Estudo revela aumento no abuso de álcool por mulheres e idosos
Consumo de bebidas cai entre os brasileiros, mas internações de mulheres devido ao uso da substância crescem 19,5% entre 2010 e 2018
atualizado
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O brasileiro consome menos bebidas alcoólicas, em média, do que a população mundial, e tem reduzido o hábito nos últimos anos, um comportamento que tem impacto positivo na redução das mortes e nos gastos públicos e privados com saúde. Apesar das boas notícias, há grupos na sociedade – mulheres, jovens e idosos – em que tanto o consumo quanto o abuso seguem tendência de alta, um alerta para a necessidade de formulação de políticas públicas voltadas para esses setores.
Um amplo levantamento divulgado nessa terça-feira (03/03/2020) mostra que houve aumento de 19,5% nas internações de mulheres por causas relacionadas ao álcool entre 2010 e 2018, passando de 85.311 casos para 101.902. No mesmo período, o consumo médio da substância por pessoa no país caiu 11%, de 8,8 litros para 7,8 litros por ano.
Os dados constam na publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros – Panorama 2020, elaborada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), que reúne pesquisadores de instituições de todo o país especializados no estudo do álcool e suas consequências.
“É um estudo que aponta avanços, mas também alerta para os gargalos. Nos ajuda a ver onde podemos fazer mais, enquanto sociedade, para conscientizar e prevenir. Para isso, ter dados confiáveis é fundamental”, explica a biomédica Erica Siu, coordenadora do Cisa e pesquisadora do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
“As mulheres estão se mostrando uma população cada vez mais vulnerável aos efeitos do abuso do álcool, assim como os jovens. Temos um consumo per capita em queda, mas uma idade média de início de 12 anos e meio. É muito precoce”, avalia ela.
O estudo mostra que, apesar da proibição do consumo com menos de 18 anos, os jovens conseguem comprar bebida alcoólica em bares e mercados (14,4%), têm acesso ao produto em festas (43,8%) e bebem com alguém da família (9,4%).
Em comparação
Para se ter noção do impacto no aumento de 19,5% nas internações de mulheres relacionadas ao álcool, é preciso comparar o número com outros grupos sociais: diminuiu 1,2% entre os homens no período (2010 a 2018) e cresceu 4,1% na população em geral.
O número de mortes de mulheres por causas relacionadas ao álcool também cresceu: de 13.813 óbitos no país em 2010 para 15.876 em 2017, um aumento de 15% (contra 6,1% na população geral e 3,7% entre os homens). As mortes atribuíveis ao álcool foram 5,35% de todas as mortes registradas em 2017.
Tomando um porre
O estudo também registra o que classifica como “consumo abusivo“, que é a ingestão de 60 gramas ou mais (cerca de 4 doses ou mais) de álcool puro em uma única ocasião ao menos uma vez ao mês. A partir de dados do Ministério da Saúde, o Cisa apurou que, entre 2010 e 2018, houve um aumento neste padrão de uso de 14,9% para 18% na faixa etária de 18 a 24 anos, e de 10,9% para 14% entre 35 e 44 anos.
Idosos e álcool
Na faixa etária a partir de 55 anos, o aumento no consumo de álcool é ainda mais expressivo do que entre as mulheres. Eles representavam 26% das pessoas internadas por motivos relacionados à bebida em 2010 e passaram a representar 33% em 2018.
Os idosos também são a maioria nos casos de óbitos por uso de álcool: 48%, ou seja, 7% a mais do que 2010.
O Brasil registrou 40 internações por uso de álcool por hora, em 2018, e as principais causas são: acidente de trânsito (19,7%), outras lesões não-intencionais (15,4%), transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool (14,5%) e quedas (12,9%).
Brasil x mundo
Segundo o estudo, o hábito da bebida em algum grau está em aproximadamente 40% da população. A média mundial é de 43% e, nas Américas, de 54%. Quem bebe no Brasil, porém, bebe mais que os gringos. São, em média, 3 doses por dia, contra 2,3 doses no resto do mundo.