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Enem 2023: 38,1 mil candidatos solicitaram atendimento especializado

Apenas 0,3% têm 60 anos ou mais e dos 38,1 mil atendimentos especializados apenas 64 solicitações são para deficientes auditivos

atualizado

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Agência Brasil
Na imagem, pessoa lê prova do Enem em braile
1 de 1 Na imagem, pessoa lê prova do Enem em braile - Foto: Agência Brasil

Neste domingo (12/11), quase 3,9 milhões de candidatos encaram o segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, com provas nas áreas de ciências da natureza (química, física e biologia) e matemática. Destes, 38,1 mil solicitaram atendimento especializado para o teste. A opção é destinada a pessoas que se enquadram em alguma das condições que dão direito a recursos de acessibilidade para realizar as provas.

 

De acordo com o relatório feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do contingente que solicitou o atendimento especializado, 64 estão na condição de deficientes auditivos.

“Eu tive muita dificuldade com as disciplinas de português, filosofia e sociologia, porque esse ano faltou professor dessas disciplinas”, conta Cauã Henrique de Souza, que é surdo e realizou o Enem pela primeira vez.

Na foto, Cauã sorri usando a blusa do ensino público do DF
Cauã cursa o terceiro ano do ensino médio na Escola Bilíngue de Taguatinga

Cauã cursa o terceiro ano do Ensino Médio na Escola Bilíngue de Taguatinga – única desse tipo em todo o DF – e quer fazer faculdade de Ciências da Computação. Na opinião dele, fazer o Enem é importante para os surdos, mas essa ainda não é uma prova inclusiva.

“Os textos eram muito grandes e alguns sinais na vídeoprova eram diferentes dos que eu conheço, porque ela foi idealizada em outra cidade e é normal ter essa variação. Além disso, tinham muitas questões subjetivas que eu tinha que interpretar e que, no português, isso é mais difícil”, explica o jovem. 

Desde 2017 a videoprova do Enem em Libras é um recurso oferecido pelo Inep. Nela, as questões e as opções de respostas são apresentadas na Língua Brasileira de Sinais (Libras) por meio de um vídeo. Apesar disso, o surdo ainda tem que ler todas as questões e as responder em português, além de associar a língua escrita à de Libras presente no vídeo, que, muitas vezes contém sinais com variações linguísticas regionais – e, para Cauã, isso foi um desafio.

Rachel Ferro de Carvalho, 45 anos, é intérprete de Libras e professora. Ela é uma dos 718 profissionais tradutores e intérpretes do Enem 2023 e foi a responsável por acompanhar Cauã durante a prova. Essa é a terceira vez que ela realiza esse trabalho. “É muito bom e interessante e ajudar essa comunidade que é tão prejudicada é melhor ainda”, conta a professora.

Segundo Rachel, a acessibilidade ainda é uma questão que deve ser trabalhada na estrutura do Enem. “Tinha que ter uma avaliação mais adaptada para os surdos e à realidade deles. Mesmo a Libras sendo a segunda língua, ainda existe a dificuldade. Acho que acaba ficando difícil de acompanhar entre Libras, vídeo Libras e o português escrito”, opina.

Na foto, a professora interpreta em libras
Rachel já trabalhou no Enem como interprete de Libras três vezes

Porém, para ela, essa não é uma falha exclusiva da prova, mas o reflexo da educação surda no país. “Eles já chegam no ensino médio com uma defasagem muito grande, porque na primeira infância não conseguiram ter uma boa desenvoltura na comunicação. Falta incentivo a ter a Libras como primeira língua e português como segunda. Hoje as duas línguas são misturadas e isso prejudica o surdo.”

Escola bilíngue

Sobre a Escola Bilíngue de Taguatinga não ter professores das disciplinas de português, filosofia e sociologia na linguagem de Libras, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) afirmou em nota que, recentemente, a escola realizou uma reorganização interna para garantir aos estudantes a oferta educacional e conteúdos pedagógicos adequados. 

Além disso, a Secretaria diz que todos os professores que integram seu quadro passam por uma banca de avaliação para comprovar habilitação e aptidão antes de ingressarem no corpo de servidores.

Confira a nota: 

“A Secretaria de Educação do Distrito Federal informa que a Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga é uma unidade que se destaca pelo excelente atendimento aos estudantes. Todos os professores que integram seu quadro passam por uma banca de avaliação para comprovar habilitação e aptidão antes de ingressarem no corpo de servidores.

Recentemente, a escola realizou uma reorganização interna para garantir aos estudantes a oferta educacional e conteúdos pedagógicos adequados. Como parte dessas mudanças, os componentes curriculares de Língua Portuguesa, Filosofia e Sociologia estão sendo ministrados por professores especializados em Libras (Língua Brasileira de Sinais), assegurando uma educação inclusiva e acessível aos alunos.”

Até a finalização desta matéria o Metrópoles não obteve resposta em relação ao método de ensino brasileiro adotado nas escolas para os surdos. O espaço permanece aberto.

60+ no Enem  

Valdir Correa Viana é um mineiro de 61 anos, mas, desde os 19 mora em Brasília. Ele é funcionário público e todos os dias depois do trabalho, das 19h às 23h, vai até o Centro Educacional 2 (CED 2), em Taguatinga Sul-DF, cursar o Ensino Médio através do Ensino para Jovens e Adultos (EJA). “Eu tinha feito até o primeiro grau, mas aí, como eu adquiri família, eu priorizei eles”, conta.

Esse ano ele termina a escola, mas 2023 se torna mais especial por outro motivo: é a primeira vez que Valdir faz o Enem. “Você acredita que eu nem fiquei nervoso?”, ele revela, ainda surpreso.

Valdir
Com o Enem, Valdir espera realizar o sonho de cursar terapia medicinal ou biomedicina

“Meu primeiro semestre de volta à escola foi um pouco difícil porque eu estava há muito tempo fora de sala de aula e o ensino mudou muito, eu tive dificuldade”, desabafa Valdir. Mas o apoio da família, da escola e dos professores o motivou a continuar. “Com o tempo percebi que realmente estava aprendendo e isso me deu confiança. Meus professores são excelentes, por isso resolvi fazer o Enem, porque eles ensinam bem”. As inscrições para o EJA terminam neste domingo (12/11) e pode ser feita site da Secretaria de Educação do DF (SEEDF). 

De acordo com o relatório feito pelo Inep, dos mais de 3,9 milhões de inscritos no Enem 2023, apenas 0,3% tem 60 anos ou mais. Apesar de baixo, o número representa mais de 11 mil participantes, valor que cresceu cerca de 86.44% desde a última prova.

Mesmo com a dedicação, Valdir conta que achou a prova difícil, mas que se sente satisfeito com o próprio desempenho. “Se para um jovem já é cansativo, imagina para uma pessoa de 61 anos. Tem que ler muito, você fica cansado, ansioso, é uma prova longa. Mas estou feliz, acho que fui bem e estou com uma boa expectativa para domingo”.

Com o Enem, Valdir espera realizar o sonho de cursar terapia medicinal ou biomedicina. Ele vê no estudo uma forma de aprender e ocupar o tempo ocioso. “Eu terminei o segundo grau, e agora, mais do que nunca, sinto a vontade de avançar mais. Não vou ter aquela velhice sentada em cima da cama na frente da televisão. Eu vou ter algo importante para fazer para mim e para ajudar as pessoas. O meu intuito é esse”, diz o estudante.

“Só de participar com a minha idade, com a ajuda dos professores e da família, eu me sinto realizado. Se eu não passar, tá tudo certo, não tem problema, eu faço de novo depois. Mas pra mim foi uma experiência única”, finaliza Valdir.

O primeiro dia

No primeiro dia de exames, no último domingo (5/11), as provas aplicadas foram de linguagens e ciências humanas, além da redação, que teve como tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.

As questões envolveram temas como a Palestina, desigualdades como machismo e racismo, inclusão e diversidade, preconceito linguístico, ditadura militar e mudanças climáticas.

Os escritores Itamar Vieira Júnior e Conceição Evaristo também foram citados, assim como a música Alegria, alegria, de Caetano Veloso. O educador Paulo Freire, forte alvo de críticas por parte de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), também esteve entre os temas abordados pelo Enem.

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