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Facções x policiais: entenda a “guerra do crime” no Complexo da Maré

Os moradores do Complexo da Maré, no Rio, convivem desde a década de 1990 com os confrontos de facções criminosas

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Complexo da Maré, no Rio de Janeiro -- Metrópoles
1 de 1 Complexo da Maré, no Rio de Janeiro -- Metrópoles - Foto: Getty Images

Conhecido como o conjunto de favelas mais populoso da cidade do Rio de Janeiro, o Complexo da Maré é composto por 16 comunidades e conta com mais de 140 mil habitantes. Está localizado na zona norte da cidade, às margens da Baía de Guanabara, entre as três principais vias expressas do Rio: Avenida Brasil, Linha Vermelha e Linha Amarela.

Os moradores da Maré convivem, há décadas, com os confrontos frequentes entre facções criminosas e policiais. O conflito mais recente aconteceu no dia 11 de junho, em uma operação da Polícia Militar, e terminou com seis mortos, sendo dois agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).

O relatório “Percepção dos moradores de segurança pública”, publicado em 2023, afirma que a violência dentro das comunidades começou por negligência do governo do estado do Rio de Janeiro, que nunca se propôs a reconhecer e ofertar o direito dos moradores à segurança pública.

Domínio de facções

A disputa territorial é travada por três facções criminosas envolvidas como o tráfico de drogas na região: Comando Vermelho (CV), Amigo dos Amigos (ADA) e Terceiro Comando (TC). O domínio das facções acontece desde a década de 1990.

Ainda de acordo com o relatório, muitos grupos são dirigidos por pessoas provenientes das forças de segurança, o que facilitou a dominação do território da Maré por criminosos fortemente armados e organizados.

Diante dos moradores, a milícia busca se legitimar expulsando traficantes de drogas e oferecendo segurança. Entretanto, essas atividades são para ganho econômico, já que resulta na extorsão dos habitantes.

“Guerra contra o crime”: facções x policiais

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Em 2015, o Governo Federal gastou R$ 461 milhões para vencer a “guerra contra o crime” da Maré
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A principal ideia era um trabalho em larga escala, a partir das instalações de postos específicos e com contato e vivência solidária dos policiais com a população

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Em 2015, o Governo Federal gastou R$ 461 milhões para vencer a “guerra contra o crime” da Maré

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Em meio à guerra entre facções e policiais, em 2008, o governo do estado implementou as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A principal ideia era um trabalho em larga escala, a partir das instalações de postos específicos e com contato e vivência solidária dos policiais com a população. Foram 38 unidades instaladas no Rio e na Baixada Fluminense.

O estudo “Os donos do morro”, mostra que no início o projeto foi bem. O número de mortes violentas nas áreas pacificadas caiu quase 75% entre janeiro de 2006 e junho de 2011. Na contramão, as abordagens da Polícia Militar e do Bope ampliaram a violência nas favelas, enfraqueceu a legitimidade da polícia com a comunidade e reforçou a sensação dos moradores que os integrantes de facções são mais respeitosos e defendem mais a comunidade.

Uma pesquisa da Universidade Cândido Mendes mostra que 65% dos policiais que atuavam nas UPPs relataram que já foram xingados por moradores das favelas, e metade deles disseram que não foram submetidos à preparação da realidade das comunidades cariocas.

A decadência das UPPs foi marcada pelo escândalo do “Caso Amarildo”, em julho de 2013 na Rocinha, Zona Sul do Rio. Amarildo sumiu após ser levado por policiais para ser interrogado na sede da UPP local durante a Operação Paz Armada.

Segundo a Justiça, ele foi torturado e morto pelos agentes na sede da unidade, mas seu corpo nunca foi encontrado. Amarildo deixou seis filhos e esposa.

Em 2015, o governo federal gastou R$ 461 milhões para vencer a “guerra contra o crime” da Maré. O valor era correspondente ao custo mensal para manter 8.391 policiais militares em todas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do estado do Rio.

O objetivo era estabelecer condições seguras para a implementação das UPPs, o que não ocorreu.

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Após seis meses de busca pelo corpo do pedreiro, a Justiça decretou a morte presumida de Amarildo
Amarildo foi torturado e morto pelos agentes na sede da UPP
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Amarildo Dias de Souza foi levado do Bar do Júlio, na favela da Rocinha, por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora

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Após seis meses de busca pelo corpo do pedreiro, a Justiça decretou a morte presumida de Amarildo

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Amarildo foi torturado e morto pelos agentes na sede da UPP

Casos recentes

Com a saída das UPPs, bandidos fortemente armados voltaram a controlar áreas onde o poder público não chega. Os confrontos entre as facções e os militares são constantes.

Os dados do projeto “De olho na Maré”, divulgado em 2020, da ONG Redes da Maré, relataram que o Complexo da Maré enfrentou 300 horas de operações policiais e 117 dias de tiroteios em 2019. No mesmo ano, a organização calculou 49 pessoas mortas com o confronto: 34 mortes durante operações policiais e 15 vítimas em disputas entre criminosos pelo controle de tráfico de drogas.

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