Ensaio fotográfico com restos de comida viraliza nas redes sociais
Fotógrafo pernambucano colocou sobras de alimento em bandejas de isopor com preço etiquetado para criticar a fome no país
atualizado
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Indignado com a realidade de 19 milhões de brasileiros em situação de fome e extrema pobreza, o fotógrafo recifense Flávio Costa teve a ideia de produzir o ensaio Mercado da Fome, com imagens de sobras de alimentos etiquetadas com peso e valor.
Flávio conta que viu algumas matérias sobre a venda de ossos e carcaças de peixe, produtos que antes eram doados, e se indignou. Agora, com a grande procura por eles, os mercados e açougues resolveram vender esse tipo de material.
“Como a procura estava muito grande, eles [comerciantes] resolveram simplesmente deixar de doar para vender. Ou seja, acharam na fome uma oportunidade de negócio”, disse ao Metrópoles.
Baseado nisso, ele teve a ideia de elaborar algo que alertasse as pessoas. “Resolvi fazer essas fotos como se fossem reais, mas com um ‘quê’ de absurdo. Por exemplo, um hambúrguer comido pela metade e sendo vendido. Uma carcaça de galeto pela metade e sendo vendida”, explica.
Publicadas em seu perfil no Twitter, as fotos viralizaram e Flávio precisou explicar do que se tratava, já que as pessoas acreditaram ser de um produto real vendido nos mercados. “Sem as legendas, se eu não colocasse que aquilo era um ensaio de crítica social, todas as fotos se passariam por verdadeiras, já que a situação do país é absurda”, disse.
“Eu postei no meu perfil do Twitter somente como um desabafo, uma crítica. Mas foi tomando uma proporção muito grande e fui vendo que as pessoas não liam que eu escrevi uma crítica, somente olhavam as fotos, achavam que era verdade e compartilhavam nas redes sociais”, conta.
O fotógrafo de 55 anos diz que não esperava tamanha repercussão, mas que o objetivo de causar sentimentos de indignação e revolta foi alcançado.
Até agora foram produzidas quatro fotos: um hambúrguer, uma melancia, um galeto e um pedaço de pizza, mas a ideia é produzir até 10 fotografias. Flávio prevê que até o final da semana deve concluir o trabalho. “Todas as fotos foram postadas no Twitter e quando a série estiver completa, serão postadas juntas no Instagram”.
Da ideia à execução
O pernambucano diz que todos os alimentos fotografados foram comprados e consumidos por ele: “O pedaço do hambúrguer, por exemplo, eu fiz, comi até a metade, produzi a foto e depois comi o resto”. “O galeto eu comprei, almocei e fiz a foto. Todos esses produtos eu mesmo que comprei e preparei”, esclarece.
Sobre a escolha dos alimentos, Flávio explica que “não teve um critério, mas a ideia era que fossem alimentos que causassem um impacto visual maior. Eu só vou tendo as ideias e vou executando”. Ele diz que a foto da sobra de hambúrguer foi a que mais viralizou, chegando a quase 1 milhão de visualizações.
Sobre a etiqueta fixada nas embalagens, o fotógrafo fez um cálculo de quanto custaria a sobra daquele alimento. Além disso, os pesos são reais, ele mesmo conferiu em casa.
Vida real
Fotógrafo desde 1996, Flávio contou ao Metrópoles que já presenciou pessoas passando fome, comendo calangos e ossos de animais, quando fez um ensaio no sertão nordestino no final da década de 90.
Apesar de sempre presenciar essa triste realidade, ele afirma que nunca passou fome. “Vim de uma família muito pobre. Teve uma época em que nós não comíamos carne, minha mãe substituía por banana. Normalmente, era ovo, pão, feijão e arroz. Mas nunca cheguei perto dessa situação de procurar por sobras”.