do médico era falso.
“Fui à farmácia da Clínica da Família. Chegando lá, a menina que entrega remédios falou que ele [o médico] não constava no sistema. Aí, eu falei: ‘Mas como assim? Você vai ter que voltar lá na UPA e pedir uma nova receita pra você’”, contou uma paciente atendida pelo falso médico.
Outras pessoas tiveram os medicamentos negados na farmácia durante o plantão de Aleksandro, por 24 horas, na UPA do Engenho Novo. Muitos porque o registro do “doutor” não constava no sistema.
Em seguida, os pacientes retornaram para o atendimento e foram avaliados por outros profissionais, recebendo receitas totalmente diferentes das que tinham sido prescritas pelo falso médico.
“Eu acho isso um absurdo, nós pagamos impostos. Isso é muito errado, botar uma pessoa dentro de uma UPA e dizer que ele é médico, não sendo médico”, disse uma paciente.
Fiscalização
De acordo com o Conselho Federal de Medicina, há duas médicas com o mesmo CRM usado por Aleksandro – uma em São Paulo e outra em Minas Gerais. “Verificando no nosso site, o número não consta nos registros dessa autarquia. Portanto, a pessoa não está autorizada a exercer a medicina”, afirmou o presidente do Cremerj, Walter Palis, em entrevista à TV Globo.
Funcionários afirmam que o caso aconteceu porque a Viva Rio está recrutando médicos às pressas. O pagamento do plantão, segundo eles, é de R$ 1,6 mil.
“Em momento nenhum se questionou o CRM desse médico porque ele apresentou documentos, conta bancária, mas não mostrou a carteirinha do CRM. Falou que não estava com ele naquele momento. E, mesmo assim, foi admitido para fazer aquele plantão. Então, não há investigação nenhuma. Basta dizer que é médico que consegue dar um plantão nas unidades da Viva Rio”, contou um dos servidores.
A Viva Rio informou que, após identificar a fraude, o falso médico foi excluído dos cadastros e não recebeu o pagamento. A organização social disse também que vai registrar o caso na delegacia.
Falso médico preso em Realengo
Há uma semana, outro homem que se passava por médico foi preso. Itamberg Saldanha dava plantão na UPA de Realengo usando o carimbo de um médico. Há denúncias de que Itamberg trabalhou em pelo menos 12 unidades de saúde do Rio.
“Estamos preocupados, particularmente nas últimas semanas, com esse número de denúncias em relação a falsos médicos. Reiteremos a necessidade de as autoridades checarem de forma bastante objetiva, através do nosso site, que é público, a veracidade das informações”, disse o presidente do Cremerj.