Entenda como funcionava espionagem paralela na Abin, segundo a PF
Investigação da PF identificou a atuação de pelo menos quatro núcleos responsáveis por atividades ilegais dentro da Abin
atualizado
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As investigações da Polícia Federal (PF) sobre o uso da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para a espionagem ilegal de adversários políticos avançaram sobre o clã Bolsonaro, nesta segunda-feira (29/1), com a operação que teve como alvo o filho 03 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
A corporação apura a utilização da Abin para o monitoramento de opositores e adversários políticos do ex-presidente entre 2019 e 2021, sob a gestão do então diretor do órgão, Alexandre Ramagem.
A espionagem paralela era feita por meio do software de inteligência israelense First Mile, adquirido durante o governo de Michel Temer. A ferramenta permite rastrear a localização de pessoas a partir de informações fornecidas por torres de telecomunicações.
As diligências da PF também tentam identificar se o clã se utilizou de informações da Abin para beneficiar os filhos do ex-presidente em inquéritos policiais.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou busca e apreensão em endereços ligados a Carlos Bolsonaro traz detalhes de como seria a atuação do grupo. Os agentes identificaram, até o momento, quatro núcleos responsáveis pelas atividades irregulares.
A operação desta segunda-feira visou atingir o núcleo político da organização. Além de Carlos, foram alvo da ação a assessora do vereador Luciana Almeida e a assessora de Alexandre Ramagem — ex-diretor do Abin — Priscilla Pereira e Silva. De acordo com as investigações, as duas funcionárias atuavam como interlocutoras na troca de informações de interesse da família Bolsonaro.
Uma das evidências dessa relação foi a troca de mensagens encontrada pela polícia em que Luciana pede a Ramagem para descobrir inquéritos sigilosos em que membros da família Bolsonaro estariam envolvidos. O então diretor também teria, a pedido de Carlos, mapeado inquéritos eleitorais em curso na PF do Rio contra possíveis rivais políticos do vereador na cidade.
O outro núcleo, chamado de Alta Gestão, envolve o então diretor da Abin, Alexandre Ramagem, e servidores subordinados. Segundo a PF, a alta cúpula do órgão tinha total conhecimento do uso indevido de ferramentas da pasta e teria tentado dar uma aparência de legalidade às atividades.
Juntos, os dois núcleos seriam os responsáveis por interferir em investigações da Polícia Federal contra filhos de Jair Bolsonaro, produzindo provas a favor de Renan Bolsonaro e preparando relatórios para a defesa do senador Flávio Bolsonaro.
Relação com o PCC
Um terceiro tentáculo do grupo — apelidado de Portaria 157 — contava com a atuação de servidores incumbidos de tentar associar parlamentares e ministros do STF à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Os investigados teriam utilizado a ferramenta First Mile para monitorar o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e a então deputada federal Joice Hasselmann, além do advogado Roberto Bertholdo, ligado aos parlamentares.
O quinto núcleo, chamado de Tratamento Log, até o momento, identificou apenas um servidor, que seria responsável por operar a ferramenta First Mile, e inserir os números a serem monitorados pelo software.
A polícia não descarta a existência de outros núcleos e a participação de mais servidores ainda não identificados no esquema ilegal de espionagem.
Exoneração
Conforme a coluna de Paulo Cappelli, do Metrópoles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu exonerar Alessandro Moretti, diretor-adjunto da Abin, considerado o número 2 da pasta.
A crise, no entanto, não chegou à chefia da Abin, comandada por Luiz Fernando Corrêa, que deve ser mantido no cargo.
A avaliação de Lula é de que, até o momento, a suspeita que acomete servidores da Abin ainda não respingou em Corrêa, que é delegado da Polícia Federal e comanda a agência desde maio de 2023.