Entre os mortos de Brumadinho, um brasiliense: Alano Teixeira
Nascido em Taguatinga, ele faria 40 anos na sexta (1°/2). Funcionário da Vale havia voltado das férias dias antes do desastre
atualizado
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Enviados especiais a Brumadinho (MG) e Belo Horizonte – O dia que era para ser festivo foi de comoção para a família de Alano Reis Teixeira. Nascido em Taguatinga, o funcionário da Vale está entre as vítimas do tsunami de lama e detritos que varreu parte de Brumadinho (MG) após o rompimento da Barragem da Mina do Córrego do Feijão em 25 de janeiro. Na sexta-feira (1°/2), exatamente uma semana após a tragédia, o brasiliense comemoraria o aniversário de 40 anos.
Pontualmente às 19h de sexta, na paróquia Santa Clara de Assis, no bairro de Buritis, em Belo Horizonte, distante cerca de 60 km do local da tragédia, amigos e parentes participaram de missa em homenagem a Alano, que deixou mulher e dois filhos. Embora ele trabalhasse em Brumadinho, a família morava na capital mineira.
Na cerimônia religiosa, Adriana Coutinho, esposa de Alano, fez um depoimento emocionado. Os dois eram casados desde 2006. “Meus filhos não terão o pai presente, mas ele deixou um legado. Ele fez a carreira na Vale, uma carreira maravilhosa. Trabalhou 20 anos lá, onde começou como motoboy. Se os responsáveis soubessem que tinha risco [de a barragem se romper], o Alano não estaria lá – ele estava no restaurante [no momento do desastre]. Ele era muito responsável e a nossa família era tudo para ele. Alano deu a vida dele pela nossa família”, disse.
Em tom de desabafo, Adriana ainda pediu “a todos que emanem amor, não tenham raiva ou pensamento negativo”. Embora não tenha falado explicitamente, ela se referia ao vídeo de uma moradora que acusa funcionários da Vale – entre eles Alano, que tinha função de gestor em Brumadinho – de saberem dos riscos de rompimento da barragem e, ainda assim, terem minimizado a situação.
“Tenho o meu coração tranquilo, porque sei que se a direção da Vale soubesse que havia 1% de chance de a barragem se romper, teria fechado a porta daquela mina. Teria tirado todo mundo de lá. A Vale tem que pagar, sim. A empresa será responsabilizada, mas, por favor, gente, não pense que é ganância. Não sintam raiva no coração. Só emanem amor para essas vítimas, que é o que elas precisam”, acrescentou Adriana.
Amigos lamentam
Após a missa, amigos da família conversaram com o Metrópoles. Nenhum quis se identificar, em função da repercussão do vídeo em que uma moradora de Brumadinho acusa funcionários da Vale de negligência. Mas todos foram unânimes em exaltar as qualidades de Alano.
“Era uma pessoa leal e amorosa. Um homem de família, ele amava a mulher e os filhos. Estamos todos em choque nos perguntando por que isso aconteceu. Vivemos muitos momentos alegres. Vamos sempre lembrar dele”, disse uma pessoa próxima da família.
Sempre discreto e de uma educação ímpar. Sei que ele cumpriu a missão e que vai continuar cuidando da família onde quer que ele esteja
Amigo de Alano Teixeira
Embora tenha nascido em Taguatinga, Alano vivia desde os tempos de faculdade no estado mineiro. Ele estudou na Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-MG) e torcia para o Atlético-MG.
Segundo uma amiga, ele estava de férias havia poucas semanas, período no qual viajou para a praia com a mulher e os dois filhos. Voltou a trabalhar em 23 de janeiro, dias antes da tragédia.
Com base no mais recente balanço do Corpo de Bombeiros de Minas, divulgado na noite de sexta (1°), o número de mortos chegou a 115, sendo que 71 corpos foram identificados. As equipes foram informadas sobre a localização de 395 pessoas tidas inicialmente como desaparecidas, mas não têm notícias ainda do paradeiro de 248 pessoas: todas moradoras da região e trabalhadores da Vale.
Colaborou Otto Valle