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Fake news embalam manifestações de 7 de setembro e ameaças à democracia

A Semana em Fakes lista as fake news dos últimos dias que circularam com o intuito de promover atos antidemocráticos

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
manifestantes esplanada
1 de 1 manifestantes esplanada - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

No mundo real, o governo de Jair Bolsonaro enfrenta uma rejeição recorde em pesquisas de opinião, uma crise sanitária que se arrasta há um ano e meio com denúncias de negligência e corrupção, uma crise hídrica com ameaças de apagão, aumento de preços de produtos básicos e ameaças de impeachment. Porém, a “bolha bolsonarista” na web só tem conseguido enxergar uma questão (leia-se “cuestão”) nos últimos dias: as manifestações do dia 7 de setembro.

Desde quando a última falsa polêmica que visava desviar o foco dos reais problemas do Brasil se encerrou (a implementação do voto impresso para o ano que vem), a internet tem sido inundada de mensagens que têm o objetivo de deixar o tema “protestos a favor de Bolsonaro no dia 7 de setembro” quente entre grupos de seguidores do presidente.

Infelizmente, a grande maioria dos conteúdos que viralizam não se limita ao “venha para a rua mostrar apoio ao nosso líder”. Para “fazer sucesso”, mensagens hiperdimensionam (de forma nitidamente falsa) o que deve ocorrer em 7/9, criam falsos apoios ao movimento (que, frisa-se, está sendo promovido por grupos pequenos de radicais que estão, inclusive, na mira da Justiça) e visam inflamar incautos (ou incultos) com ameaças claras ao sistema democrático brasileiro.

No “mundo do zap”, 3 milhões em Brasília, greve geral de caminhoneiros e fim do STF

Quando as fake news começam a circular de forma sistemática em relação a um tema, o processo se dá da seguinte forma: uma primeira fake news se torna o “marco” da campanha de desinformação. Normalmente, esse conteúdo tem informações de impacto e não é muito detalhado. É a partir desse “conteúdo guia” que surgem as notícias falsas, por assim dizer, “anexas”. São elas que vão reforçar a informação falsa (em um primeiro momento, falsa e absurda) e a tornar palatável.

Com as fake news sobre 7 de setembro não foi diferente. Assim que a Câmara rejeitou a proposta de voto impresso para as eleições do ano vem, começaram a circular mensagens que apontavam para a “grandiosidade” das manifestações de 7 de setembro de 2021 e atacavam diretamente o sistema democrático brasileiro.

Uma delas “cantava” o que ocorreria no dia da manifestação. Dentro do “menu golpista” da mensagem, continha uma manifestação com 1 milhão de pessoas em Brasília (lembrando que, por exemplo, os protestos de junho de 2013 tiveram 40 mil pessoas nas ruas), liderança de Ives Gandra Martins em um pedido de dissolução do Congresso e STF, uma grande greve de caminhoneiros até que o pedido seja atendido e, como “grand finale”, uma intervenção militar com Bolsonaro no poder.

O mais lógico seria que uma narrativa como essa, sem pé nem cabeça, fosse claramente refutada (assim como fizeram alguns “personagens”, como o jurista Ives Gandra Martins e líderes de caminhoneiros) por quem seria o beneficiado da história: o presidente Jair Bolsonaro. Só que a tese não só não foi desmentida como passou a ser promovida por alguns dos seus simpatizantes.

De ministra a almirante já falecido

A desinformação sobre as manifestações do dia 7 de setembro foi tema dos dois últimos A Semana em Fakes no Boatos.org (você pode conferir aqui e aqui). Tanto destaque é justificado pela quantidade de notícias falsas sobre o assunto. Elas podem ser divididas em, basicamente, dois grupos: 1) Falsas mensagens de apoio às manifestações vindas de pessoas influentes. 2) Previsão do que iria ocorrer em 7 de setembro.

Vamos começar a listar as notícias falsas do primeiro grupo. Desde o meio de agosto, não foram poucas as mensagens relacionadas às manifestações do dia 7 de setembro, a grande maioria de cunho golpista, atribuídas falsamente a figuras conhecidas.

Na categoria “mensagens de convocação”, tivemos que desmentir um texto falsamente atribuído a Alexandre Garcia no qual há uma “autorização a uma intervenção militar”; um texto irreal no qual Michelle Bolsonaro estaria convocando o “povo” para manifestações; e uma carta falsamente assinada por Sérgio Reis. Houve também um vídeo antigo do vice-presidente Hamilton Mourão que começou a ser compartilhado como se fosse uma “convocação para 7 de setembro”.

Nenhuma dessas fake news tiveram tanto alcance quanto os áudios atribuídos a figuras influentes. Ao Boatos.org, a ministra da Agricultura Tereza Cristina e o jurista Ives Gandra Martins tiveram de desmentir a autoria de áudios incitando um golpe. Houve, ainda, um áudio atribuído a um almirante. Neste caso, o citado não pode desmentir a autoria. Isso porque ele morreu há cerca de 20 anos!

Entre greve e intervenção, até “bloqueio do WhatsApp” foi inventado

As fake news da categoria “coisas que irão ocorrer em 7 de setembro”, com certeza, colocaram a criatividade de boateiros à prova. Não faltaram mensagens hiperdimensionando o ato de apoio ao presidente no Dia da Independência. Dois temas dominaram as fake news “de previsão”. Um deles é uma suposta greve de caminhoneiros que “iria parar” o Brasil até que pautas de Bolsonaro fossem atendidas.

Quem lida desmentindo fake news já sabe que esse tipo de lorota é clássica. Só como exemplo: em algum momento da história recente, houve uma fake news que apontava caminhoneiros iriam parar por apoio à Reforma da Previdência (?). Em outro momento, o boato apontava que caminhoneiros parariam de ir para a estrada e ficariam em casa em protesto a medidas de isolamento (contraditório, não).

Não bastasse o histórico “pouco favorável” a paralisações por motivações políticas, lideranças de caminhoneiros já apontaram que não irão parar no dia 7 de setembro até que “o voto impresso seja aprovado”, “o STF caia” ou qualquer coisa do tipo. Até é possível que alguns caminhoneiros simpáticos ao presidente promovam manifestações a favor de Bolsonaro, mas é improvável (para não dizer impossível) que a manifestação tenha adesão da maioria da classe ou dure além do 7/9.

Esse cenário “desfavorável” não intimidou a disseminação de fake news que visavam incitar caminhoneiros a parar e assustar (ou dependendo do ponto de vista, animar) a população em geral. Entre boatos do tipo, desmentimos mensagens explicando “como seria a tática da paralisação” (aquiaquiaqui e aqui) e vídeos exibindo supostas manifestações recentes (aqui e aqui).

Em algumas das mensagens que falavam sobre greve de caminhoneiros também havia a falsa previsão de que ocorreria uma “intervenção militar no Brasil com Bolsonaro no poder”. Além de tudo que já foi citado (com uma menção honrosa ao falso áudio do almirante da Marinha), dois conteúdos chamaram a atenção: um vídeo de um trem carregando blindados e tanques do Exército (que, na realidade, é de 2012 e foi gravado no Canadá) e a falsa informação que apontava que ministros do STF já planejavam fugir do país.

A maior pérola de todas ainda estava por vir: mensagens corroboradas por um vídeo de 2015 da GloboNews apontavam que o WhatsApp seria bloqueado no dia 7/9. Além de, novamente, tentar inflar a importância dos protestos, esse boato tinha uma segunda intenção: angariar pessoas para o Telegram (a nova menina dos olhos de quem espalha fake news).

Sabemos que, apesar dos gritos da minoria barulhenta, não teremos eventos absurdos como “intervenção militar”, “greve dos caminhoneiros”, “fim do STF” ou “bloqueio do WhatsApp” neste 7 de setembro. Bolsonaro não tem força política tampouco popularidade para sustentar um golpe do tipo.

Na realidade, a única pergunta a ser respondida neste 7 de setembro é se, desta vez, a enxurrada de fake news vai se mostrar eficiente em romper a bolha bolsonarista nas redes sociais e angariar “cidadãos” de fora dela. É a partir disso que podemos começar a avaliar o quanto a desinformação vai influenciar nas eleições do ano que vem e continuar servindo como instrumento de ameaça (mesmo que com bravatas) à democracia.

Trends da semana

As palavras mais buscadas no Boatos.org nos últimos dias foram, em ordem crescente, 7 de setembroLulaVã corpo de bombeiros COVID condomínioBloqueio do WhatsAppAtacadãoWhatsApp, AfeganistãoPalavra do senhorWhatsapp e Caminhoneiros.

Os desmentidos mais lidos do Boatos.org nos últimos dias foram, em ordem crescente, sobre o áudio que apontava para outro áudio que falava sobre greve dos caminhoneiros em 7 de setembro; sobre um romance entre o cantor Thiaguinho e o jogador Bruninho; sobre o bloqueio do WhatsApp em 7 de setembro; sobre missionárias cristãs colocadas em um saco no Afeganistão; e sobre a aprovação de uma lei que proibia ultrassom em grávidas.

No Twitter a matéria com o maior engajamento era a que desmentia o áudio falando sobre uma greve de caminhoneiros em 7 de setembro. No Facebook, o conteúdo mais compartilhado era o que desmentia que o WhatsApp ficaria fora do ar em 7/9. No Instagram, o conteúdo mais curtido foi o que desmentia que trens estariam carregando tanques do Exército para o Dia da Independência.

No Telegram, o conteúdo mais lido foi o que desmentia que o ex-jogador Gutemberg Leão havia virado morador de rua. No YouTube, o conteúdo com maior engajamento na semana foi o que desmentia que missionárias foram colocadas em sacos plásticos no Afeganistão.

Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu mais de 6 mil notícias falsas

Uma das novidades do Boatos.org para 2021 é a seção “A Semana em Fakes”. Periodicamente, faremos análises sobre os assuntos mais recorrentes em termos de desinformação na internet. Este conteúdo ficará aberto para republicação em outros veículos de mídia. No momento, publicamos o conteúdo no Portal Metrópoles, Portal T5 e Conexão Marília (caso tenha interesse, entre em contato com o Boatos.org para saber as condições). Para ver todos os textos da seção, clique aqui.

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