Escola palco de massacre em Suzano reabre as portas hoje
No entanto, as aulas no Colégio Estadual Raul Brasil não serão retomadas nesta segunda (18/3). Local será usado para atendimento psicológico
atualizado
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Enviados especiais a Suzano (SP) – Cinco dias após o massacre em que 10 pessoas foram mortas e outras duas dezenas ficaram feridas, o Colégio Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), reabre as portas nesta segunda-feira (18/3), mas não haverá aulas.
Inicialmente, o ensino seria retomado na segunda-feira da próxima semana, dia 25. Contudo, os governos estadual e municipal ainda vão avaliar a situação. Até que seja definida a nova data, serão desenvolvidas atividades de acolhimento, e oferecido tratamento psicológico e psiquiátrico a parentes de vítimas, amigos e à comunidade escolar.
A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo enviará 20 professores substitutos para retomar o ensino na instituição. Nesta segunda, a escola será aberta às 10h para acolhimento dos funcionários que desejarem receber atendimento psicológico. Começará, também, a devolução dos materiais deixados pelos alunos durante o tumulto do tiroteio.
Na terça-feira (19), o serviço será voltado aos estudantes, com atividades de reflexão e rodas de conversa. Na quarta-feira (20), uma semana depois do ataque, haverá abertura para a comunidade e familiares.
Profissionais do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e de Centros de Atenção Psicossocial (Capes) vão intensificar os atendimentos ao longo de toda esta semana.
Para atenuar as lembranças trágicas, a estrutura interna do colégio foi pintada e revitalizada. O prefeito de Suzano, Rodrigo Ashiuchi, avalia que o funcionamento da escola é importante para a cidade conseguir superar o luto. “A união da prefeitura com os governos estadual e federal tem um único objetivo: confortar e oferecer apoio à comunidade”, destaca.
Na sexta-feira (15), o secretário Estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares da Silva, disse que o retorno das atividades deve levar em consideração a dor da cidade. “Nenhum professor está obrigado a vir para a escola, nenhum aluno está obrigado. Todos podem viver este momento da melhor maneira. Mas, se desejarem algum tipo de atendimento, estaremos aqui. Precisamos respeitar o tempo e o espaço de cada pessoa.”
A barbárie resultou na morte de cinco estudantes e duas funcionárias dentro da instituição de ensino por uma dupla de ex-alunos, que executam também um comerciante da região: o homem era tio de um dos envolvidos. Os assassinos também morreram após os crimes: um deles atirou na cabeça do colega e se matou em seguida.
Trauma
O desafio, a partir de agora, é superar o trauma. Entre os jovens que estavam na escola no dia da tragédia e voltarão ao local está Robert Eric Santos, de 15 anos. O adolescente conta que por pouco não foi alvejado.
Robert caminhava com colegas para o centro de línguas do Colégio Estadual Raul Brasil quando ouviu o primeiro disparo. “Pensamos que eram portas batendo”, lembra. “Era um dia normal de aula. Somente depois percebemos que eram tiros, um ataque. Entramos em desespero e tentamos pular os muros, enquanto eles atiravam”, conta.
O estudante e um dos atiradores, Guilherme Taucci Medeiros, de 17 anos, ficaram cara a cara. “Tentei pular o muro três vezes e não consegui. Na tentativa de fugir, eu encontrei com ele. Avisei para todo mundo correr. Aproveitamos que ele estava distraído e saímos por uma porta da secretaria”, detalha.
Mesmo após despistar o assassino, Robert teve dificuldades para sair da escola. “Foi um desespero. Vi os corpos no chão. Agora, estou vivo, mas meio vazio pelas pessoas e amigos que conviviam comigo e pelas diretoras da escola, que tratavam a gente muito bem”, lamenta.
Quem eram
Os dois responsáveis pelo massacre eram ex-alunos do colégio. O crime aconteceu no horário do intervalo, por volta de 9h30, quando os estudantes estavam fora das salas.
Além de Guilherme Taucci Monteiro, o outro assassino era Luiz Henrique de Castro, 25. O aniversário de Luiz Henrique foi no dia 16/3. Já Monteiro atingiria a maioridade no dia 5 de julho.
O veículo utilizado no massacre foi roubado da concessionária do tio de Guilherme, morto antes de os assassinos irem ao colégio. Tanto o comerciante quanto a dupla de executores foram sepultados nessa quinta (14), em cerimônias reservadas e acompanhadas por poucos familiares.