Entorno do DF lidera fila de espera por leitos Covid-19 em Goiás
Promotores enviaram ofício ao Ministério da Saúde pedindo reinstalação do Hospital de Campanha em Águas Lindas. Pessoas já morrem na fila
atualizado
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Goiânia – Cidades do Entorno do Distrito Federal que poderiam estar sendo atendidas pelo Hospital de Campanha de Águas Lindas de Goiás, desativado pelo governo federal em outubro do ano passado, são as que mais demandam hoje por leitos de tratamento da Covid-19, em Goiás. Nessa segunda-feira (29/3), havia 100 pessoas na fila.
Promotores de Justiça da região chegaram a enviar ofício conjunto ao novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na sexta-feira (26/3). Eles solicitam a reinstalação da unidade, diante do contexto marcado por longas filas de espera e pela total falta de perspectiva de quando um leito será liberado.
A situação chegou ao ponto de pessoas estarem morrendo enquanto aguardam por vaga. A região está em nível considerado de calamidade, desde a primeira avaliação feita pela Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SESGO), em fevereiro, e chegou a ter a maior taxa de contágio da Covid-19, no estado.
Nessa segunda-feira, havia 82 pessoas com Covid-19 que moram em cidades do parte sul do entorno e 18 da parte norte que aguardavam por leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) ou de enfermaria. Na quinta-feira (25/3), esse número chegou a ser de 94 na parte sul e 17 na parte norte, ou seja, um total de 111 pessoas.
A região sul do entorno é, justamente, onde fica Águas Lindas de Goiás, cidade que ficou no centro de uma polêmica envolvendo a instalação e a subsequente retirada do primeiro hospital de campanha inaugurado pelo governo federal, após exatos 4 meses e 15 dias de funcionamento.
Hoje, os 200 leitos que o hospital possuía estão fazendo falta na região. Entre as 246 cidades de Goiás, Águas Lindas chegou a liderar, na quinta e sexta-feira, a demanda por leitos de enfermaria de Covid-19, acima até mesmo de cidades maiores do estado, como Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Rio Verde e outras.
Além dela, de acordo com os dados divulgados diariamente pelo Complexo Regulador Estadual (CRE), vinculado à SESGO, estão ainda com filas significativas de espera: Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Cidade Ocidental e Cristalina.
Isso, sem falar nas cidades da parte norte do entorno, onde só Planaltina de Goiás tinha, ontem, nove pessoas no aguardo por um leito de UTI. Sem destino certo, tanto em Goiás quanto no Distrito Federal, que vive contexto semelhante de lotação, pacientes são obrigados a aguardar, independentemente da gravidade do caso.
Unidades lotadas
Na parte sul do entorno, o único hospital de campanha que funciona como referência, hoje, é o Hospital Regional de Luziânia. Mesmo com a inauguração de mais 16 leitos de UTIs, atingindo um total de 40 leitos, a unidade opera com lotação máxima já há algumas semanas.
O mesmo ocorre com a unidade referência da parte norte do entorno, que é o Hospital Regional de Formosa. Ele tem 10 leitos de UTI para tratar pacientes com Covid-19 e está com 100% de lotação há semanas.
Sem outra referência no atendimento da saúde pública, pacientes entram para uma fila de espera, que só de UTIs mantém uma média de 300 pessoas por dia, em Goiás. No caso das enfermarias, são em torno de 200 pessoas no aguardo.
Tudo isso ocorre na região onde foram identificados os primeiros casos da variante inglesa (B1.1.7) da Covid-19, em Goiás, e também onde foi confirmada a primeira morte ocasionada pela variante de Manaus (P.1.). O caso foi registrado em Águas Lindas. A vítima era uma idosa de 60 anos.
Promotora enfrenta resistência em Planaltina
Para tentar uniformizar as medidas restritivas e ampliar o índice de isolamento em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (DEM) editou decreto que proíbe cidades em situação de calamidade de flexibilizar as restrições. Esse é o caso de todas as cidades do Entorno do DF. Em alguns locais, no entanto, existe resistência da administração.
Em Planaltina, cidade que tem nove pessoas à espera por um leito de UTI e que já registrou óbitos de pacientes com Covid-19 na fila de espera, a promotora Michelle Moura enfrenta dificuldades para fazer valer a regra e precisou recorrer à Justiça para apontar a inconstitucionalidade das decisões tomadas pelos vereadores da cidade.
Na sexta-feira, após conseguir, finalmente, notificar e conversar com o prefeito de Planaltina, ela conta que ficou tudo acertado. Ele cancelou o decreto local e determinou, enfim, a adesão ao decreto estadual, que prevê o revezamento do fechamento do comércio em um regime 14×14.
“Hoje recebi uma ligação e fui informada que a Câmara de Vereadores se reuniu extraordinariamente no sábado (27/3) e sustou o decreto do prefeito, e voltou ao que era antes”, relata. O decreto local, segundo ela, é menos rígido que o do estado. “Está tudo funcionando na cidade. A situação é muito crítica”, descreve.
Uma ação de inconstitucionalidade foi protocolada na Justiça e está em análise. Em outras cidades da região, promotores conseguiram a adesão de prefeitos. Planaltina tem sido uma exceção. “Recebo pelo menos um pedido de UTI por dia. Já tive dois casos que acabaram em morte. Um de uma paciente de 40 anos e outra de 25 anos”, conta.
O Metrópoles tentou contato com o prefeito da cidade, mas não obteve retorno. Da mesma forma, o Ministério da Saúde foi procurado para falar sobre a situação do hospital em Águas Lindas e ainda não respondeu a demanda da reportagem. O espaço segue aberto.
Em resposta enviada ao Ministério Público Federal (MPF) no dia 18 de março, após questionamentos sobre a desativação do Hospital de Campanha, o Governo goiano informou que solicitou a continuidade do funcionamento por duas vezes em setembro, mas que o governo federal não acatou o pedido.