Ex-integrante da Lava Jato: grupo de mensagens era “ambiente de botequim”
Martello disse que as mensagens enviadas no grupo tinham teor informal e eram liberação de “emoção, indignação, protesto, brincadeiras”
atualizado
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O procurador regional Orlando Martello, ex-integrante da Operação Lava-Jato em Curitiba (PR), enviou um e-mail aos colegas de trabalho explicando as motivações das conversas entre procuradores da equipe em um grupo no Telegram.
Martello disse que a comunidade era um “ambiente de botequim” e que as mensagens enviadas no grupo tinham teor informal. As informações do e-mail foram publicadas pelo jornal O Globo na quarta-feira (10/2).
Os diálogos foram divulgados em junho de 2019, pelo site The Intercept. O material contêm trechos de conversas envolvendo o ex-juiz Sergio Moro, o procurador Deltan Dallagnol e outros profissionais da equipe de julgamento do ex-presidente Lula no caso do triplex do Guarujá.
No último dia 1º/2, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski liberou, para a defesa de Lula, as mensagens trocadas entre os procuradores.
No e-mail enviado aos colegas, ao qual o jornal O Globo teve acesso, Orlando Martello diz que os grupos eram uma “área livre, uma área de descarrego em que expressávamos emoção, indignação, protesto, brincadeiras”.
“Quanto a eventuais comentários que alguém possa se sentir ofendido ou entender inapropriado, favor relatar, pois dito em ambiente que se assemelha ao de um botequim, onde se fala um monte de bobeiras”, escreveu.
O procurador afirma que não se lembra da maior parte das conversas, mas não nega que elas foram proferidas. No entanto, ele defende que alguns diálogos foram tirados de contexto ou distorcidos.
“Sinceramente, não me recordo da grande maioria das mensagens… e digo isso com sinceridade mesmo! Foram tantas mensagens, muitas em finais de semana, em dias festivos, de madrugada. Fizemos várias intervenções em plantão de recesso, uma prisão no dia 31, um pouco antes da virada do ano”, disse.
O procurador continuou: “Certamente os diálogos da época podem estar permeados com sons de brindes de espumante e cardápio da ceia. Mas não estou aqui para negar as mensagens, mas para dar satisfação!”
“Nossos ‘nudes'”
Martello defendeu que todas as decisões relacionadas à Operação Lava-Jato eram tomadas em reuniões presenciais, e que o grupo era uma área de “brincadeiras”.
“Sem dúvidas, podemos ter extrapolado muitas vezes. Eram (ou são) os nossos ‘nudes’, uma área em que os pensamentos são externados livremente e sem censura entre amigos, alguns de mais de décadas. Expostos a terceiros, causa vergonha!”, disse.
O procurador cita a expressão “equipe de Moro”, usada por um participante do grupo em conversa. Ele afirma que o termo foi uma ironia à uma reportagem publicada em veículo de comunicação, que utilizou a expressão para falar dos integrantes da força-tarefa.
Para Martello, a expressão foi mal interpretada na divulgação dos diálogos. “Não bastasse, na exposição dessas mensagens, a questão se agrava quando a reportagem suprime um ‘kkk’ da linha imediatamente abaixo do texto ou ignora o ‘kkk’ tardio, que veio mais à frente, atropelado pela enxurrada de mensagens que se seguiram. Também a inobservância do contexto é suficiente para alterar todo o sentido da mensagem”, defendeu.
Por fim, Orlando disse que a razão sempre prevaleceu e que “tudo o que era relevante” do ponto de vista jurídico “foi para os processos, sem qualquer omissão”. ” Lá (nos autos), penso, que nossas atuações devem ser analisadas e contestadas; jamais nos pensamentos, que são externados livremente e sem censura entre amigos em uma rede informal de comunicação”, concluiu.