Enem: Inep ainda não tem questões inéditas e pré-testadas suficientes
Faltando seis meses para a aplicação das provas, documentos internos do órgão revelam incertezas a respeito da elaboração do exame
atualizado
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A cerca de seis meses da aplicação das provas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2022 (Enem), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) passa por um sufoco na preparação das provas. Documentos do órgão indicam que não há questões inéditas e pré-testadas suficientes, conforme determina o processo de elaboração, para a produção das duas provas — o exame regular e o Enem para Pessoas Privadas de Liberdade (PPL).
As provas são compostas por 180 itens nos quais a dificuldade é medida de acordo modelo de Teoria de Resposta ao Item (TRI). A metodologia é usada para evitar “chutes” e leva em consideração o percentual de acertos do candidato e o nível de dificuldade das questões. Nesse sentido, os pré-testes são feitos para medir a dificuldade das provas e garantir o nivelamento entre um exame e outro.
Os documentos, obtidos pelo UOL, mostram que o Inep tem conhecimento do problema desde o início do ano passado, quando servidores passaram a alertar sobre a falta de itens inéditos e testados. De acordo com o plano de ação, em março de 2022, estava prevista a realização de um pré-teste com 88 mil estudantes. No entanto, o Inep fechou a aplicação para 30 mil e somente 8,7 mil se inscreveram. Ao final, menos de 5 mil fizeram a prova.
Segundo a reportagem, o órgão esperava testar 26 cadernos de questões, mas conseguiu utilizar apenas sete. “Essa medida [teste de março] não supre a necessidade de realização de mais pré-testes no ano corrente para que haja disponibilidade de itens para a produção dos instrumentos do Enem a serem aplicados no biênio 2022/2023”, afirma o documento.
As provas do Enem 2022 estão marcadas para ocorrer em 13 e 20 de novembro, nas versões impressas e digitais. As inscrições estão abertas até o próximo dia 21.
Crise no Inep
O Inep enfrenta sucessivas crises frente à gestão do presidente Danilo Dupas. Em novembro do ano passado, às vésperas do exame, mais de 30 coordenadores pediram exoneração de seus cargos. Na época, os servidores enviaram um documento ao Tribunal de Contas da União (TCU) no qual consta uma série de denúncias, entre elas, acusações de assédio e de intervenção e risco ao sigilo da prova com o objetivo de propor modificações de cunho “ideológico” nos itens.
O presidente do órgão, Danilo Dupas, e o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, negaram qualquer interferência na prova. Ribeiro destacou ainda que o problema dos servidores não era técnico, mas econômico.
Em janeiro deste ano, logo após a conclusão da prova, Alexandre Avelino Pereira, diretor de gestão e planejamento do Inep foi exonerado. Pereira foi substituído por Jofran Lima Roseno, servidor cedido pela Controladoria-Geral da União (CGU).