Espião dos EUA tentou vender segredos de submarino nuclear ao Brasil
Informação foi publicada nesta terça (15/3) pelo jornal The New York Times. Engenheiro naval e sua esposa foram presos em outubro de 2021
atualizado
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Um engenheiro naval e a esposa, presos desde outubro de 2021 nos Estados Unidos por espionagem, tentaram vender ao Brasil tecnologia secreta dos reatores que impulsionam os submarinos nucleares norte-americanos. A revelação foi feita nesta terça-feira (15/3) pelo jornal The New York Times (NYT), que contou toda a saga do casal e seus contatos com autoridades brasileiras, do roubo dos segredos à colaboração do governo do país com o FBI.
Jonathan Toebbe trabalhava em uma unidade da Marinha dos EUA em Washington, de onde passou anos roubando documentos sobre os reatores nucleares dos submarinos. Segundo a reportagem, ele e a mulher, Diana, decidiram em 2020 que venderiam o material secreto.
Eles avaliaram, contudo, que fazer negócios com os maiores rivais dos norte-americanos, a Rússia e a China, seria algo imoral – mesmo para quem estava pensando em entregar segredos de segurança nacional do país para uma nação estrangeira.
Teriam, então, chegado à conclusão de que havia um país rico o suficiente, não hostil ao governo dos EUA e muito interessado na tecnologia em que tinham colocado as mãos: o Brasil.
Segundo a reportagem do NYT, mensagens de texto reveladas no tribunal que conduz o processo contra o casal, revelam que os dois teriam mandado uma carta a uma agência não identificada da inteligência brasileira.
As autoridades brasileiras, contudo, não só decidiram rejeitar a compra das informações como imediatamente procuraram o adido do FBI no Brasil. A agência norte-americana decidiu então partir para uma operação destinada a pegar os espiões em flagrante. Colocaram uma pessoa se passando por um oficial brasileiro para fingir que o governo do país estava sim muito interessado em adquirir os segredos à venda.
Jonathan Toebbe teria eventualmente concordado em entregar documentos e oferecer assistência técnica ao programa da Marinha do Brasil, que sonha em criar o primeiro submarino nuclear do país.
Depois de meses nesse vai e vem, o FBI prendeu, em outubro do ano passado, Jonathan e Diana, que viviam em Annapolis, cidade do estado de Maryland, a 40 km de Washington.
Em fevereiro de 2022, os dois se declararam culpados das acusações de espionagem. Ele pode pegar uma pena estimada em 17 anos de prisão; ela, de três.
O projeto brasileiro
O atual projeto para desenvolvimento do primeiro Submarino com Propulsão Nuclear Brasileiro (SN-BR) começou em julho de 2012, no primeiro governo de Dilma Rousseff (PT), mas o interesse do país no equipamento remonta a 1978, ainda na ditadura militar. Teve espasmos de interesse das autoridades nos governos seguintes pós-redemocratização, como em 2009, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou que o país investiria mais fortemente na área.
A ideia é que uma eventual primeira unidade nuclear submarina seja entregue até o fim de 2029. A Marinha ainda não conseguiu avançar para algo próximo da construção da embarcação, mas já escolheu nome para a possibilidade de o projeto avançar: “Álvaro Alberto”, em homenagem ao vice-almirante e cientista brasileiro que começou o programa nuclear brasileiro e fundou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).