Ex-presidente do Inep diz que falta orçamento para o Enem 2021
Em entrevista ao jornal O Globo, Alexandre Lopes afirmou que o titular da pasta ignorou reuniões solicitadas para tratar do exame de 2020
atualizado
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O ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) Alexandre Lopes afirmou que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi “totalmente omisso” na organização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020. E alertou sobre a falta de orçamento para a aplicação das provas neste ano.
Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta segunda-feira (3/5), Alexandre Lopes disse que alertou Milton Ribeiro sobre o baixo orçamento para o Enem em 2021. Pontuou que a execução das provas custa aproximadamente R$ 700 milhões, e que o orçamento previsto era de R$ 200 milhões. De acordo com o ex-presidente, o exame deste ano corre risco de ser cancelado em razão da falta de dinheiro para a aplicação.
“Ao contrário da covardia e da incompetência do ministro Milton Ribeiro, se eu fosse (igual a) ele, ano passado não tinha Enem. Tive que conseguir um valor extra por causa da Covid. Se ele for seguir o Orçamento deste ano, são R$ 200 milhões para o Enem, não tem exame por esse orçamento”, afirmou.
Lopes disse que o dinheiro não é o único problema: de acordo com o ex-presidente, o planejamento para a execução e a elaboração das provas está “bastante atrasado”. Ele elogiou a equipe técnica do Inep, mas disse que o ministro Milton Ribeiro e o atual presidente do instituto, Danilo Dupas Ribeiro, são “incompetentes”.
“Acho que há um risco de jogarem o Enem para o ano que vem utilizando como desculpa a pandemia. Mas se você perguntar hoje se tem prova pronta, contrato, eles não vão ter para informar. Apesar de toda incompetência do atual presidente e a falta de discernimento por parte do ministro, a equipe técnica do Inep é capaz de fazer. Se eles não atrapalharem, o Enem sai, mas estão atrasados”, disse.
Enem 2020
Ao acusar Milton Ribeiro de omissão, Alexandre Lopes afirmou que o titular da pasta ignorou reuniões solicitadas para discutir o Enem de 2020 e que tratou com “covardia” o enfrentamento à crise educacional motivada pela pandemia.
Lopes foi demitido da presidência do Inep em fevereiro deste ano. Ele foi o quarto nome a ocupar o cargo em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, e esteve à frente da organização do Enem 2020 durante a pandemia. A aplicação do exame foi conturbada, marcada por aglomerações, problemas técnicos e pelo alto número de abstenções.
“No primeiro dia da aplicação do exame, que tivemos os casos de algumas pessoas que não conseguiram fazer as provas, o ministro se mostrou bastante irritado à noite, quando chegou ao Inep para a coletiva. E falou que não tinha sido comunicado sobre aquilo, o que é uma mentira, porque eu falei as medidas que a gente estava tomando”, afirmou Lopes ao O Globo.
Lopes revelou que seguiu pedindo reuniões para tratar sobre os problemas na aplicação do exame, mas que o ministro recusou os encontros por meio de avisos comunicados por secretárias da pasta.
O ex-presidente do Inep disse, ainda, que a única resposta de Milton Ribeiro aos problemas enfrentados por estudantes de Manaus (AM) durante a reaplicação do exame foi uma mensagem por celular, dizendo: “Ok, vai dar certo”. “Foi essa a orientação dele para mim. Foi omisso. O ministro simplesmente fugiu do Enem”, assinalou.