Empresária do agro em MT usa fantasia “blackface”, considerada racista
Carolina Scheffer usou fantasia de “nêga maluca” em festa à fantasia realizada em Cuiabá no último sábado
atualizado
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Uma grande empresária do agronegócio brasileiro usou tinta escura e roupas espalhafatosas para se fantasiar de mulher negra em uma festa em Cuiabá (MT) no último sábado (20/8), numa prática chamada “blackface”, ou “cara negra”, em inglês, que remete ao período em que havia segregação racial institucionalizada nos Estados Unidos, até meados do século 20.
A gaúcha Carolina Scheffer (imagem em destaque) fundou em Mato Grosso, ao lado do marido, Elizeu Scheffer, o Grupo Scheffer, que hoje atua no ramo da agricultura sustentável e planta algodão, soja e milho, além de atuar na pecuária, mineração e armazenamento de grãos. Faz parte da família também o maior produtor de soja do mundo, Eraí Maggi Scheffer.
Na festa à fantasia, a empresária se maquiou e se vestiu como “nêga maluca”, usando também uma peruca crespa e deixando os lábios bem mais grossos usando batom vermelho.
A advogada e ativista Josefina Serra dos Santos, que foi a primeira diretora da Comissão de Igualdade Racial da OAB-DF, diz que a prática de brancos pintarem o rosto de preto é racista e desumaniza a população negra.
“O que esse tipo de ‘fantasia’ mostra é que quem usa está ridicularizando a população negra. Nos humilhando, dizendo para a sociedade a que ela pertence que negros são feios, toscos. Ela demonstrou todo o seu racismo”, afirma a advogada, que explicou ainda que o contexto festivo em que a empresária usou a fantasia foi conceituado pelo autor Adilson José Moreira como “racismo recreativo”.
“Para que os brancos possam rir, se divertir, os negros sofrem a violência de ser desumanizados”, lamenta Josefina Santos, que critica ainda a atitude dos demais convidados da festa, que conviveram pacificamente com um ato racista.
O uso da fantasia blackface pela empresária, aliás, só se tornou público para o resto dos brasileiros porque ela própria postou imagens da festa em suas redes sociais. Veja:
A empresária bloqueou o acesso às suas redes sociais após começar a ser cobrada por internautas indignados.
Após a publicação desta reportagem, a empresária enviou um posicionamento ao jornalista e mostrando arrependimento.
“Lamento pelo uso de uma fantasia durante uma festa em Cuiabá. Não tinha a dimensão do seu significado, e agora compreendo ser ofensiva, mesmo sem qualquer intenção de gerar esse sentimento. Estou sensibilizada com a repercussão, e comprometo-me a estudar sobre o tema com a devida atenção e continuar buscando novos conhecimentos sobre um assunto tão relevante ao país”, disse Carolina Scheffer.
A história do blackface
A prática de brancos se fantasiarem de negros de forma caricata e pejorativa começou nos Estados Unidos, na virada do século passado, quando os negros eram proibidos de frequentar teatros destinados a brancos.
Como os negros também eram impedidos de atuar, costumavam ser representados por brancos com o rosto pintado e com maquiagem para alargar lábios e nariz.
A prática foi copiada produções culturais em outros países, inclusive no Brasil, até se consolidar a visão de que é uma atitude racista.