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Empresa de intercâmbio dá calote de R$ 600 mil em estudantes

Suposto golpe da agência IPB Intercâmbio fez vítimas em vários estados brasileiros, além do Distrito Federal

atualizado

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Rachel Gomes em dublin
1 de 1 Rachel Gomes em dublin - Foto: Imagem cedida ao Metrópoles

Estudantes de várias localidades do Brasil, incluindo o Distrito Federal, tiveram o sonho de estudar fora do país frustrado após uma série de problemas com a empresa contratada, a IPB Intercâmbio, com sede em São Paulo. Os clientes a acusam de golpe, falta de assistência e de ter “sumido com o dinheiro” sem qualquer prestação dos serviços contratados. O prejuízo somado já ultrapassa os R$ 600 mil.

A estudante brasiliense Rachel Gomes, 26 anos (foto em destaque), formada em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), criou um grupo no WhatsApp com vítimas da empresa. Entre os 90 participantes, além de alunos do DF, há pessoas do Ceará, Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Minas Gerais e São Paulo.

Os valores desembolsados para a realização de cursos não entregues variam de R$ 4 mil a R$ 29 mil, em destinos da Europa e da América do Norte. Os contratos sobre os quais pairam suspeitas de irregularidades foram firmados entre outubro de 2018 e janeiro de 2019, e o período de aulas para o estudo de idiomas podia ser de um mês a um ano.

Rachel Gomes desembolsou R$ 12 mil para estudar em Dublin, capital da Irlanda. Ela fechou o pacote em outubro de 2018, com a promessa de embarcar em fevereiro de 2019. “Eu planejei, guardei dinheiro durante muito tempo, vendi meu carro e me privei de muita coisa para realizar meu sonho”, descreve a estudante. Após perder o dinheiro, ela pagou por fora para conseguir fazer o curso.

Veja o contrato assinado:

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Contrato firmado entre a estudante brasiliense e a empresa paulista
Contrato firmado entre a estudante brasiliense e a empresa paulista
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Contrato firmado entre a estudante brasiliense e a empresa paulista

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Irregularidades e vaquinha virtual
Rachel só descobriu que havia sido vítima de um golpe ao desembarcar na Irlanda, onde descobriu, na escola onde estudaria, que a matrícula nunca foi efetivada. Antes de viajar, ela chegou a receber um aviso da empresa de que seria transferida da Dublin Centre of Education (DCE) para a escola Liffey.

Em áudios trocados com um representante da escola Liffey, para onde ela seria transferida, o atendente foi categórico ao dizer que a carta de matrícula enviada pela empresa era falsa.

Quando cheguei lá, nem sabiam quem eu era. Então, comecei a desconfiar de que a carta enviada pela IPB para a instituição era falsa. Agora, tenho certeza

Rachel Gomes

A jovem diz que, antes de contratar o pacote, tomou todos os cuidados, como consulta ao CNPJ da empresa, conversas com pessoas que já viajaram pela IPB e pesquisas em sites de reclamação. “Meu mundo caiu ao perceber que eu havia sido roubada. Com medo de ser deportada, omiti de todos o que eu realmente estava passando”, conta.

Rachel precisou apelar a amigos e à família para se manter na Europa. “Peguei dinheiro emprestado para pagar o curso. Agora, estou sem recursos, devendo muita grana e me sentindo péssima. Apesar de tudo, ainda tenho fé de que vou conseguir superar tudo isso e aproveitar essa experiência que eu tanto planejei e desejei.” Hoje, ela tenta atendimento na embaixada brasileira em Dublin, mas ainda não conseguiu agendar horário.

Dividindo um apartamento com mais seis meninas na capital irlandesa e dívidas acumuladas, Rachel lançou uma vaquinha virtual para tentar quitar os empréstimos e acionará a Justiça para recuperar os valores investidos no intercâmbio frustrado, bem como exigir uma reparação pelo dano moral causado.

Prejuízo de quase R$ 30 mil
Formado em física e engenharia civil, J.S. desembolsou R$ 29 mil para passar um ano estudando inglês em Fort Lauderdale, na Flórida, Estados Unidos. Nesse valor, estão incluídos o curso de 22 horas semanais e todas as taxas da instituição de ensino, bem como o material didático. A hospedagem seria paga à parte.

O dinheiro desembolsado é fruto de anos de economia de salários, e o engenheiro chegou a pedir demissão para passar o ano estudando nos Estados Unidos.

J.S. foi um dos responsáveis por “forçar” uma negociação com a empresa. Diante da enxurrada de casos de estudantes lesados, os canais de comunicação da IPB ficaram congestionados. “Ameacei jogar meu carro dentro da agência. Foi quando me deram atenção”, conta o jovem que pediu para ter o nome preservado.

Moradora de Guarulhos (SP), a turismóloga Carolina Camargo, 30 anos, procurou a empresa e pagou R$ 7.200. Devido a problemas financeiros, solicitou a rescisão contratual e o reembolso. Passados os 90 dias dados pela empresa para o depósito, nenhum valor caiu na conta da estudante. “Entendi que eles ficaram com 30% do valor e me devolveriam R$ 5.040, mas não me pagaram nada”, reclama.

“Foi aí que dei entrada no Procon, fiz todos os processos de levar as intimações e ir à audiência no último dia 29 de março, mas ninguém da empresa compareceu. Agora, vou para o Tribunal de Pequenas Causas atrás dos meus direitos”, afirma.

Empresa alega ter sido vítima de golpe
A agência IPB é conhecida no ramo de intercâmbio e, até então, gozava de boa reputação, procurada por alunos de todas as regiões do país. No Facebook, mais de 282 mil pessoas já curtiram a página. No principal site de reclamações do Brasil, o Reclame Aqui, todos os casos não resolvidos foram registrados a partir de outubro de 2018, o que coincide com o início da crise.

O sócio majoritário da empresa, Gabriel Tavares, atribui a crise a um problema com os antigos donos da empresa, que há mais de 10 anos se mudaram para a Irlanda e possuem escolas por lá. Ele diz que, até então, fazia parte de uma sociedade como membro minoritário da IPB e trabalhava na agência como funcionário.

De acordo com Tavares, os antigos proprietários o fizeram de “laranja” ao passar para ele o controle da companhia. Em dezembro de 2018, na ocasião da transferência de propriedade, conta Tavares, os ex-donos retiraram R$ 350 mil da conta da empresa para repassar às escolas que possuem na Irlanda. “Eu e os outros funcionários estamos registrados na empresa até hoje. Sequer foi dada baixa na Carteira de Trabalho”, diz.

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Escritório da empresa em São Paulo está fechado desde o dia 3 de abril

 

Negociação
Após as vítimas se organizarem no grupo de WhatsApp, Tavares prometeu intermediar um acordo com os antigos donos, que deve ser negociado na próxima segunda-feira (15/4).

Desde o dia 3 de abril, a loja em São Paulo está de portas fechadas, e os telefones da empresa não atendem mais. O principal contato entre as pessoas que foram lesadas e as empresas ocorre por meio do grupo de WhatsApp.

Nas redes sociais, a agência divulgou um comunicado dizendo passar por dificuldades operacionais e suspendeu as vendas de novos pacotes até a situação estar normalizada. “Reforçamos que a empresa está solucionando todos os casos de clientes que possuem contrato ativo para que possam usufruir do seu pacote de viagem”, diz o informativo.

A reportagem não conseguiu contato com os antigos sócios da empresa.

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