Especialistas preveem que renda média do brasileiro continuará a cair
Economistas apontam que, mesmo com taxa de desemprego menor, brasileiro sofrerá mais com redução da média salarial
atualizado
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O rendimento médio do brasileiro no primeiro bimestre de 2022, estimado em R$ 2.511 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está no nível mais baixo desde 2012. E o cenário, segundo especialistas, é de piora para os próximos meses.
O consenso entre analistas econômicos é de que o ano é cercado de incertezas, e a retomada na economia perdeu força com a chegada da Ômicron, em janeiro deste ano. O temor do surgimento de uma nova variante veio exatamente no momento em que empregadores começaram a reabrir as portas de forma mais geral. Com isso, a expectativa é de que a insegurança faça a média salarial continuar a cair, embora o emprego possa seguir com alguma recuperação – mais tímida, mas ainda assim, positiva.
O economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas Rodolpho Tobler aponta que esse índice está diretamente ligado à inflação, que roda, há sete meses consecutivos, acima dos dois dígitos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março teve alta de 1,62%, ante 1,01% em fevereiro. Essa é a maior variação para o mês de março desde 1994, quando o índice foi de 42,75%, no período que antecedeu a implementação do Plano Real.
O mercado de trabalho teve uma desaceleração significativa neste primeiro bimestre. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, enquanto o saldo de vagas nos primeiros dois meses de 2021 foi de 651.756, o número de 2022 foi de 475.862, o equivalente a uma queda de 27%.
Os especialistas ressaltam que a guerra na Ucrânia também intensificou a piora no cenário econômico, deixando empregadores cautelosos e embalando a alta de preços. “As pessoas estão sentindo no bolso a locomoção, a alimentação, um rol de coisas bastante pesadas”, diz o professor.
O setor que mais sofreu nesse cenário foi o do comércio, com uma perda de mais de 50 mil vagas no Brasil. Segundo os analistas, a inflação pesa nesta conta. ”As pessoas estão aguardando um cenário melhor para que elas possam gastar seu dinheiro, elas não estão na normalidade”, afirma Débora Barem, professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB).
Além disso, parte do setor de comércio é ligado à circulação de pessoas, que é prejudicada nos períodos em que a pandemia apresenta uma piora.
O setor de serviços, por outro lado, teve seu melhor primeiro bimestre desde 2020, pouco antes de a pandemia ser declarada, com 316.936 novas vagas criadas. Tobler explica que a alta é resultado direto de uma demanda reprimida que busca uma retomada neste início de ano:
“O setor de serviço não teve como se adaptar tanto, ele teve muita restrição ao longo da pandemia. As pessoas adiaram, postergaram muito o consumo naquele pior momento de 2020 e até metade de 2021. Então, quando as pessoas foram se sentindo mais seguras, foram também ocorrendo as flexibilizações das medidas restritivas, e o setor de serviços começou a ter uma recuperação. Há uma certa demanda reprimida.”
Queda na taxa de desocupação
O panorama geral, porém, não é somente negativo. No primeiro bimestre do ano passado, o país teve a maior taxa de desocupação da série 20-21-22, com 14,6%. Esse ano, o índice chegou a 11,2%, mais baixo até mesmo do que o período pré-pandemia, quando era de 11,8%.
De acordo com Tobler, essa queda é reflexo de uma recuperação da economia, com o mercado de trabalho evoluindo – mesmo que com salários mais baixos. “A tendência que a gente observa agora éde que o índice pode ter alguma oscilação, mas que não vai ter mais essa recuperação tão forte como a gente vem observando desde o meio de 2021. A tendência agora é de uma recuperação muito mais gradual, oscilando em torno desse número de 11%.”
“Em 2021, teve realmente uma melhora, porque foi justamente naquele momento que nós imaginávamos que as coisas iriam retornar. Então, muita gente que estava aguardando durante muito tempo muito por essa possibilidade de retorno investiu, mas lamentavelmente surgiu a Ômicron. E, com esse advento, as pessoas realmente ficaram com um certo receio de fazer aqueles investimentos novamente e ter a retração”, explica Barem.