Estagnado, Lula 3 enfrenta desafios econômicos para melhorar aprovação
Ao final do segundo ano de mandato, Lula tem dificuldade em melhorar números da aprovação e vê economia como principal desafio
atualizado
Compartilhar notícia
Prestar a entrar no terceiro ano deste mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem a questão econômica como principal entrave para melhorar a avaliação do governo. Pesquisa Quaest divulgada nessa semana aponta uma certa estagnação na aprovação do trabalho do petista.
O histórico do Lula 3 mostra que em agosto de 2023 houve um pico na avaliação positiva de Lula, chegando a 60%. No levantamento seguinte, no entanto, caiu para 54% e, desde então, o índice vem oscilando e não voltou ao patamar do início do mandato. Atualmente, a aprovação está em 52%.
De acordo com o levantamento, o presidente perdeu terreno em estratos que ajudaram a definir a eleição de 2022. Na região Sudeste, a rejeição superou a aprovação. Entre os brasileiros que recebem de dois a cinco salários mínimos a avaliação positiva passou de 54% em junho de 2023 a 48% dezembro de 2024.
Segundo o cientista político Tiago Valenciano, é comum que no começo da gestão o índice seja mais elevado, como num período de lua de mel, em que as pessoas têm mais esperança nas mudanças prometidas. Mas a tendência é que, com o passar do tempo esse cenário mude e o governo precisa se movimentar para recuperar a confiança do eleitor.
“Você sai de uma ‘lua de mel’ ali no começo de gestão, em 2023, e aí começa a estabilizar os níveis até o que a gente tem visto agora: um leve crescente para a reprovação em muitos estratos relevantes da população”, pontua o especialista.
“Daqui para a frente o governo vai ter que agir de uma maneira um pouco mais brusca. Já está tentando fazer isso agora nesse final de ano, com emendas parlamentares, mexendo em pontos de importância da legislação federal — passou vários projetos Câmara em relação a isso. Então, já começa a querer corrigir a rota, ou seja, trazer uma rota mais voltada para aquilo que a população espera, porque senão o resultado eleitoral daqui a dois anos pode ser um pouco mais complicado para o atual presidente”, avalia.
O especialista aponta que a economia é um dos principais desafios para melhorar a avaliação do petista e dar fôlego a uma eventual tentativa de reeleição. “O brasileiro está cada vez mais com a sensação de que está trabalhando cada vez mais e ganhando menos. E essa sensação acaba se refletindo nas urnas.”
Economia em baixa
A pesquisa Quaest também indicou que o brasileiro tem uma percepção negativa sobre a economia. Para 68% dos entrevistados, o poder de compra hoje é menor se comparado ao ano passado. O preço dos alimentos subiu para 78% dos que responderam ao levantamento. Também é alto o percentual dos que avaliam que as contas de luz e água aumentaram (65%), assim como o preço da gasolina (59%).
Na avaliação do economista e doutor em relações internacionais Igor Lucena os números são reflexo de um cenário econômico que não condiz com o que foi prometido durante a campanha eleitoral, além de uma falta de perspectiva de melhora.
“Por mais que tenha um PIB crescendo a 3% — e, na minha opinião, isso está ‘anabolizado’ por uma questão de gastos públicos —, o PIB per capita não vem aumentando. E você tem uma questão de que produtividade também não aumenta. Então, tem uma grande parcela da população que vê uma diminuição da inflação, mas os preços ainda estão muito altos”, considera Lucena.
Para o especialista, o governo também erra ao não adotar uma medida robusta de contenção de gastos, o que repercute nos números da inflação. “Quando você tem mais inflação, não adianta gastar, porque a situação fica pior para o mais pobre”, ressalta.
Por fim, Lucena também destaca que o “fator terceiro mandato” também pesa sobre a avaliação da atual gestão do petista. “[antes de Lula] a gente nunca teve um presidente eleito pela terceira vez, mas sempre quando há um terceiro mandato de mandatários [governador, por exemplo] no Brasil, o terceiro sempre é pior. O terceiro não tem muitas mudanças, muitas inovações, e tudo isso torna-se extremamente difícil para ser contornado”, lembra.