Enfraquecido, grupo lavajatista no Senado vê CPI da Lava Toga como distante
Para se criar uma CPI no Senado são necessárias 27 assinaturas (são 81 senadores), mas hoje é difícil chegar a 20 nomes apoiando a ideia
atualizado
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A vontade de investigar o Poder Judiciário, sobretudo as Cortes Superiores, sobrevive como ideia no Legislativo, mas com cada vez menos força e num compasso de espera por fatos novos que eventualmente possam trazer a pressão popular de volta. Com a consolidação da aliança do governo do presidente Jair Bolsonaro com o Centrão, a pauta lavajatista ficou definitivamente isolada no Congresso, e a proposta de criação de uma CPI da Lava Toga virou um sonho distante.
Apesar disso, os 20 parlamentares que se unem num bloco informal batizado “Muda Senado” se esforçam para manter o discurso sobre a necessidade de se investigar o Judiciário e a publicação de uma nota no blog do jornalista Guilherme Amado na última semana dando conta da desistência deles de insistir na CPI pegou mal entre os participantes.
Segundo a apuração do colunista, a desistência seria uma maneira de enfraquecer a campanha do atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para ser reconduzido ao cargo na próxima legislatura. Ao conversar com o Supremo, Alcolumbre teria argumentado que, se ele cair, poderia chegar ao cargo um dos integrantes do Muda Senado e pautar, além da CPI da Lava Toga, pedidos de impeachment de ministros das Cortes superiores.
Em conversa com o Metrópoles, um dos integrantes do grupo riu dessa versão. “Não temos votos para protocolar uma CPI, imagina para pleitear a presidência do Senado”, disse, pedindo para não ser identificado.
Para se protocolar um pedido de CPI no Senado são necessárias 27 assinaturas.
Num momento de maior prestígio do lavajatismo, no início do governo, o Muda Senado chegou a conseguir 29 assinaturas, em março de 2019, para investigar o “ativismo judiciário”. Sob o argumento de que a investigação criaria uma desnecessária crise entre Poderes, o então recém-eleito Alcolumbre conseguiu engavetar a ideia.
Desde então, o apoio formal à Lava Jato sofreu uma crescente erosão e os defensores da operação (a maioria ligados ao ex-ministro da Justiça Sergio Moro) foram ficando mais isolados.
O enfraquecimento do pedido de CPI teve como um dos protagonistas o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que tem todo o interesse em manter boa relação com o Judiciário.
A adesão à CPI da Lava Toga, portanto, conta hoje, quando muito, com 20 defensores.
Quando procurados pelo Metrópoles, a maioria dos integrantes do Muda Senado preferiu não se posicionar e informou que o grupo estudava soltar um comunicado sobre o tema – o que ainda não aconteceu.
A exceção foi o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que fez uma defesa enfática da necessidade da CPI e disse não crer em desistências. “Não tem o menor fundamento. É uma das pautas mais importantes do grupo que se abra essa caixa preta do Judiciário, único poder não investigado no Brasil ainda”, defendeu ele. “Sei que existe a crise de saúde, mas a maior de todas as crises que vivemos é a crise moral, da ética”, avaliou ele.
Para Girão, o assunto só está mais escanteado porque, nas sessões virtuais, o Senado tem focado nas pautas da pandemia. “Mas estamos pressionando, sempre falamos nisso nas sessões. E não negociamos, porque princípio não se negocia”, garante.