Estudo aponta que 86% dos mortos pela polícia no RJ são negros
Boletim da Rede de Observatórios da Segurança aponta que estado é o que mais produz mortes em ações policiais, mesmo com redução de óbitos
atualizado
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Rio de Janeiro – Uma pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança divulgada nesta terça-feira (14/12) aponta que 86% dos mortos pela polícia no estado do Rio de Janeiro são negros. Ao todo, foram registradas 1.245 mortes no ano passado, 31% a menos que o número contabilizado em 2019.
Apesar da redução, este é o terceiro maior número da história do boletim, o que mantém o Rio como o “estado que mais produz mortes em ações e intervenções das polícias“.
A capital fluminense foi a que mais registrou mortes (415) e, assim como no estado, a maior parte das vítimas era negra (90%).
Intitulado “Pele alvo: a cor da violência policial”, o boletim cita o caso do menino João Pedro Mattos Pinto, 14 anos, morto em uma operação no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, em maio de 2020. Fala também da operação Exceptis, da Polícia Civil do Rio, na favela do Jacarezinho, que terminou com 28 mortos em maio, e a morte da designer de interiores Katleen Romeu, no Complexo do Lins, em junho deste ano.
Embora os dois últimos tenham ocorrido em 2021, são episódios que retratam a violência no estado, segundo a pesquisa.
Sete estados foram mapeados: Bahia, Ceará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão. Nos seis primeiros, houve 2.653 mortes, com 82,7% de pessoas negras. A Rede de Observatórios da Segurança ressaltou que o estado do Maranhão não faz contabilização étnica de vítimas de violência. Portanto, não foi possível extrair números neste sentido.
“Em todos os estados, a presença de negros entre os mortos pela polícia é bem maior do que na composição populacional dos estados, mostrando que a morte pela ponta de um fuzil carregado por um policial atinge de maneira desproporcional os negros em relação aos não negros”, afirmou o boletim.
Redução de mortes
Os pesquisadores apontam que, no caso do Rio, a pandemia da Covid-19 e a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, que restringe operações policiais em favelas, contribuíram para a redução de mortes. Porém, de acordo com eles, a crise sanitária não explica os índices que aumentaram de 2019 para 2020, como os de violência no Maranhão e em Pernambuco, que cresceram 34,72% e 53%, por exemplo.
“[Os dados] mostram que mesmo em um contexto de crise sanitária mundial o racismo não dá trégua e, pelo contrário, mata ainda mais, tanto por vírus como por tiro. As crianças João Pedro, Juan Ferreira, Emily e Rebecca são alguns desses ‘inimigos’ abatidos pelas forças do Estado”, ressaltou o estudo.
São Paulo foi o estado com maior número de mortes provocadas pela polícia, com 814 vítimas, uma a mais que em 2019. 63% delas eram negras. Em relação à capital paulista, o percentual sobe para 69%. Em número de casos (317), perde apenas para o Rio.
Além disso, dos estados do Nordeste, a Bahia foi o mais letal, com 98% vítimas negras mortas pela polícia. Lá, fica a cidade que, segundo o estudo, mais mata negros no Brasil: Santo Antônio de Jesus.