No Brasil, não há Boeing 777 com motor que causou acidente nos EUA
Aviões do modelo com o motor Pratt & Whitney 4000-112 foram suspensos após um incidente no último sábado (21/2)
atualizado
Compartilhar notícia
Um avião da companhia United Airlines jogou vários destroços enquanto sobrevoava a cidade de Broomfield, no Colorado (EUA). Após o incidente, que aconteceu no último sábado (20/2) e foi documentado em vídeo, a Boeing suspendeu todos os voos com aviões do modelo 777 que usavam motores do tipo Pratt & Whitney (PW) 4000-112.
Veja vídeo do acidente:
O voo contava com 241 passageiros, mas o incidente não deixou ninguém ferido e a aeronave pôde aterrissar sem problemas. O avião saiu de Denver com destino a Honolulu, e retornou ao Aeroporto Internacional de Denver no momento em que a turbina pegou fogo.
Advogado especialista em aviação e ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Ricardo Fenelon lembrou que o Boeing 777 é um dos aviões mais seguros do mundo, e o problema não foi causado por ele, sim pelo motor do avião, fabricado pela PW.
“Estamos falando de 128 aeronaves equipadas com esse motor Pratt & Whitney 4000-112, sendo que apenas 69 estão em operação. Como o setor aéreo vive a maior crise da sua história com a pandemia da Covid-19, 59 aeronaves estão estocadas sem operar”, diz Fenelon em entrevista ao Metrópoles.
A partir do ocorrido de sábado, os 777 equipados com motores Pratt & Whitney no mundo ficaram em solo: os 69 em serviço e os 59 reservas.
Quando questionado se a suspensão dos aviões da Boeing causariam algum impacto financeiro no Brasil, Fenelon ponderou que não.
“Primeiro porque não temos esse modelo aqui. E segundo porque nos últimos meses os voos internacionais para o Brasil estão bastante reduzidos e as companhias que utilizam essa aeronave, como a United [Airlines], já estavam voando para o Brasil com outros modelos.”
Em nota enviada ao Metrópoles, a Anac afirmou a fala de Fenelon, e disse que “não há aeronaves deste modelo utilizando o motor Pratt & Whitney (PW) 4000-112 (PW4077) na frota brasileira”.
Investigações
Autoridades americanas de aviação civil buscam entender o que poderia ter causado o incidente com o avião da Boeing. Avaliações preliminares indicam que poderia ter sido causado por “fadiga do metal” das hélices do motor.
Esse fenômeno físico se deve ao uso do material por muito tempo, o que pode provocar fissuras e inclusive uma ruptura em sua estrutura.
“Queremos entender o que aconteceu e tomar as medidas necessárias para evitar que um evento similar se repita no futuro”, disse o chefe da Administração Federal de Aviação (FAA), Steve Dickson, durante uma coletiva de imprensa.
Já a fabricante Pratt & Whitney afirmou que vai fazer as inspeções exigidas nos motores pelas autoridades, com o uso da Thermal Acoustic Imaging (TAI), para localizar eventuais fissuras.
Outros incidentes
Em 13 de fevereiro 2018, a United Airlines também teve um problema de falha do mesmo motor em um Boeing 777. O avião ia de São Francisco para, assim como o caso do último sábado, Honolulu.
Não houveram registros de vítimas no avião, que contava com 378 ocupantes. Na ocasião, uma pá do ventilador se separou do jato, que também usava o motor da Pratt & Whitney PW4077.
Cerca de 40 minutos antes do pouso, os passageiros ouviram um grande estrondo e observaram a fumaça saindo do motor de número 2. A tripulação de voo declarou emergência e pousou com segurança em seu destino.
Por conta do incidente, a FAA pediu para revisar com frequência os motores deste tipo.
Outro evento da mesma natureza foi registrado em dezembro do ano passado, no Japão, em avião do mesmo modelo e com o mesmo motor.
Crise na Boeing
Esta não é a primeira vez que a Boeing precisa suspender aviões de sua frota por conta de acidentes como o ocorrido no último sábado. Em 10 de março de 2019, um avião da Ethiopian Airlines, que voava da capital da Etiópia, Adis Abeba, para Nairobi, no Quênia, caiu com 157 pessoas a bordo. Todos morreram.
O avião que causou o acidente era um Boeing 737 Max, da Lion Air, mesmo modelo que causou um outro acidente fatal em 29 de outubro de 2018, na Indonésia, que deixou 189 mortos.
Após os acidentes, companhias aéreas e autoridades de aviação suspenderam as operações com o avião em praticamente todo o mundo. Na ocasião, a Boeing assumiu que precisa corrigir falhas no software dos simuladores de voo destinados à formação de pilotos do 737 Max.
“Não acredito que essa questão pontual dos motores da PW terá grande repercussão ou reflexos para a Boeing. Obviamente, é uma notícia negativa, principalmente depois de tantas que a empresa teve nos últimos anos, em razão dos problemas com o Boeing 737 Max”, pondera Fenelon, sócio da Fenelon Advogados.
Para ele, não é possível que uma repercussão negativa à Boeing aconteça no médio e longo prazo, ainda mais por se tratar de um motor específico, fabricado por outra empresa.
O modelo foi liberado para uso novamente em dezembro do ano passado, após 1 ano e 8 meses em solo. O 1º voo comercial depois da longa espera foi realizado no Brasil, pela Gol Linhas Aéreas. A empresa tem 7 aviões 737 Max em sua frota, todos aptos para operar.