Exclusivo: veja imagens da colisão entre lanchas em Angra dos Reis que deixou 4 mortos
Imagens fazem parte do inquérito da Capitania dos Portos. Segundo especialista, acidente poderia ter sido evitado
atualizado
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Rio de Janeiro – Imagens obtidas com exclusividade pelo Metrópoles mostram o momento da colisão entre a lancha Imensidão Azul (no vídeo, à direita) e a Faith III, em que quatro pessoas morreram, entre elas uma criança de 11 anos, em Angra dos Reis, região da Costa Verde do Rio de Janeiro, no último dia 16.
As imagens, captadas por câmeras perto do local, fazem parte do inquérito da Delegacia da Capitania dos Portos em Angra dos Reis. O responsável pelo órgão, Ricardo Jaques, informou que a Marinha não comenta investigações em andamento.
O Metrópoles encaminhou o vídeo de 10 segundos para a análise do consultor técnico náutico e dono do site Minuto Náutico, Marcio Dottori. De acordo com ele, pelas regras de navegação do Regulamento Internacional para Evitar Abalroamento no Mar (Ripeam), a lancha que está à direita na imagem tinha a preferência, mas estava navegando muito rápido.
“Os dois barcos poderiam ter evitado o acidente. Ambos estavam rápidos. A lancha da direita tinha a preferência, mas estava navegando muito rápido em uma região cheia de barcos e nada fez, aparentemente, para evitar a colisão. A lancha da esquerda também errou ao não manobrar para deixar livre a rota da lancha da direita.”
Questionado se o piloto da Imensidão Azul, apesar de estar na preferência, não foi experiente o suficiente para desviar da outra embarcação, Dottori explicou: “Sim, poderia ter tentado evitar a colisão e não deveria estar navegando tão rápido em uma região com tráfego intenso e muitas embarcações ancoradas próximas”.
Depoimentos na Delegacia
Nos depoimentos aos quais o Metrópoles teve acesso com exclusividade na 166ª DP (Angra dos Reis), o piloto da Faith III, Carlos Alberto Meirelles Falbenbach, de 72 anos, que alega possuir carteira de arrais-amador há quase 40 anos, afirmou em um dos trechos “que próximo à praia do Itanhangá, (…) vislumbrou uma embarcação vindo a sua boreste. Que ao chegar próximo à referida embarcação, o declarante acredita que a mesma acelerou para que sua embarcação não cruzasse a frente; que o declarante então achou que seria muito arriscado passar à frente, tendo reduzido a velocidade da sua embarcação e virado a boreste. Que a outra embarcação continuou vindo em alta velocidade e fez uma manobra virando a bombordo, entrando em rota de colisão frontal à embarcação do declarante”.
Tomas Pedro Machado, 29 anos, que estava na Faith III, também contou à polícia que “viu uma lancha vindo no sentido contrário à embarcação em que estava, em alta velocidade; que ficou evidente que iria haver uma colisão; que Carlos desacelera a embarcação Faith e vira para esquerda; que, ao virar para esquerda, a outra lancha bate na embarcação em que o declarante estava”.
Com 15 anos de experiência, o arrais-amador Edcrelson Pereira de Oliveira, de 41 anos, que estava conduzindo a lancha Imensidão Azul, com sete passageiros, apresentou outra versão. Ele responsabilizou a Faith III, em que estavam as vítimas que morreram. Em um dos trechos, ele alegou: “Que reparou que a lancha menor não reduzia a velocidade e percebeu que o marinheiro da outra lancha estava em dúvida para qual lado ir; que reduziu a velocidade da lancha Imensidão Azul para que a outra lancha passasse pela proa de sua lancha; que reparou que o marinheiro da outra lancha ameaçou a ir pela proa da lancha Imensidão Azul, mas de repente tomou outro sentido tentando ir pela poupa (sic) só que não dava mais tempo para desviar e colidiu com a lateral esquerda de sua lancha atropelando a lancha que vinha em sentido contrário”.
Homicídio culposo
O caso foi registrado como homicídio culposo na 166ª DP (Angra dos Reis), sem a intenção de matar. Responsável pela investigação criminal, o delegado titular da 166ª DP, Vilson de Almeida Silva, informou que aguarda ainda o relatório da Capitania dos Portos. Na Marinha, foi aberto um Inquérito Administrativo sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN). De acordo com o órgão, ao fim será encaminhado ao Tribunal Marítimo e, caso seja requisitado, também à Polícia Civil.