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“Escola tradicional”: menina é forçada a participar de Dia dos Pais

Filha de duas mulheres, a menina, de 9 anos, foi forçada a participar do evento na escola. “Estava com cara de choro”, diz uma das mães

atualizado

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Foto colorida de menina, sobre parede cinza, com expressão triste, cobrindo o rosto com as mãos enquanto chora. Imagem ilustrativa - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de menina, sobre parede cinza, com expressão triste, cobrindo o rosto com as mãos enquanto chora. Imagem ilustrativa - Metrópoles - Foto: Getty Images

“Realmente é uma pena que minha filha e muitas crianças sejam expostas num ambiente que deveria protegê-las”, lamenta Nathalia Lins, mãe da pequena M.M.L, de 9 anos. Na última sexta-feira (9/8), a menina foi forçada, por uma professora e uma coordenadora, a subir em um palco durante uma apresentação de Dia dos Pais na escola, mesmo sendo filha de duas mulheres e apresentando resistência.

Além disso, a garota foi obrigada a tirar uma foto com os demais colegas de classe e seus pais, mesmo sem nenhuma pessoa da família presente. “Tomamos a decisão de levar à imprensa exatamente para gerar a discusão e coibir a multiplicação dessas situações”, afirma Nathalia.

O caso aconteceu no Colégio Elo em Candeias, no bairro de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, onde a menina estuda há três anos. Segundo a mãe, a direção da escola era orientada a deixar a garota em sala de aula nessa ocasião, realizando outras atividades com colegas que também não participam da apresentação de Dia dos Pais. Nos anos anteriores a recomendação foi seguida.

As mulheres, inclusive, participam das reuniões escolares e dos eventos de Dia das Mães.

“Eu sabia que ia ter o evento [de Dia dos Pais], mas a M.M.L nunca deixou de ir para a escola por conta disso. E aí, na sexta-feira, para minha surpresa, recebi uma mensagem, em um grupo com as mães dos alunos, da minha filha no palco, ao lado da professora e com outros pais e crianças, com cara de choro”, contou a fonoaudióloga ao Metrópoles.

Nathalia, então, ligou para a outra mãe de M.M.L, a jornalista Maira Moraes. O que ela não sabia é que Maira já havia recebido uma mesagem da mãe de um colega da filha.

“Ela queria saber como a minha filha estava porque o filho dela ficou preocupado ao ver e minha filha chorando na escola, por ter sido obrigada a subir para fazer a apresentação”, conta Maira Moraes.

Uma outra mulher, presente no evento para prestigiar a filha, que é amiga de M.M.L, chegou a pegar a menina no colo durante a apresentação, para consolá-la, após reparar que ela estava constrangida.

A mulher contou a Nathalia que a garota pediu diversas vezes para ir para a sala, mas a “tia” não deixou. Após a performace, a professora teria tirado a menina do colo da mulher para que ela participasse da foto em grupo.

Segundo Maira, o ocorrido tem uma série de erros, dentre eles, a filha não teria ensaiado a apresentação, justamente porque não participa do evento, e ainda chegou a pintar uma gravata de papel, que seria dada aos pais de presente pelos outros alunos.

 “Escola tradicional”

No mesmo dia, Nathalia foi até o colégio, na parte da tarde, conversar com as coordenadoras sobre o ocorrido, porém, as funcionárias do turno da manhã não estavam mais presentes.

“Ela me falou que não sabia o que tinha acontecido e eu disse que isso me deixava mais preocupada ainda, porque uma criança saiu da escola chorando e constrangida sem o conhecimento delas”, relata Nathalia.

“Minha filha pode até esquecer de fórmulas matemáticas que tinham sido ensinadas, mas ela nunca vai esquecer dessa experiência. Melhor do que prestar atenção em notas é cuidar do emocional de uma criança.”

De acordo com ela, as profissionais pediram desculpas e afirmaram que esse não era o direcionamento do colégio, mas que aquela era “uma escola tradicional”. “Essa fala me chamou muita atenção e acho que ela foi muito mal colocada”, lamenta a mulher.

Esse teria sido o último contato da escola com a família, que não foi procurada posteriormente. “Não posso afirmar, mas acredito que tenha tido uma mudança interna de funcionários. Não sei o que justifica uma atrocidade dessa”, afirma.

Boletim de ocorrência

Quem realizou o boletim de ocorrência contra o Colégio Elo foi Maira Moraes, na segunda-feira (12/8).

No documento consta o artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no qual é afirmado que “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento” é crime.

“Decidimos fazer o Boletim de Ocorrência, não só para a M.M.L se sentir protegida e saber que estamos com ela, independente de qualquer coisa, mas para ela entender que o que aconteceu com ela não foi correto e que foi, de fato, um constrangimento”, declara Maira.

Maira, a filha e a mãe que acolheu a criança durante a apresentação prestaram depoimento.

“Escola é um ambiente onde a gente trabalha a sociedade, não é só estudar matemática, português… acho que grande parte dessas coisas acaba sendo esquecida, mas todos traumas e vivências escolares ficam para sempre”, finaliza Maira.

O que diz o colégio?

O Metrópoles entrou em contato com o Colégio Elo, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.

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