Ex-secretário recebeu propina até no Palácio Guanabara, diz MPF
Homem forte de Sérgio Cabral, Régis Fichtner aparece em planilhas de operador financeiro do esquema. Ele teria recebido R$ 1,56 milhão
atualizado
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O ex-secretário da Casa Civil do Rio Régis Fichtner recebeu propina em espécie por cinco vezes, num total de R$ 1,560 milhão, em entregas feitas inclusive no Palácio Guanabara, sede do governo, segundo investigações do Ministério Público Federal (MPF). Fichtner foi preso nesta quinta-feira (23/11) em mais uma fase da Operação Lava Jato.
De acordo com a denúncia, ele teria usado o seu cargo para favorecer empresas específicas de outros integrantes da suposta organização criminosa liderada pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). Fichtner aparece em anotações feitas por Luiz Carlos Bezerra, operador financeiro de Cabral, obtidas pela força-tarefa da Lava Jato.
Decisão do juiz federal Marcelo Bretas decretando a prisão preventiva de Régis Fichtner by Metropoles on Scribd
Segundo Bezerra, as ordens para que os pagamentos fossem efetuados eram dadas por outro operador, Carlos Miranda. A função do operador financeiro no esquema era recolher o dinheiro em espécie e levar a locais determinados por outros membros da organização.
O esquema
Suplente de Sérgio Cabral no Senado de 2002 a 2007, Fichtner assumiu o cargo nos últimos dois anos. Em 2007, ele se tornou secretário da Casa Civil do então governador, cargo que ocupou até 2014.
Além da suposta propina de de R$ 1,56 milhão em espécie, Fichtner autorizou, no exercício da função, a compensação de precatórios no valor de R$ 74,8 milhões à empresa Telemar Norte-Leste, cuja advogada era Adriana Ancelmo, mulher de Cabral.
De acordo com o MPF, em outubro de 2012, ele também contratou pelo Governo do Rio, por R$ 3,4 milhões, a empresa Líder Taxi Aéreo, cujo advogado era o próprio Fichtner. A Lava Jato apontou que, “curiosamente”, esta empresa “efetivou generosas doações ao PMDB e aos seus políticos em 2008 e 2012”.
Durante a gestão de Fichtner, foram concedidos benefícios fiscais nos valores de R$ 683 milhões para a empresa Thyssenkrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico, e de R$ 583 milhões para a White Martins Gases. Conforme a denúncia, tais empresas também eram assessoradas pelo escritório Fichtner, Mannheimer, Horta e Perez advocacia, do qual o ex-secretário é sócio.
Apesar de Fichtner ter se afastado formalmente das atividades do escritório durante sua função no governo do Rio, logo após a exoneração do cargo de secretário da Casa Civil, em 2014, ele teria recebido a quantia de R$ 16,4 milhões da banca, aponta a força-tarefa. Isso “faz crer que vinha exercendo alguma atividade informal de advocacia”, segundo a denúncia.