Extrema direita troca Lula por Moro como principal alvo de ataques
Militância bolsonarista vê no ex-“superministro” do governo um candidato capaz de tomar votos que poderiam ir para Bolsonaro
atualizado
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A militância mais fiel do presidente Jair Bolsonaro (PL) vê no ex-“superministro” Sergio Moro (Podemos) uma ameaça de erosão da base eleitoral ao chefe do Executivo. Desde que Moro se lançou em pré-campanha à Presidência da República, o ex-juiz federal virou alvo preferencial dos principais influenciadores digitais da extrema direita, conhecidos por integrar o chamado “gabinete do ódio”, responsável por fustigar nas redes sociais os adversários políticos de Bolsonaro. Nesse movimento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi esquecido, mas perdeu a primazia como alvo dos ataques.
O sinal de alerta entre os bolsonaristas foi acendido de vez quando um comentarista político muito identificado com o grupo, o bacharel em Direito Caio Arruda Miranda, conhecido como Caio Coppolla, disse, no último dia 29/11, que pretende dar “o benefício da dúvida” à candidatura de Moro.
A declaração foi dada no programa Pânico, da rádio e TV Jovem Pan, e transformou o próprio Coppolla em alvo de muitos ataques virtuais, que respingaram até em uma das maiores aliadas de Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que havia celebrado pouco antes a volta do influenciador a uma emissora de TV.
O esforço para desconstruir Moro e evitar que ele “roube” mais simpatizantes de Bolsonaro que estão balançados é liderado por pesos pesados da militância, como os filhos do presidente. Carlos Bolsonaro (Republicanos), por exemplo, tem dedicado boa parte de suas postagens a atacar Moro. Nessa quarta (1º/12), por exemplo, o vereador carioca usou a notícia de que Moro irá ganhar um salário de R$ 22 mil do Podemos.
“Então surge o fundo partidário do bem”, provocou. “E quando era juiz, recebia auxílio-moradia tendo domicílio no mesmo estado que trabalhava”, complementou o filho 02 de Bolsonaro, antes de emendar com seu jeito cifrado de se comunicar: “E as diárias milionárias do seu time de quarto escuro? O silêncio é absoluto no reino animal! Imagine se fosse com outro”.
Em outra postagem, horas antes, Carlos reclamou que “nunca se vê um confronto direto entre Lula e Serginho” e avaliou que “ambos têm somente um alvo claro diariamente”, apesar de Moro e Lula serem adversários abertos e se criticarem constantemente, revivendo o embate ocorrido no julgamento de processos da Lava Jato.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que já foi fã declarado de Moro e chegou a entrevistá-lo em fevereiro de 2020 para um quadro em suas redes sociais chamado “O Brasil precisa saber”, também tem se esforçado para jogar o ex-ministro no colo da esquerda: “Um desarmamentista, que tem simpatia com a agenda globalista (aborto), apoiou lockdown, ficou inerte diante da prisão de mulheres inocentes na pandemia, aplaudiu prisão de ‘extremistas’ e etc, jamais combaterá o sistema – já é parte dele”, postou Eduardo, também nessa quarta, em uma resposta direta a Caio Coppolla, que havia dito ter “uma cabeça aberta para ser persuadido que, de repente, ele [Moro] é uma escolha boa para o país e vai enfrentar o sistema”.
Com a sinalização desses líderes da militância, outros influenciadores nas redes, além de membros de grupos bolsonaristas em aplicativos como WhatsApp e Telegram, têm centrado sua atenção em Moro. Veja exemplos colhidos pelo Metrópoles nesses meios digitais:
Pressão das pesquisas
A militância bolsonarista teme que o ex-ministro Sergio Moro eroda o eleitorado do presidente ao se colocar como representante de bandeiras que ele defendia, mas das quais acabou se afastando, como a luta contra a corrupção e o “fim do toma lá, dá cá”. Com seu “casamento” com o Centrão, Bolsonaro deixa desconfortável parte de seus seguidores mais ideológicos.
O momento do presidente da República nas pesquisas de opinião e de intenção de voto não é bom. Na última pesquisa do Instituto Atlas, divulgada no último dia 30 de novembro, a intenção de voto em Bolsonaro caiu dos 34,5% registrados em setembro para 31,5%, enquanto Lula subiu de 40,6% para 42,8%.
Sergio Moro estreou em terceiro lugar no levantamento, com 13,7% das intenções de voto. Os pré-candidatos Ciro Gomes (PDT) e João Doria, que ficaram em quarto (6,1%) e quinto (1,7%) respectivamente no levantamento também registraram queda nas intenções de voto com a entrada de Moro no cenário, mostrando que o ex-juiz, por enquanto, só não tira eleitores de Lula.