Estados da Amazônia concentraram 52% dos conflitos por terra em 2021
Os dados fazem parte de levantamento da Comissão Pastoral pela Terra (CPT), publicado nesta segunda-feira (18/4)
atualizado
Compartilhar notícia
Alvo de grileiros, garimpeiros, madeireiros e grandes empresários, os estados da Amazônia concentraram 52% dos conflitos por terra no Brasil durante o ano de 2021. Os dados fazem parte de levantamento da Comissão Pastoral pela Terra (CPT), publicado nesta segunda-feira (18/4), ao qual o Metrópoles teve acesso.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Amazônia Legal é composta por Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão.
Segundo a CPT, o ranking dos cinco estados com maior concentração de conflitos é majoritariamente ocupado por unidades federativas que fazem parte da Amazônia: Pará, Maranhão, Mato Grosso e Rondônia. Em 2021, apenas dois estados da lista não estão no território: Bahia e Pernambuco.
“Nesta região, a violência segue o ritmo do desmatamento, da pastagem e da soja, sempre rumo ao norte, em uma verdadeira cruzada de saque (desmatamento e minério), apropriação ilícita de terras públicas (grilagem) e violência física contra povos tradicionais, em seus territórios ocupados (expulsão, pistolagem e assassinatos)”, ressalta a CPT em relatório.
De acordo com o estudo, somente na região norte, foram 488 conflitos por terra em 2021. No nordeste, o número foi de 376. O estado com maior número de registros foi o Pará (156 ocorrências), seguido pela Bahia (134 ocorrências), Maranhão (97 ocorrências), Pernambuco (88 ocorrências) e Mato Grosso (79 ocorrências).
Ainda de acordo com o estudo da CPT, a Amazônia concentra 61% do número de famílias envolvidas em conflitos por terra em 2021. Os cinco primeiros estados da lista são Pará (31.445 famílias), Roraima (18.917 famílias), Bahia (15.511 famílias), Maranhão (14.377 famílias) e Acre (10.567 famílias).
Região vulnerável
Os dados publicados pela CPT são de 2021, mas a comissão já tem um levantamento preliminar sobre os registros de 2022. De acordo com a instituição, neste ano, já foram registrados 14 assassinatos em conflitos no campo. A maior parte (4 ocorrências) ocorreu no Pará.
Neste mês de abril, conflitos nas comunidades Yanomami, em Roraima, e Xipaya, no Pará, também chamaram atenção de organizações que atuam na defesa de povos indígenas e no combate aos conflitos por terra.
Segundo Andréia Silvério, coordenadora nacional da CPT, a expansão da fronteira agrícola na região amazônica é uma das razões que explicam os conflitos frequentes. “A gente observa uma movimentação de empresas relacionadas ao agronegócio, às mineradoras, exploradoras de recursos naturais, grileiros, garimpeiros. E tem avançado sobre regiões ainda muito protegidas, onde estão as principais reservas minerais, hídricas e florestais”, explica.
De acordo com a coordenadora, os conflitos se intensificaram a partir de 2015, após o momento de ruptura política. “A gente tem percebido que a demanda dessas comunidades não têm sido atendidas. Isso se intensificou no governo [de Jair] Bolsonaro (PL)”, explica.
De acordo com a instituição, foram registrados 35 assassinatos em conflitos no campo em 2021, um aumento de 75% em relação ao ano de 2020. Do total, 11 mortes foram em Rondônia. Outro massacre ocorreu em Mucajaí, sul de Roraima, com a morte de três indígenas Moxihatëtëa, que pertencem a um subgrupo Yanomami.
Além disso, segundo o relatório, entre 2020 e 2021, houve aumento de 12% em relação ao número de famílias despejadas em conflitos no campo em todo o país: foram 2.143 grupos. Também houve crescimento de 215% no número de casas destruídas, passando de 1.991 para 6.269.
“O impacto não é só nos recursos ambientais e nos bens naturais existentes dentro dessas áreas, mas há impacto no modo de vida dessas sociedades. São impactos sociais gravíssimos, destruições de casas, expulsões das famílias de suas áreas. Todas ações estratégicas adotadas por esses grupos, como garimpeiros, grileiros e fazendeiros, na tentativa de implatar essa lógica capitalista de apropriação dos recursos naturais”, analisa a coordenadora.