Estado sufocado pela fumaça tem “incêndio vingança” de grileiros
Relatórios de inteligência mostram que insatisfeitos com fiscalização aproveitaram caos de incêndios no país para intensificar queimadas
atualizado
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Grupos de grileiros teriam ateado fogo em unidades de conservação de Rondônia como resposta a fiscalizações que retiraram eles dessas áreas. Além disso, teriam intensificado o fogo se aproveitando do caos no resto do país, que sofre com a multiplicação de focos de incêndio.
Isso é o que mostram relatórios de inteligência da Secretaria de Segurança Pública que circulam entre as autoridades do estado. Rondônia tem se destacado como a região com a pior qualidade do ar, atingida pela fumaça dos incêndios florestais não só de seu território, mas também dos estados vizinhos.
As duas unidades de conservação que foram atingidas intensamente pelas chamas nos últimos meses no estado do Norte do Brasil são Guajará-Mirim e Soldados da Borracha. Ambas são alvos de grileiros, que ocupam a terra de maneira ilegal.
“Depois da invasão e tentativa de grilagem, a terra é desmatada, a madeira é explorada economicamente, e, em seguida, o fogo é usado para limpar a área, permitindo o plantio de capim e a pecuária extensiva”, explica o promotor Pablo Hernandez Viscardi, responsável pelo Grupo de Atuação Espacial em Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público de Rondônia (MPRO).
Policiais da inteligência identificaram que grileiros expulsos em ações de fiscalização do Guajará-Mirim estão ateando fogo como uma vingança por causa de ações de fiscalização do ano passado que tiraram os invasores da unidade de conservação. Ao mesmo tempo, os incêndios fora do controle em todo país teriam estimulado esses criminosos.
Ciclo da grilagem
De acordo com o promotor, os incendiários são organizados e estruturados que promovem queimadas em terras públicas, unidades de conservação e terras indígenas no estado.
Pelo menos dois grupos foram identificados como responsáveis pelo desmatamento. A investigação segue em sigilo. Depois de se apropriar das terras, eles exploram a pecuária no local ou vendem a propriedade utilizando documentos falsos.
“Esse fogo está nessa intensidade por causa dos desmates dos anos passados. Os desmatamentos diminuíram. Já os focos de incêndio estão três vezes maiores que no ano passado”, diz o promotor Viscardi.
Durante o mês passado, a qualidade do ar de Porto Velho foi classificada como a pior do Brasil, na categoria insalubre, conforme levantamento da IQAir, empresa suíça de tecnologia. No auge da fumaça, era comum o cancelamento de pousos no aeroporto da capital.
Mais de 200 presos
Pelo menos 208 pessoas foram presas ou detidas por provocar incêndios no Brasil neste ano.
A maioria dos presos são de Roraima, Rondônia, Goiás e São Paulo, segundo levantamento da reportagem em secretarias de segurança pública.
Uma das dificuldades é conseguir comprovar o dolo, que a intenção da pessoa em provocar o incêndio florestal. Isso demanda investigações complexas, segundo o promotor de Rondônia.
O comandante do Batalhão da Polícia Ambiental de Rondônia, tenente-coronel Adenilson Silva Chagas, disse para o Metrópoles que as pessoas abordadas pelas equipes policiais acabam respondendo por incêndio culposo, sem intenção. Normalmente, apenas comparecem nas delegacias e é aberto um termo circunstanciado de ocorrência.
Essa situação tem mudado nas prisões mais recentes na atual onda de incêndios no país. Em São Paulo, por exemplo, dos 26 presos por incêndio desde o final de agosto, 16 continuam atrás das grades.