“Esperança”: 4 anos após incêndio, Museu Nacional reinaugura fachada
Obras de reconstrução e restauração começaram em novembro de 2021. UFRJ afirma que ainda faltam recursos para finalização das obras, em 2026
atualizado
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Rio de Janeiro – Quatro anos após a tragédia que destruiu parte do acervo mais importante do país, o Museu Nacional inicia seu processo de reabertura. Uma das primeiras entregas, no bloco histórico, é feita nessa sexta-feira (2/9), e conta com a restauração da fachada, de esculturas e do jardim.
Para o vice-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Frederico Leão Rocha, o momento é de muita alegria para o corpo acadêmico. “Estamos iniciando a reconstrução de um patrimônio do Rio de Janeiro, do Brasil. Essa reconstrução mostra que temos condições de devolver esse patrimônio e estamos cumprindo nosso compromisso, dentro do prazo que estabelecemos no cronograma”, afirma, em entrevista ao Metrópoles.
O processo de reconstrução e restauração do Paço de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio, começou há quase um ano. Com recursos obtidos por meio de doações de pessoas físicas e parceiros, o valor arrecadado soma R$ 244 milhões. No entanto, ainda é distante do estipulado para a conclusão do projeto, que, em 2021, chegava a R$ 350 milhões.
“Olhamos para esse momento e esperamos que sirva como incentivo para que as pessoas e, principalmente, as empresas participem desse esforço. Precisamos conseguir mais recursos para finalizar essa obra, e o que estamos demonstrando é que nós podemos finalizar e voltar com esse patrimônio”, completa.
Essa etapa das obras faz parte das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil. O planejamento inicial era que fosse inaugurada no dia 7 de setembro, mas foi adiantada em decorrência dos atos pela capital fluminense.
Do resgate à esperança
Para as coordenadoras do resgate das peças do Museu Nacional logo após o incêndio, Luciana Carvalho e Claudia Rodrigues, o momento é caracterizado pela esperança de novos tempos.
“É o início de um novo tempo. Para a equipe do resgate, que trabalhou lá dentro, em condições difíceis, convivendo com a destruição, ver esse momento de renovação é muito revigorante, é muito forte. Vai ser muito fundamental para a gente continuar. Todo mundo que trabalhou e trabalha no museu está esperando por esse dia”, afirma Claudia, emocionada.
Segundo ela, a reinauguração da fachada do prédio é a materialização de que o museu vive. “Nem o incêndio conseguiu apagar o museu, que se mobilizou, que logo depois de tudo já estava fazendo planos e fazendo evento para o público. É aquilo que sabemos que vamos conseguir realizar, ter o museu, esse monumento da história novamente aberto. Isso é absolutamente fundamental”, completa a pesquisadora.
O sentimento é compartilhado por Luciana, que trabalha na instituição há 30 anos. “É um momento muito especial, estamos tendo a chance de ter uma parte do palácio recuperada. Ainda é uma pequena parte, mas isso traz uma imensa esperança de termos o retorno do palácio completo, funcionando como Museu Nacional, com exposições, com o público”, afirma.
Acervo e perdas
No dia 2 de setembro de 2018, as chamas consumiram cerca de 80% dos itens guardados no museu, que foi a casa de 20 milhões de peças. O incêndio foi classificado por especialistas como um dano irreparável e uma tragédia para a história e para a ciência do Brasil.
O Museu Nacional, que é a instituição científica mais antiga do país, completou 204 anos em junho deste ano. Com o incêndio, o berço de inúmeros acervos de peso dependeu da ajuda de mais de 50 pessoas, que trabalharam incansavelmente para recuperar peças sob os escombros.
Dentre o material perdido encontram-se, por exemplo, itens como: o material etnográfico dos povos indígenas, assim como quase todo o acervo do departamento de entomologia, documentos, múmias e fósseis.