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Epidemiologista recusa título de Mérito Científico dado por Bolsonaro

Cesar Victora enviou carta a ministro recusando a homenagem “oferecida por um governo que boicota as recomendações da epidemiologia”

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Cesar Victora, epidemiologista
1 de 1 Cesar Victora, epidemiologista - Foto: Abrasco/Reprodução

O epidemiologista e referência mundial em estudos sobre aleitamento materno Cesar Victora recusou uma condecoração assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele seria homenageado com o título de grão-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, após decreto assinado pelo chefe do Executivo federal, no Diário Oficial da União (DOU).

No entanto, nesta sexta-feira (5/11), o especialista enviou uma carta ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, recusando a homenagem. Victora justificou que não poderia aceitar a condecoração “oferecida por um governo que ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva”.

Bolsonaro revoga homenagem a médico que expôs ineficácia da cloroquina

Seguindo as regras de um decreto de 1992 que criou essa ordem, Bolsonaro se nomeou “Grão-Mestre”, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, como “Chanceler”; e os ministros das Relações Exteriores, Carlos França, da Economia, Paulo Guedes, e da Educação, Milton Ribeiro, como membros do “Conselho da Ordem Nacional do Mérito Científico”.

O professor emérito da Universidade Federal de Pelotas Cesar Gomes Victora foi indicado à honraria por sua atuação na área de Ciências Biológicas.

Confira a carta de Cesar Victora, na íntegra, publicada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco):

“Tomei conhecimento no último dia 3 da publicação no Diário Oficial informando minha promoção desde o grau de Comendador da Ordem do Mérito Científico, distinção a mim conferida em 2008, para o prestigioso grau de Grã‐Cruz da mesma ordem.

Embora a distinção represente um importante – e talvez o maior ‐ reconhecimento para qualquer cientista brasileiro, ela me deixou dividido.

A homenagem oferecida por um governo federal que não apenas ignora, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva, não me parece pertinente. Como cientista e epidemiologista, tenho tornado pública, através de palestras e artigos científicos, minha completa oposição à forma como a pandemia de Covid-19 tem sido enfrentada por esse governo.

Mais ainda, enquanto cientista não consigo compactuar com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e em especial os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência têm sido utilizados como ferramentas para retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas.

Escrevi o texto acima antes de ficar ciente de que as indicações de dois colegas cientistas com posições críticas ao governo federal foram tornadas sem efeito, conforme o Diário Oficial de 5 de novembro. Tal atitude somente reforça minha decisão de não aceitar a distinção a mim oferecida”. 

Revogação

Nesta sexta-feira (5/11), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) revogou homenagem ao infectologista Marcus Vinícius de Lacerda, autor de um estudo pioneiro no país sobre o uso de cloroquina em pacientes com Covid-19. O médico havia sido homenageado com a Ordem Nacional do Mérito Científico, ordem honorífica que premia personalidades nacionais e estrangeiras que fizeram contribuições relevantes para a ciência e a tecnologia.

Também foi revogada a homenagem a Adele Schwartz Benzaken, que já foi diretora do departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde, mas acabou exonerada no início do atual gestão.

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Bolsonaro ergue caixa de cloroquina a apoiadores no Palácio da Alvorada em julho de 2020
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido)
Bolsonaro apresenta caixas de cloroquina a apoiadores e à imprensa, em abril de 2020
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O médico Marcus Vinícius de Lacerda, autor de estudo sobre a ineficácia da cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19

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Bolsonaro ergue caixa de cloroquina a apoiadores no Palácio da Alvorada em julho de 2020

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Bolsonaro apresenta caixas de cloroquina a apoiadores e à imprensa, em abril de 2020

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