Entenda as causas do ciclone extratropical que devastou áreas do Sul
No Rio Grande do Sul, 48 pessoas morreram em decorrência das fortes tempestades e inundações causadas pelo ciclone extratropical
atualizado
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A Região Sul do Brasil sofre com a passagem de mais um ciclone extratropical. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles explicam que o fenômeno climático é intensificado pelo El Niño e deve provocar mais chuvas, principalmente no Rio Grande do Sul.
Um ciclone extratropical formou-se entre a madrugada de quarta-feira (13/9) e a quinta (14/9) no estado. É o segundo fenômeno climático apenas no mês de setembro que afeta o Rio Grande do Sul, segundo o Climatempo Meteorologia.
Antonio Carlos Oscar Júnior, professor do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), detalha que o ciclone extratropical acontece em áreas de baixa pressão atmosférica localizadas fora dos trópicos.
“Na atmosfera, a gente tem dois grandes centros de pressão atuantes. As áreas de alta pressão, que são de estabilidade atmosférica, e as de baixa pressão, que são de instabilidade. Então, assim como todo sistema perturbado ou perturbador, o ciclone extratropical é uma área de baixa pressão”, destaca Antonio Júnior.
“Esses ciclones extratropicais estão associados à convergência de ventos diários, com características térmicas diferentes. Eu tenho uma massa de ar fria no sul mandando fluxo de vento frio e, ao mesmo tempo e no mesmo sentido, eu tenho uma massa de ar quente na área tropical enviando ar mais quente. Então, eu tenho uma área de contato, de choque”, completa o professor da UERJ.
El Niño
O especialista avalia que o El Niño intensifica a ocorrência de ciclones extratropicais. “O El Niño é um momento muito propício para a formação do ciclone extratropical. O fenômeno propaga nas atmosferas perturbações que vão alterar a variabilidade climática em diversas partes do planeta”, reforça.
O El Niño é responsável por provocar chuvas intensas no Sul e estiagem na Região Nordeste. O que influencia diretamente as inundações registradas no Rio Grande do Sul nas últimas semanas.
Impactos
Andrea Ramos, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que não é somente a região Sul que sofre com a passagem do ciclone: o Sudeste e o Centro-Oeste também sofrem os impactos do fenômeno.
“O ciclone extratropical é característico do inverno e fica posicionado no litoral da Região Sul, mais precisamente entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em alguns momentos, ele pode pegar ali a Região Sudeste, principalmente São Paulo, mas não é uma coisa normal”, conta Andrea Ramos.
A meteorologista do Inmet destaca que o deslocamento do ciclone da Região Sul para o Atlântico Sul provocou chuvas até o Espírito Santo, e também no Distrito Federal, na área mais central do Brasil. “Essas chuvas devem persistir”, alerta.
Rio Grande do Sul
O ciclone extratropical da última semana que passou pelo Rio Grande do Sul deixou um rastro de destruição. Segundo a Defesa Civil Estadual, 48 pessoas morreram, 1.426 continuam desabrigadas e outras 20 mil seguem desalojadas.
A passagem do fenômeno climático afetou 103 municípios no estado. Casas foram destruídas e ruas, alagadas. O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), visitou as áreas afetadas e divulgou algumas medidas para tentar reconstruir a região, como a construção de casas por meio do Minha Casa, Minha Vida e a destinação de R$ 741 milhões para as cidades atingidas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também anunciou que o governo federal vai conceder R$ 1 bilhão em empréstimos por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ajudar a recuperar a economia do Rio Grande do Sul.
Além da destruição de casas, as chuvas causaram danos e alterações no tráfego em rodovias gaúchas. Até o boletim divulgado pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), na tarde desta sexta-feira (15/9), três estradas seguiam com bloqueio total. São elas: ERS-630, ERS-431 e ERS-149.
O governo do Rio Grande do Sul tem trabalhado para tentar desobstruir as vias e limpar as regiões alagadas.