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Ex-ministro de Bolsonaro diz que governo é gastador, mas elogia Haddad

Ex-ministro lançou esta semana livro sobre a política econômica de 2019-2022, uma espécie de defesa da agenda econômica do governo Bolsonaro

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1 de 1 Imagem colorida de Adolfo Sachsida - Foto: Anderson Riedel/PR

Adolfo Sachsida, ex-secretário de Paulo Guedes e ministro de Minas e Energia do último ano do governo Jair Bolsonaro (PL), disse ao Metrópoles que enxerga uma coerência na agenda econômica tocada pelo governo Lula (PT).

Segundo ele, ao tratar o Estado como indutor do crescimento econômico, ao invés de delegar essa tarefa para o setor privado, o governo tem gastado mais e precisado recorrer a aumentos de impostos para cobrir essa ampliação. “Não é questão de vontade, você tem que bancar o gasto. E aí o governo está fazendo esse tipo de coisa. Ele pode chamar de correção, o que for”.

“Quando você gasta menos, você tributa menos. Quando você gasta mais, tributa mais. Política econômica é mais ou menos igual a você ir no McDonald´s. Você escolhe o combo, você consegue com muita sorte trocar o guaraná por um suco de laranja, falar que não quer picles, mas o miolo é a mesma coisa, não tem como mudar. Ao fazer uma escolha, você escolhe uma série de outras coisas junto”, compara Sachsida.

“Nesse modelo [atual], o governo gasta mais. Nada de errado. Ele está sendo consistente. Em que sentido? Se eu quero gastar mais, eu tenho que tributar mais. Então, é isso que está acontecendo”, completa.

Ajuste fiscal exige “muita negociação e muita paciência”, diz Haddad

O ex-ministro enxerga como problema a resistência na aprovação de medidas arrecadatórias. De acordo com ele, apesar do relativo sucesso em aumentar o gasto, elevar tributos hoje no país não está fácil, porque há resistência maior por parte não só do Congresso, mas da sociedade como um todo.

Sachsida trata algumas medidas da pasta chefiada por Fernando Haddad como bem-sucedidas. “Ao contrário do que muita gente vê, eu vejo que a agenda micro está indo bem”, elogia. “Todo mundo quer acertar.” Ele cita a redução do spread bancário (diferença entre a taxa de captação e a de empréstimo dos bancos) e o acesso a crédito mais barato para o microempreendedor individual como exemplos.

“Agendas técnicas do ministério [da Fazenda], como mercado de crédito, garantias e seguros, não tem espaço para paixão. Isso são tecnicalidades. Elas andaram muito de 2016 a 2019 e de 2019 e 2022 e parecem que estão dando resultado agora também. Mostra que existe uma grande agenda que não tem paixões”, defende o ex-ministro.

Livro escrito a quatro mãos

Sachsida lançou na última quinta-feira (17/10), em Brasília, o livro “A Política Econômica Brasileira no período 2019-2022” (Editora LVM), escrito a quatro mãos, por ele e Paulo Guedes, que chefiou o superministério da Economia durante todo o governo Bolsonaro. Antes de assumir o MME, Sachsida foi secretário de Política Econômica da pasta de Guedes (de 2019 a 2022).

Entre os presentes no lançamento em Brasília, estavam o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), o ex-secretário do Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, e o ex-secretário-executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys. Guedes não esteve presente por dificuldade em compatibilizar as agendas, de acordo com Sachsida.

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Carlos Bolsonaro e Sachsida
Adolfo Sachsida, ex-secretário de Política Econômica e ex-ministro de Minas e Energia
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Paulo Guedes e Adolfo Sachsida

Edu Andrade/Ascom Ministério da Economia
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Adolfo Sachsida, ex-secretário de Política Econômica e ex-ministro de Minas e Energia

Anderson Riedel/PR

Em conversa com a reportagem, Sachsida nega que o livro, de 288 páginas, tenha o intuito de fazer uma defesa do governo anterior. “É um registro histórico. O livro não está desenhado para ser defesa. Ele está desenhado para ser um registro histórico do que aconteceu”, diz ele, afirmando que a ideia é que a obra seja usada em cursos de economia e administração em disciplinas como histórica econômica e formação econômica do Brasil. “Você tem todo o direito do mundo de discordar. Mas vamos olhar os dados”, argumenta.

“Tem uma frase que eu gosto muito que diz o seguinte: ‘Eu acredito em Deus, todos os demais devem apresentar dados’. Então, o convite que eu faço não é A ou B, vamos olhar o Brasil, cara. Vamos olhar o que está dando certo e vamos manter”, sustenta Sachsida. “Honestamente, prefiro olhar dados e segue o jogo.”

Segundo ele, o livro não quer criar polêmica. “Chega de polêmica, ninguém aguenta mais isso. Em vez de a gente ficar procurando onde a gente difere, vamos começar a procurar onde a gente tem consenso? O livro é esse convite”.

Pandemia, teto de gastos e Temer

Tratada em um capítulo próprio do livro, a pandemia de Covid-19 é citada como “um dos piores choques negativos enfrentados pela economia brasileira”, ao lado do desastre ambiental de Brumadinho (MG) e da invasão da Ucrânia pela Rússia, que acarretaram em aumento “explosivo” nos preços de energia e no “maior ciclo de aumento da taxa de juros americana desde 1980”.

“Resta evidente que o período de 2019-2022 foi um dos mais desafiadores da história recente. Acrescente-se a isso que o Brasil vinha da mais forte recessão econômica de sua história (2015-2016)”, sustentam os autores. Eles ainda escrevem que Bolsonaro recebeu um país “já abalado por recessões, produtividade estagnada, escândalos de corrupção e endividamento elevado”.

Guedes e Sachsida rechaçam a alcunha de dream team (time dos sonhos), alegando que o time econômico “lutava com todas as forças não para ser campeão da Champions League [Liga dos Campeões da Europa], mas simplesmente para não ser rebaixado à terceira divisão do campeonato brasileiro”.

Sachsida discorda que o teto de gastos, a regra de controle dos gastos públicos introduzida pelo governo Michel Temer (MDB), tenha sido desmontado. O livro, inclusive, faz uma defesa do governo do emedebista.

“Com efeito, o governo Temer conseguiu aprovar uma série importante de reformas”, diz um trecho, que adiciona que boa parte dessas reformas foram mantidas e aprimoradas.

Os ex-auxiliares de Bolsonaro defendem ainda a agenda de privatizações e concessões e a aprovação da lei de autonomia do Banco Central (BC), que tem criado ruídos para o governo petista desde 2023. Sobre a autonomia do BC, Sachsida afirma que “essa é uma contribuição que veio para ficar” e que a diluição do poder leva um ganho para a sociedade como um todo.

Nas dedicatórias, Guedes é sucinto e faz apenas um agradecimento a Bolsonaro e à equipe que o acompanhou. Já Sachsida oferece a obra à Nossa Senhora de Cimbres, distrito que fica na cidade de Pesqueira em Pernambuco. “Nossa Senhora fez diversas aparições em Cimbres entre 1936 e 1937, nosso país precisa conhecer mais nossa bela e iluminada história.”

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