Ex-ministro Ricardo Salles lamenta não ter conseguido “passar boiada”
Ex-ministro do Meio Ambiente defendeu que o Brasil poderia estar “muito melhor” se não houvesse “arcabouço burocrático e irracional”
atualizado
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O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles lamentou não ter conseguido “passar a boiada” enquanto estava no comando da pasta durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). A declaração faz referência à reunião ministerial de 22 de abril de 2022, quando Salles defendeu “passar a boiada” de formar a ir “mudando todo o regramento e simplificando normas”, no momento em que a cobertura da imprensa se voltava para a questão da pandemia de Covid-19.
“Infelizmente, não [consegui passar a boiada] porque o Brasil padece de um grande arcabouço burocrático irracional. Se tivéssemos condições de desburocratizar o país, o Brasil estaria muito melhor. Não tem nada a ver com a situação da Amazônia”, afirmou o deputado federal nesta quinta-feira (9/2), em entrevista ao UOL.
“Minha fala na reunião ministerial, embora seja, por alguns, propositalmente manipulada, eu falei que todos os ministérios (…) do Brasil precisam, e já passou da hora, de fazer um esforço muito grande de desburocratizar. Isso que quis dizer com passar boiada, e se tivesse acontecido, Brasil estaria em situação muito melhor”, completou.
O teor da reunião de Bolsonaro com seus ministros foi revelado após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello liberar o vídeo do encontro, após Sérgio Moro, então desafeto do presidente, acusar interferência na Polícia Federal.
“A oportunidade que nós temos, que a imprensa está nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação (…)”, afirmou o então ministro do Meio Ambiente na reunião.
“Estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid-19, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De Iphan, de Ministério da Agricultura, de Ministério do Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação, é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos”, completou.
Situação Yanomami
Salles, ao comentar a situação dos povos Yanomami, disse que a situação é “antiga” e negou ter ajudado a facilitar o garimpo na região. Na entrevista, o parlamentar ainda citou um boato já desmentido pelo Ministério da Saúde de que os Yanomamis seriam, na verdade, venezuelanos.
“A palavra genocídio me parece um pouco exagerada. (…) A definição jurídica do termo genocídio não me parece que seja a mais adequada, mas, claro, não serei eu que vou fazer essa qualificação”, disse.
Em nota pública, o Ministério Público Federal (MPF) apontou que a situação da população Yanomami é resultado da omissão do Estado brasileiro em assegurar a proteção de suas terras durante a gestão de Bolsonaro.
“Com efeito, nos últimos anos verificou-se o crescimento alarmante do número de garimpeiros dentro da TI Yanomami, estimado em mais de 20 mil pela Hutukara Associação Yanomami”, observa a nota.
Irregularidades na campanha
Nesta quinta, a Procuradoria Regional Eleitoral recomendou a desaprovação das contas de campanha de Salles, após apontar seis irregularidades na declaração enviada à Justiça.
No caso dos gastos irregulares com o fundo eleitoral, o MP especifica que Salles não discriminou serviços como a publicidade de materiais impressos, locação de veículos e pré-instalação de comitê de campanha. Já os gastos utilizando o fundo partidário se referem a eventos de promoção de candidatura.