Investigado, empresário batiza cavalos em “homenagem” à Lava Jato
Entre os 733 animais registrados no nome do empresário, estão Denúncia, Milionário, Lobista, Mentor, Mentiroso, Curitiba e Curitibanos
atualizado
Compartilhar notícia
Após cumprir 100 dias de prisão preventiva na Itália, Aldo Vendramin, investigado na Lava Jato, voltou a administrar seus negócios normalmente logo que foi liberado para retornar ao Brasil, há pouco mais de três meses. Dono da Consilux Tecnologia, mantém uma fazenda milionária em Palmeira, no Paraná, desde 2006. No local, o empresário cria cavalos crioulos para lida no campo e melhoramento genético. Os animais participam de competições de altos valores e, somente no ano passado, foram reconhecidos em 15 premiações.
Entre os 733 bichos do fazendeiro registrados na Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), alguns foram nomeados com a intenção de alfinetar investigações jurídicas relacionadas à Operação Lava Jato. Por exemplo, o Milionário da Vendramin-te, o Denúncia de Los Campos, o Curitiba de Los Campos e Curitibanos de Los Campos. O Curitiba foi apresentado nesta semana na feira agropecuária Expointer, em Esteio (RS), como mostra a imagem.
O segundo nome do cavalo é chamado de afixo, que representa a fazenda proprietária do animal. No próprio site da empresa, Aldo explica que, inicialmente, o afixo utilizado era o Los Campos, mudando posteriormente para uma referência de seu nome. Ao todo, são 58 animais registrados com Los Campos e 81 com Vendramin-te. E 624 carregam o sobrenome do empresário.
Além dos mencionados, há os cavalos Delegado, Flagrante, Comparsa, Comparsita, Grileiro e Ladrona. Na lista dos nomes, mais alfinetadas: Juíza, Julgamento, Júri, Justiceira, Julgada, Justiça e Excelência. Os animais Lobista, Mentor, Oportuna e Mentiroso foram igualmente registrados com o afixo do empresário. No rol dos bichos, aparecem ainda Descoberta, Indireta, Disfarçada, Fugitivo e Lícito.
Aldo teve o nome incluso na lista da Interpol a pedido da justiça venezuelana, que o acusava de crimes de corrupção. Apesar de responder no país sul-americano, o empresário cumpria pena na Itália devido a um tratado judiciário entre as duas nações.
Investigado e preso pela Lava Jato, o criador de cavalos foi solto por falta de provas que o mantivessem na cadeia. Em seguida, voltou para o Brasil. Ao depor, Aldo contou que, em 2011, procurou José Dirceu para garantir acesso privilegiado a Hugo Chávez, então presidente da Venezuela, e assim evitar atraso no pagamento por serviços prestados. A empresa Consilux fechou contratos e aditivos de US$ 416 milhões com o país vizinho para erguer casas populares, na versão venezuelana do programa Minha Casa Minha Vida. Pela consultoria, também com base nos relatos do empresário, a Consilux pagou R$ 1,22 milhão a Dirceu.
O contato direto do empresário com o ex-presidente da Venezuela foi intermediado pelo ex-ministro dos governos petistas José Dirceu. “Dirceu me levou a Chávez e o dinheiro começou a sair”, disse em 2015. “O José Dirceu me levou três vezes para conversar com o Chávez pessoalmente, e depois disso o dinheiro começou a sair mais rapidamente”, revelou Aldo Vendramin, na época. O pagamento ao ex-ministro se deu por meio da empresa de consultoria do ex-chefe da Casa Civil, a JD Assessoria e Consultoria Ltda., investigada pela Operação Lava Jato como via de pagamento de propina de empreiteiras a Dirceu.
Uma das conclusões dos investigadores venezuelanos é de que empresas brasileiras irrigaram campanhas políticas tanto de Hugo Chávez quanto de seu sucessor, Nicolás Maduro.
De acordo com Renata Bueno, uma das advogadas de defesa de Aldo, o processo referente ao seu cliente corre há pelo menos 10 anos na Justiça. Ela conta que o empresário não sabia das alegações contra sua pessoa. “Foi muito complicado, com uma espécie de extorsão do ex-parceiro local, que tinha contratos com o governo venezuelano, dando a entender que ele não teria cumprido com algumas questões de repasse”, argumentou.
Também foi possível encontrar no site da ABCCC os cavalos Invencível, Liberdade, Influência, Guerrilheira, Honra e Honesta. Os animais Jogo Duro, Defensor e Jogo Limpo e Ditador também compõem a lista.
A reportagem tentou contato com a defesa de Aldo Vendramin, mas não foi atendida.