metropoles.com

Estados atrasam pagamentos por tornozeleiras eletrônicas

Atualmente, três empresas brasileiras operam neste mercado, os estrangeiros querem entrar, e a procura pelo equipamento só aumenta

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Lucas Lacaz Ruiz/AE
Tornozeleiras
1 de 1 Tornozeleiras - Foto: Lucas Lacaz Ruiz/AE

A mesma tempestade política que afetou a economia deve fazer dobrar de tamanho neste ano o mercado de tornozeleiras eletrônicas. Atualmente, três empresas brasileiras operam neste mercado, os estrangeiros querem entrar e a procura pelo equipamento só aumenta. A situação não é melhor apenas porque os principais clientes — os estados — atrasam os pagamentos às companhias que monitoram presos com tornozeleiras.

Com os cofres vazios, o Rio de Janeiro atrasou por 15 meses o repasse dos recursos para a empresa que presta esse serviço, a Spacecom, maior companhia do setor. A empresa acompanha os 705 monitorados no estado, ao custo mensal de R$ 252, por pessoa. O governo fluminense fechou um acordo para parcelar o pagamento do serviço, como vem fazendo com a maior parte dos fornecedores e com os servidores, que estão com salários atrasados.

Os governos de Goiás e do Piauí também atrasaram o pagamento pelo serviço. Os dois estados contam com 318 e 920 equipamentos em funcionamento, ao custo unitário de R$ 283 e R$ 275 por mês, respectivamente.

Popularizados após a Operação Lava Jato, os equipamentos servem para controlar os detentos a distância e o seu uso tem aumentado no Brasil. Os estados atualmente têm licitações abertas para a inclusão de 40 mil monitorados. A fábrica da Spacecom, em Manaus (AM), por exemplo, pode produzir até 50 mil tornozeleiras por ano.

“Os estados não querem ficar sem o serviço, porque veem a tornozeleira como uma forma de ajudar a desafogar o sistema penitenciário, sempre lotado, e de evitar que aquele preso por um crime leve conviva com os mais perigosos”, conta o diretor da empresa, Sávio Bloomfield. Quase todas as 19 unidades da federação em que a empresa atua atrasaram o pagamento desde a crise.

Nas licitações de contratação do serviço, o estado especifica o número de aparelhos que ficarão disponíveis para a Justiça durante determinado período. Também informa se a empresa vencedora fará o monitoramento dos usuários ou vai apenas treinar agentes públicos para a função. O custo por mês de cada tornozeleira varia — em média, é de R$ 280.

Famosos
Além dos governos estaduais, a Spacecom fornece o equipamento para a Justiça Federal do Paraná, responsável pelos casos da Lava Jato. Entre os usuários mais famosos das tornozeleiras da fabricante paranaense estão o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) e o ex-assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB) e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

“A Lava Jato não influenciou no crescimento do mercado, mas ajudou a tornar o produto mais conhecido pela população. Os magistrados já estavam acostumados com a tecnologia, pelas experiências internacionais”, explica Marcelo Ribeiro de Almeida, da Synergye, que tem contratos em sete estados e na Costa Rica.

“Hoje o mercado é dominado pelos brasileiros, mas há fabricantes de fora interessados em fornecer os equipamentos para o Brasil. Por enquanto, o preço das licitações e as especificidades técnicas, como a necessidade de ter dois chips, freiam a entrada de estrangeiros”, avalia o dono da UE Tecnologia, Marcelo de Almeida.

O equipamento usa uma tecnologia de GPS para determinar a localização do usuário, um modem para transmissão de dados e dois chips de celular, para o caso do sinal de uma das operadoras ser interrompido. Mesmo quando o reeducando passa por um local sem sinal de telefonia, o aparelho deve registrar seus movimentos e os transmite para a central de monitoramento assim que ele passa por uma região com cobertura de celular.

A tornozeleira não é uma algema, é feita de material leve, mas um sinal é acionado na central, em caso de rompimento ou quando a área permitida de circulação é desrespeitada. Em média, a bateria do equipamento precisa ser recarregada uma vez por dia e a tornozeleira pesa cerca de 120 gramas, além de ser à prova d’água.

Desde 2010, os equipamentos podem ser usados para o controle de presos em liberdade condicional, no regime semiaberto ou em deslocamentos programados. Em 2011, a então presidente Dilma Rousseff (PT) sancionou uma lei que permite que a tornozeleira seja usada como medida preventiva.

Os aparelhos não são imunes a fraudes. Há registro de extravio de lacres e o caso de um preso no Rio Grande do Sul que prendia a tornozeleira no pescoço de um galo. Segundo as empresas, as falhas são pontuais e o sistema é seguro.

O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) tem, atualmente, 22 convênios federais em vigência, em 22 estados, cujo foco é a implantação de centrais de monitoramento eletrônico, com um total de investimento de R$ 34,3 milhões.

Em nota, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) do Rio de Janeiro informou que vem se esforçando para honrar seus compromissos junto aos fornecedores. Além do caixa em baixa, fraudes e desvios deram prejuízo de mais de R$ 12 milhões, segundo o Ministério Público do Rio. Pela investigação, as irregularidades se deram na Seap.

O Piauí diz que está providenciando o pagamento das parcelas em atraso do contrato atual, que vai até dezembro, e que “está realizando novo processo licitatório que vai ampliar em 3 mil o número de tornozeleiras”. Goiás afirma que efetuou os pagamentos até abril.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?