“Estou querendo medicina”, disse jovem em carta antes de morrer em GO
A adolescente, de 17 anos, morreu após ter intestino perfurado durante um procedimento cirúrgico; médico foi indicado por homicídio culposo
atualizado
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Goiânia – O sonho de ser médica pode ter sido interrompido por um erro. A jovem Milleny Lopes Costa, que morreu aos 17 anos, após ter o intestino perfurado durante procedimento cirúrgico na capital goiana, explicitou em carta o desejo de seguir carreira na medicina. Nos escritos, a adolescente projetava os anos seguintes como os melhores de sua vida.
“Olá, Milleny do futuro. No momento, ainda estou querendo medicina. Que agora, com 18 anos, eu continue com muito juízo e seja muito feliz fazendo o que eu gosto. Que seja o melhor ano da minha vida”, escreveu a jovem em carta, a qual a TV Anhanguera/Globo teve acesso. O texto foi escrito pela adolescente aos 15 anos, para que lesse ao completar a maioridade.
Milleny morreu no dia 6 de setembro de 2020, com um quadro de infecção generalizada, após perfuração do intestino. A Polícia Civil de Goiás (PCGO) concluiu que houve negligência médica por parte do médico que operou a jovem, Wilson Moisés Oliveira Martins, que foi indiciado por homicídio culposo, no último dia 15/6.
À emissora, a mãe da adolescente, Ruth Lopes Vieira, de 50 anos, ex-candidata à prefeitura de Senador Canedo, contou que a filha era apaixonada pela vida. De acordo com ela, a moça sempre colocava os sonhos no papel.
“Ela escreveu outra carta para abrir no casamento. Então, ela estava programada para viver uma vida, que foi interrompida. O que queremos é justiça. Isso vai nos dar um consolo, vai nos dar mais paz”, afirmou a mulher.
Negligência
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) aponta que a morte da adolescente se deu em decorrência de um procedimento chamado Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE), que teria causado a perfuração intestinal e, posteriormente a infecção generalizada.
Conforme a perícia, o procedimento apresenta o risco de furar o intestino. No entanto, o documento descreve que o diagnóstico precoce e tratamento adequado poderiam diminuir os riscos. O laudo concluiu ainda que houve falta de assistência médica após a cirurgia.
Histórico hospitalar
A mãe da adolescente relatou que Milleny foi submetida a uma cirurgia para a retirada da vesícula no dia 20 de agosto de 2020. O procedimento foi feito por um médico amigo da família no hospital Goiânia Leste. A jovem recebeu alta médica no dia seguinte.
Duas semanas depois, a jovem se queixou de dores abdominais e voltou ao mesmo hospital, onde foi internada no dia 4 de setembro. Na data, ela passou por um novo procedimento cirúrgico, este realizado pelo dr. Wilson, pois o médico amigo da família não estava disponível.
“A gente estava até planejando viajar no dia seguinte, quando ela passou mal. Ela estava gritando de dor. Foi quase desmaiando para o hospital”, disse a mãe à TV.
A família conta que o médico não informou o procedimento que seria realizado na jovem. “A cirurgia foi feita às 11h e o médico só apareceu às 20h. Ela suava de tanta dor. Quando ele [o médico] chegou, à noite, ele falou que nós estávamos descontroladas, que estava tudo bem com ela. A gente sabia que não estava”, disse a mãe. De acordo com o inquérito policial, neste dia foi realizada a CPRE.
Ainda segundo Ruth, no dia seguinte à cirurgia, quando chegou para visitar a filha, o médico estava realizando outro procedimento no próprio quarto e, novamente, sem informar à família sobre do que se tratava.
Agravamento do quadro e morte
A mãe da jovem disse que depois do terceiro procedimento, no quarto, entrou em contato com uma médica conhecida e contou que estava com medo de a filha morrer no local. Com isso, a jovem foi transferida para o Hospital do Coração, também em Goiânia, onde chegou em estado grave e foi internada em uma unidade de terapia intensiva (UTI).
Já no novo hospital, a adolescente passou por novos exames e a família foi informada de que a jovem precisaria de uma nova cirurgia, na qual foi constatada a perfuração no intestino. A equipe médica verificou que o órgão estava perfurado há dois dias e o líquido já estava espalhado pelo corpo. O quadro agravado levou a uma infecção generalizada e Milleny morreu no dia seguinte.
O Metrópoles entrou em contato por e-mail com o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (CREMEGO) e foi informado de que casos dessa natureza tramitam em segredo de justiça. Já o Hospital Goiânia Leste não deu retorno ao portal até o fechamento desta reportagem. Quanto à defesa do médico, o advogado Thiago Oliveira informou que não irá se pronunciar sobre o caso.