Ex-número 2 do Ministério do Trabalho entrega primo em depoimento
Leonardo Arantes comprometeu Rogério Arantes após prisão. Ambos são sobrinhos do líder do PTB na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes
atualizado
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Número 2 do Ministério do Trabalho até ser detido na Operação Registro Espúrio, na semana passada, Leonardo Arantes alegou inocência, mas comprometeu o primo Rogério Arantes ao depor pela primeira vez após a prisão. Ele também confirmou recebimento o pedido de “agilizar” o deferimento de um registro sindical que custaria R$ 4 milhões.
Leonardo e Rogério são sobrinhos do líder do PTB na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes (GO), também investigado na operação deflagrada em 30 de junho do ano passado, mas alvo apenas de busca e apreensão de documentos.
Agora ex-secretário executivo do Ministério do Trabalho, Leonardo admitiu que Rogério lhe pediu “facilitação” para a liberação do registro do Sindicato das Pequenas e Micro Empresas de Transporte Rodoviário de Veículos Novos do estado de Goiás (Sintrave-GO).O presidente do sindicato, Afonso Rodrigues, tinha recebido um pedido de pagamento de R$ 4 milhões para obter o registro. A propina foi solicitada pela lobista Veruska Peixoto e a negociação teve o aval de Rogério Arantes, que falou em nome do primo Leonardo. Rogério tinha cargo de diretor no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
“Que houve contato de Rogério para a facilitação do processo do Sintrave/GO, conforme citado pelo declarante acima, no referido almoço com Rogério, Veruska e Marcão; Que não sabe como seria dividido qualquer valor; Que não sabe quem eram os servidores da SRT que facilitavam a obtenção do registro sindical; Que não sabe a contrapartida dada e/ou prometida a esses servidores; que nunca recebeu nada de Veruska”, disse Leonardo. O depoimento não identifica o “Marcão” citado.
O almoço citado no depoimento foi a ocasião na qual Leonardo afirma ter sido apresentado à lobista Veruska. Rogério também estava lá. Leonardo disse que “na ocasião do almoço, foi solicitado por Rogério que fosse agilizada uma carta sindical, o qual o declarante não lembra o nome do sindicato”.
O ex-secretário disse também que “não era de responsabilidade de sua secretaria, de Políticas Públicas e de Emprego, e que não poderia ajudar”. Ele afirmou que nunca mais viu Veruska.
“Contudo Rogério tocou no citado assunto em outra oportunidade, recebendo a mesma resposta”, disse. Leonardo destacou que o registro sindical do Sintravego nunca foi concedido. Ele também disse que nunca se encontrou com Afonso Rodrigues — presidente do Sintravego e autor da denúncia inicial.
Bacharel em direito, Leonardo negou conhecimento de que havia propina negociada para liberação desse registro e sustentou que “nunca solicitou que fosse agilizado processo”. Ele admitiu que “repassava todas as demandas para os setores competentes para providências cabíveis quando solicitadas ao declarante”, mas disse que pedia apenas que fosse observado o trâmite normal. No entanto, admitiu que Rogério buscou direcionar o processo sobre o Sintravego.
Leonardo, que estava viajando no dia da operação, foi o último a ser preso dentre os 23 alvos de mandados de prisão. A Registro Espúrio, deflagrada investiga suposta organização criminosa formada por políticos, lobistas, dirigentes de sindicatos e funcionários públicos que atuavam na negociação para liberar registro sindical pelo ministério.
Defesas
“A defesa de Leonardo José Arantes, em respeito à autoridades que investigam os fatos ligados ao Ministério do Trabalho e Emprego, não se pronunciará sobre os mesmos, mas informa que já prestou todos os esclarecimentos à Polícia Federal e ao Ministro Relator no STF, apresentando documentos demonstrando que nunca recebeu qualquer valor sem origem declarada ou ilegal”, disse, em nota, o advogado Pedro Paulo de Medeiros.
“Esclarece que nunca fez qualquer pedido para que terceiros agissem em desacordo com a lei, e que em sua vida pública sempre se pautou pela ética e transparência, tanto que foi de sua iniciativa, a título de exemplo, ações que economizaram mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos, que criaram mecanismos para evitar fraudes ao seguro desemprego. Segue confiante na Justiça.”
A reportagem não conseguiu contato com Rogério Arantes. O espaço está aberto para manifestação.