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Entenda polêmica em torno de “O Avesso da Pele”, censurado em escolas

O livro foi polemizado pela direita, que considera-o inadequado para estudantes adolescentes. A obra foi aprovada durante governo Bolsonaro

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Imagem colorida de Jeferson Tenório e capa de livro O Avesso da Pele - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de Jeferson Tenório e capa de livro O Avesso da Pele - Metrópoles - Foto: Instagram / Reprodução

O livro “O Avesso da Pele”, do escritor Jeferson Tenório, está no centro de uma polêmica iniciada após a diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, em Santa Cruz do Sul (RS), pedir ao Ministério da Educação (MEC) o recolhimento dos exemplares distribuídos para alunos do ensino médio, alegando “vocabulário de baixo nível” e “vulgaridade” de termos utilizados na história. Desde então, estados inteiros estão retirando das escolas públicas exemplares do livro, que venceu prêmios literários e trata de temas como racismo e sexualidade.

A diretora em questão, Janaina Venzon, expôs trechos que considerou inapropriados em um vídeo nas redes sociais, desencadeando uma série de reações políticas e sociais. Os defensores da obra afirmam que a educadora descontextualizou as passagens para gerar polêmica.

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Publicado em 2020, o romance está inserido no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)
A obra O Avesso da Pele, vencedor do Prêmio Jabuti 2021 e escrito por Jeferson Tenório, foi parar entre os 10 livros mais vendidos da Amazon Brasil após ser vítima de censura
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Livro "O avesso da pele".

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Publicado em 2020, o romance está inserido no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)

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A obra O Avesso da Pele, vencedor do Prêmio Jabuti 2021 e escrito por Jeferson Tenório, foi parar entre os 10 livros mais vendidos da Amazon Brasil após ser vítima de censura

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No vídeo, Venzon aponta passagens do livro que retrata questões raciais e sexuais. Parlamentares conservadores, como a deputada estadual Kelly Moraes (PL-RS) e os deputados federais Zé Trovão (PL-SC), Marcelo Moraes (PL-RS) e Bia Kicis (PL-DF), associaram a adoção do livro à gestão atual do Ministério da Educação e ao PT.

Contudo, o livro foi incluído no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) por meio de portaria publicada em setembro de 2022, ainda durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Antes disso, a obra passou por uma seleção publicada em edital de 2019, também durante o governo Bolsonaro

Governo condena tentativa de censura

Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, e Margareth Menezes, ministra da Cultura, fizeram críticas a tentativa de censura e aos ataques ao livro “O Avesso da Pele”.

“Em minha opinião, trata-se de uma demonstração de ignorância, de preconceito, mas também de covardia por parte dessas pessoas”, disse Paulo Pimenta.

Margareth Menezes, também repudiou os ataques ao livro. “Meu total repúdio a qualquer tipo de censura em relação à nossa literatura. O que estiver no escopo do Ministério da Cultura, o que for possível fazer para apoiar, dentro da legalidade, para combater esse tipo de ação, nós faremos.”

A doutora em educação e professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) Eugênia Portela afirma que a polêmica tem como contexto o conservadorismo na sociedade.

“A controvérsia em torno dessa obra nos mostra o quanto a sociedade brasileira tem se mostrado conservadora, interferindo no papel da escola. É uma situação que vem no contexto dessa demonização, de certa forma, do papel da escola e da educação no Brasil da atualidade. Existem situações bem mais complexas apontadas na obra e que precisam ser debatidas, como, por exemplo, o racismo estrutural, o racismo institucional”, diz a especialista.

Para a doutora em educação, obras literárias que abordem temas como identidade, racismo e sexualidade são necessárias para os jovens.

“É de extrema relevância trazer o conhecimento adequado, verdadeiro, o conhecimento por meio da ciência, o conhecimento construído onde ele deve ser construído e não esse conhecimento repassado por meio das mentiras, por meio das falácias, por meio das fake news. Eu considero que é de extrema relevância que a gente possa continuar garantindo obras literárias que abordem esses temas”, afirma Eugênia.

Estados recolheram o livro

Após a intensa polêmica, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) determinou o recolhimento do livro “O Avesso da Pele” das escolas estaduais por conter expressões, jargões e cenas de sexo consideradas inadequadas para menores de 18 anos.

A decisão da Seduc foi desencadeada por solicitações de informações sobre o livro e discussões promovidas por políticos de direita no estado. Segundo a pasta, o material será analisado conforme a proposta pedagógica do currículo estadual.

O Governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), também determinou o recolhimento imediato do livro das escolas da Rede Estadual de Ensino, após enviar exemplares para 75 das 349 unidades escolares e receber críticas semelhantes.

O mesmo cenário se repetiu no Paraná, onde o governo optou por retirar os exemplares das escolas estaduais de ensino médio. Embora reconheça a importância da temática do livro para o contexto educacional, a Secretaria Estadual de Educação considerou que algumas expressões e cenas presentes na obra não são adequadas para menores de idade.

No Rio Grande do Sul, a exclusão do livro de 18 municípios durou apenas algumas horas. Após uma diretora de escola criticar o conteúdo da obra por considerá-lo vulgar, a 6ª Coordenadoria Estadual de Educação anunciou a remoção do livro. No entanto, a Secretaria de Educação do RS emitiu nota desautorizando a decisão.

Sobre o livro “O Avesso da Pele”

O livro “O Avesso da Pele”, do autor Jeferson Tenório, mergulha nas complexidades da condição humana. Publicado em 2020, o romance está inserido no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

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Jeferson Tenório
Livro foi publicado em 2020 pela editora Companhia das Letras
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Jeferson Tenório, autor de O avesso da pele

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Jeferson Tenório

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Livro foi publicado em 2020 pela editora Companhia das Letras

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Situado no contexto urbano de Porto Alegre, o enredo explora temas como identidade, racismo, sexualidade, e as nuances da existência humana. A obra recebeu o prêmio Jabuti, considerado o mais tradicional prêmio literário do Brasil, em 2021.

O autor da obra chegou a se manifestar no Instagram sobre as críticas recebidas.

“As distorções e fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes de ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos”, diz trecho da publicação.

A especialista Eugênia Portela afirma que os professores têm formação suficiente para incluir esses debates em sala de aula.

“Por algum tempo isso foi difícil, sim, por ausência da formação inicial, mas que hoje há uma possibilidade dos professores fazerem o debate. Alunos de ensino médio também já trazem toda uma bagagem, um conhecimento. Então, a nossa experiência na docência mostra que esses temas são sensíveis, mas eles precisam ser debatidos, porque, afinal de contas, a escola é a sociedade, o que está na sociedade está dentro da escola”, finaliza.

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