Entenda por que Delegado Da Cunha foi indiciado por atuação no Youtube
Policial de 43 anos usou armas, homens, viaturas e aeronave da Polícia Civil para gravar vídeos de operações para seu canal no YouTube
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Há dois meses, a carreira até então bem-sucedida do delegado Carlos Alberto da Cunha, de 43 anos, conhecido como Delegado Da Cunha, teve uma reviravolta. O dono do maior canal policial do YouTube foi afastado das ruas, teve armas e o distintivo recolhido. No último 23, foi indiciado pela Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo acusado pelo crime de peculato.
Isso porque a investigação da Polícia Civil, noticiada pelo UOL, apontou que Da Cunha usou armas, homens, viaturas e aeronave, para gravar vídeos de operações policiais que ele comandava. Os vídeos eram publicados no seu canal de vídeo, que tem 3,6 milhões de inscritos.
O crime de peculato ocorre justamente quando um funcionário público se apropria ou desvia um bem público em benefício próprio ou de terceiros.
Ao Metrópoles, a polícia informou que o Delegado Da Cunha licenciou-se do cargo em 16/8 e responde a vários procedimentos administrativos disciplinares junto à Corregedoria da Polícia Civil.
“Dois desses processos foram concluídos, com instauração dos respectivos inquéritos, que resultaram no indiciamento do autor pela prática de crimes contra a honra, abuso de autoridade e peculato, crimes relacionados à suspeita de uso indevido da estrutura da Polícia Civil em proveito próprio, objetivando visibilidade em redes sociais e ganhos financeiros indevidos”, informou a nota.
A reportagem também questionou a Polícia Civil sobre quais seriam os crimes contra a honra e de abuso de autoridade cometidos por Da Cunha, mas até o momento não teve resposta. O delegado Carlos Alberto da Cunha também foi procurado, mas não retornou até o momento.
Lavagem de dinheiro
Em consequência da investigação sobre peculato, a Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para apurar suposta lavagem de dinheiro que teria sido cometida pelo delegado, segundo a Folha de S. Paulo.
O policial teria tentado ocultar o recebimento de cerca de R$ 500 mil de pagamento de Weber Micael da Silva, proprietário da empresa Lokal Comércio de Metais, que também seria um investidor do canal de Da Cunha no YouTube.
A investigação apura se o policial usou a ex-mulher Camila Rezende da Cunha, e o irmão dela, Lauro Athayde de Freitas Neto, para receber repasses mensais de R$ 25 mil feitos pelo empresário do setor de sucatas.
Vídeos com produção de cineasta
Após o indiciamento do delegado pela Corregedoria, o UOL revelou que Da Cunha contratou o cineasta e roteirista Jay Maas Salinas, 34 anos, para gravar as operações que comandava. O policial vem dizendo que as acusações contra ele são absurdas e que ele não monetiza os vídeos.
O custo da equipe de filmagem do delegado Da Cunha era R$ 14 mil mensais de acordo com o relatório da Corregedoria da Polícia Cilvil, ao qual a Folha de S. Paulo teve acesso. O policial indiciado tem um salário líquido médio de R$ 10.470.
Chamou policias de ratos
Da Cunha foi afastado das operações de rua e teve armas e distintivo recolhidos em julho, após ter chamado policiais de “ratos”. Em seguida, ele tirou férias, se afastou do órgão e se filiou ao MDB. Ele diz estar sendo perseguido e que a intenção da polícia e do governo de São Paulo é torná-lo inelegível.
“Sabem por que instauram inquérito policial? Não é para prender. Ele quer deixar inelegível. Doria está com medo deste preto aqui virar governador”, disse o delegado.
Na semana passada, ele afirmou que vai se dedicar a fazer “reportagens investigativas” para cobrar providências das autoridades.